Capítulo 63

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Nos dias que se seguiram minha vida voltou à sua rotina, eu ia de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. Desde que Bruno começou sua turnê pela Europa eu não havia saído mais, me faltava ânimo e ninguém me cobrava por isso. A partir de então, Sandy e Tiara passaram a fazer a "noite das meninas" uma vez por semana, era a forma que elas haviam encontrado de me manter bem e sã. Alex, por sua vez, ia à minha casa quase todas as noites, com exceção da noite em que era reservada para minhas amigas e eu. Meus amigos estavam me dando forças pra uma coisa que nem eu sabia que ia me abalar tanto. Meu trabalho continuava a mesma coisa tediosa de sempre, vez ou outra, eu me pegava trocando e-mails com Bruno durante os períodos que eu ficava ociosa durante o expediente. Eu me esforçava para continuar ali até arrumar um emprego melhor que aquele.

Certa manhã, havia acordado cedo para ir trabalhar, minha empolgação estava escondida dentro do bolso. Era cedo ainda, não passava das cinco da manhã, ainda dava tempo de me arrumar com calma e comer algo. O tempo em Nova York, começava a abrir, a neve começava a derreter cedendo espaço para os gramados verdes que renasciam mostrando que a primavera se aproximava. Tomei banho me lavando os cabelos revelando suas ondulações naturais, resolvi deixa-los assim por aquela manhã. Me vesti de forma simples tentando parecer mais feliz do que realmente estava.

Demorei vinte minutos para conseguir pegar uma condução que me levasse ao outro lado da cidade onde eu trabalhava e consecutivamente cheguei atrasada. Fui advertia, se me atrasasse novamente minha situação se complicaria e eu poderia perder o emprego. Os administradores e superiores não entendiam, ou fingiam não entender que eu morava longe do serviço, dependia de transporte público e muitas vezes ficava esperando uma condução por intermináveis minutos.

Durante meu horário de almoço liguei para meu irmão no Brasil. Sentia falta de Taylor, cada dia mais desejava que ele voltasse para San Diego para que nos víssemos com a mesa frequência de antes. Ouvir sua voz foi como me deitar em uma cama com cobertor felpudo numa noite de frio, a sensação que me dominava era a mesma de uma pessoa que volta pra casa depois de dias fora.

Taylor – Você está triste. O que aconteceu? – Até por telefone ele sabia quando algo me inquietava.

Ashley – Nada. Só to sentindo necessidade de ficar quieta no meu canto.

Taylor – Você sabe que isso vai te levar a depressão e não quero te ver naquele estado de novo.

Ashley – Não é depressão, preciso me dedicar a mim mesma, me redescobrir, me reinventar... – Suspirei. – Achar o que falta!

Taylor – Pode chamar isso como quiser, mas eu não quero te ver mal.

Continuamos nossa conversa enquanto eu almoçava, Taylor me contava de tudo que estava acontecendo com ele no Brasil e eu ouvia com entusiasmo. Eu não queria falar de minha vida, queria apenas ouvir sua voz e perceber que ele estava bem.

Pela noite, já em minha casa, voltei ao meu submundo particular. Desde que Bruno havia ido embora, nos falamos poucas vezes pelo telefone e trocamos e-mail quase todos os dias; tentávamos suprir nossa ausência da maneira que podíamos, mas aquilo não era o suficiente pra mim. A ausência dele me levou a um abismo que não pensei que pudesse chegar, isso aflorou meu lado obscuro deixando transparecer meus fantasmas e minhas sombras. Havia um lado meu que eu nunca deixava aparecer na frente dos outros, e agora era inevitável me esconder atrás da máscara de uma pessoa feliz enquanto no meu interior eu não tinha essa certeza. Minha mente se conflitava eu precisava ficar bem e queria que isso acontecesse, mas meu interior me puxava pra baixo em direção a um fosso profundo. Eu me sentia esgotada em todos os aspectos, que me sentia incompleta e não sabia o que faltava. Minha cabeça girava a mil, acabei dormindo assim, em estado de conflito interno. Desejava cada vez mais ser uma pessoa menos complicada, mas não sabia como ser assim, meu choro era profundo e sentido, mas não brotavam lágrimas de meus olhos.

Somewhere in BrooklynOnde histórias criam vida. Descubra agora