Traumas do passado +18

Capítulo 31: FUNCIONÁRIO

SAMMY

Quando cheguei no estúdio, Paolo já estava lá. Jogo a chave pra ele que pega e abre o local.

Ele como eu, era reservado! Mas ele era eficiente e bom no que fazia. Atendia os clientes com um grande sorriso no rosto, era bom de lábia e fazia suas tatuagens com paixão.

Ele era alto, forte, com cabelos compridos e cacheados. O rosto carregava traços fortes. Seus lábios eram carnudos e seus olhos eram pretos, como uma noite sem estrelas.

Uma pele negra perfeita, que chamava a atenção de quem passassem por ele.
Daniel disse que ele era hétero, mas que sua esposa era uma mulher trans!

Queria saber quem iria trabalhar comigo, então eu pedi que ele me contasse um pouco da sua história.

Por ser uma pessoa negra na sociedade, ele sofreu muito racismo! Mas que lutou para que todos os seus direitos fossem garantidos ao longos dos anos.

Mas que tudo piorou quando se apaixonou por uma garota trans. Ele foi julgado pelas pessoas a sua volta, e o pior foi pela aqueles que ele chamava de amigos e família.

Literalmente ninguém aceitou o fato de ele ter uma mulher trans como esposa.

Eles tiveram que sair de sua cidade natal, porque não aguentava mais os ataques de pessoas próximas a eles.

Ele não sentiu muito por ter se afastado daquelas pessoas que não se importavam com eles como seres humanos.

Mas sua esposa não pensava assim! Ela era nova e inexperiente, não tinha ninguém na época, Paolo foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela.

Tinha perdido sua família quando ainda era uma adolescente! Mas vê o seu grande amor se afastar de sua família por causa dela, a destruiu por dentro.

Demorou bastante para que ela pudesse entender que a única pessoa que importava para ele, era ela.

Ao longo dos anos eles foram se estabelecendo na cidade e logo abriram um estúdio.

Deu muito certo, pois não tinha concorrente na época e eles ganharam muito dinheiro se tornaram um casal muito feliz.

Mas como tudo na vida. Acontece coisas inesperadas e que a gente não espera.

Sua esposa pegou um câncer e ficou muito doente e para que ela pudesse fazer o tratamento, ele precisou vender tudo.

E começar de baixo era a única solução que ele tinha para continuar seguindo em frente.

Para poder dar um bom conforto para ele e sua mulher ele não ia desistir!

E essa sua confiança e vontade de sempre alto se superar encher o meu coração de esperança para o mundo melhor.

Saber que ainda existia homens como ele, realmente me dava uma nova visão para o mundo.

Eu queria ajudá-los a passar por isso, eles realmente mereciam ser felizes.              

Daniel novamente estava frustrado, parecia indignado. O fato de ter que amadurecer já o estava afetando!

— acredita que eu vou ter que tirar meus piercing? – Ele fala com uma tristeza exagerada. Como eu rio alto.

Ele tinha piercing na sobrancelha, no nariz, no lábio, na língua, em um dos bico dos seio e no umbigo! Eu que coloquei cada um.

— Sim, eu acredito, você acha que alguém realmente te contrataria desse jeito? – Infelizmente muitas empresas não aceitava seus funcionários de determinadas maneiras.

— isso é preconceito e descriminalização, deve ter um artigo pra isso..! – Ele fala frustrado e eu gargalho com vontade.

Eu não estava conseguindo levar ele a sério. Sei que isso tudo talvez tivesse importância pra ele... mas acho que ele devia se dá uma chance de mudar.

— Você me mata de rir, sabia? – Falo ainda rindo.

— É sério! Ainda vou ter que tirar o platinado do cabelo! – Ele fala com raiva.
— Isso é tão mínimo amigo, você tá chorando por pouco... ou você prefere fazer direito, aí você vai saber usar os artigos ao seu favor. – Eu falo rindo e ele faz bico e nega com a cabeça.

— Dessa vez eu vou ter que fazer dá certo, eu não quero decepcionar meus pais, eu tenho que crescer. – Ele afirma com pesar.

— Eu concordo, tá na hora de você mostrar que todos os esforços deles não foram em vão. Eles te amam e só querem seu bem. – Digo o incentivando a não desistir.

— Eu sei... a propósito, eu falei com minha mãe e ela ficou tão feliz em saber que vamos voltar para casa. Vamos voltar domingo. Ela disse pra levar só o que era realmente importante. – Ele me lembra que vamos nos mudar.

— Nossa, como eu vou sentir falta desse lugar. – Já me encontrava em plena melancolia.
— eu também amigo, foi aqui que eu sentir que tinha liberdade. – Ele fala me abraçando e eu retribuo o gesto.

Nós estávamos em minha cama e já era tarde da noite.

— Vamos dormir, se não eu vou acabar chorando! – Falo já sentindo uma ardência nos olhos.
— Eu posso dormir com você? – Sua voz era triste também.

Confirmo com a cabeça e me aconchego nos seus braços, tentando relaxar meu corpo.