Capítulo 79: IRMÃ

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SAMMY

A pouco tempo tínhamos acabado de finalizar a segunda etapa das tatuagens dos nossos clientes e eles já tinham ido embora. Incrível que pareça, terminamos antes do que achamos que íamos terminar. Eles ficaram muito satisfeitos pelo o resultado.

Eles eram um casal de noivos que queriam fechar as costas com tatuagens enormes. As tatuagens eram parecidas, a não ser pelo nomes. Um usou o nome do outro em uma declaração de amor.

— Estou morto de fome, vou sair pra comprar algo pra gente comer. Vai querer algo específico? – Paolo perguntou se prontificando. A única coisa que comi hoje foi meu café da manhã! E já passava das 13:00 horas. Quando vou responder o sino toca, chamando nossa atenção.

Quando uma versão mais nova de mim entra no estúdio! Por um momento, ficamos apenas nos encarando. Os dois com cara de choque, até eu ir em sua direção e abraçá-la forte.

— Hannah! O que você está fazendo aqui? Como conseguiu me achar? – Pergunto Já com lágrimas nos olhos. Minha irmãzinha, era ela mesma!

— Sammy, meu irmão. Como esperei por esse momento! – A gente parece duas crianças chorando. Nos abraçamos novamente e ficamos assim por algum tempo.

Até eu pegar em seu rosto para enxugar suas lágrimas teimosas e ela fazia o mesmo em mim. O som de choro e risos se misturavam. Quando finalmente conseguimos nos controlar ela fala.

— Sammy você tem que vir comigo, é caso de vida ou morte! – O pânico em seu rosto foi de partir meu coração e em um impulso de poder amenizar seu medo, eu apenas a seguir enquanto ela me puxava pelo braço, pra fora do estúdio.

— Sammy você tem que vir comigo, é caso de vida ou morte! – O pânico em seu rosto foi de partir meu coração e em um impulso de poder amenizar seu medo, eu apenas a seguir enquanto ela me puxava pelo braço, pra fora do estúdio

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Estávamos sentados em cadeiras de um hospital. Ela contou como seu pai tinha parado ali. Em uma perseguição policial, ele acabou levando um tiro, onde perdeu muito sangue.

Ele apenas pode receber transfusões do mesmo grupo sanguíneo. Que no momento estava em falta e teria que vim de outro lugar, só que iria levar tempo, um tempo do qual ele não tinha.

— Você precisa ajudar ele! Se não ele vai morrer, você entende Sammy? – Ela pergunta depois de um tempo. Nego com a cabeça. Não era para eu estar aqui! Porque isso estava acontecendo comigo?

Eu não poderia ter um surto de pânico agora, eu não podia! Tento puxar o ar, tentando controlar minha respiração. Tentar fazer as lembranças não me consumirem.

— Você não vai ajudar não é? – Sua voz de decepção não passou despercebido por mim! Mas como ela ousa pedir uma coisa dessa pra mim? Mas então ela continua a falar.

— Não foi o suficiente você nos abandonar por um traficante não é? Você me abandonou! E agora você vai deixar nosso pai morrer?– Sua voz chorosa e carregada de mágoa me acusa sem nenhum pudor. Olho pra ela como se ela tivesse duas cabeças.

Mas não tive tempo de assimilar nada do que ela disse, porque tudo em seguida piorou em um nível que eu não sabia se conseguiria lidar. Eu só queria não estar passando por isso!

— Hannah... o que fez? Você não podia me escutar pelo menos uma vez? – Aquela voz! Eu não queria ouvir essa voz. Aquela mesma que disse que eu era um doente por ser gay!

— O que a senhora queria que eu fizesse? Eu tinha que tentar! – Minha irmã se justifica.
— Você nem sabe se o sangue dele é limpo! – Eu ainda não tinha olhado em sua direção, mas quando olhei, deixei bem claro meu desprezo pela ruiva que estava na minha frente agora.

— Meu sangue deve ser mais limpo que o seu, que dava pro pastor da igreja! Vocês usavam proteção? – Cuspi as palavras em sua cara. Ela levanta a mão pra me bater, mas Hannah se mete entre nós dois. Eu me levantei da cadeira pra mostrar que eu não tinha medo dela. Eu não queria demonstrar nada.

— Irmão não fala assim, por favor. – Do jeito que ela falou, aposto que ela sabia também. Que sua mãe tinha um amante.
— Como ousa falar assim comigo? Eu ainda sou sua mãe! – Como ela tem coragem de falar exatamente essas palavras? Uma risada sem vestígio de humor escapou da minha garganta.

—Minha mãe? Você não foi minha mãe quando eu implorei de joelho para voltar pra casa! Quando eu fui abusado pelo simples fato de ser expulso de casa pelo seu marido, por eu apenas ser gay! – Joguei em sua cara com as lágrimas descendo cada vez mais pelas minhas bochechas. Queria simplesmente dar as costas e sair dali, mas continuei falando, mostrando toda a minha tristeza.

— Você não me deixou nem chegar perto da minha irmãzinha, não se comoveu quando eu supliquei! E pela forma que está me tratando, você conseguiu colocar a cabeça no travesseiro e dormir muito bem né? – O pior foi isso, ver que não tinha uma sombra de arrependimento em seu olhar.

— Mãe! Isso é verdade? – Hannah pergunta com um fio de voz escapando por entre seus lábios.
— Eu não sabia! Eu juro que não sabia Sammy, se eu soubesse, jamais teria ido atrás de você... eu juro que não! – Ouvi a culpa na voz da minha irmã me partiu mais ainda o coração, mas ela tinha que saber que eu não a abandonei.

Um silêncio tinha se estalando no lugar e estávamos distraídos quando um médico sai da sala ao lado, pela sua cara ele não trazia boas notícias. Ele olha para o grupo de ruivos que o encarava de volta.

— Senhora Garcia, conseguimos controlar a hemorragia, mas ele precisa urgentemente de transfusão de sangue. Estamos fazendo o nosso melhor, mas não sabemos quanto tempo ele vai suportar a espera de sangue compatível! – Eu poderia dar as costas pra tudo isso sem sentir um único peso na consciência? Sim eu poderia.

Mas a verdade era que eu não era como eles e não queria ser comparado com tais. Então acabei me oferecendo como doador. Mas nada tinha a ver com eles e sim, porque não queria ser medido com a mesma régua que as deles.

Depois da doação de sangue, acabei passando mal por não ter me alimentado direito e acabei indo ter que tomar soro para se hidratar. Pego meu celular e me assusto por ver que já era tarde. Mas não foi isso que me assustou realmente.

Como sempre que eu fazia tatuagem, eu deixava meu celular em modo silencioso. O que era normal, para que eu não me distraísse. Mas neste momento, ao pegar o aparelho, tinha mais de 50 chamadas perdidas do Yan, fora as mensagens. Quando penso em ligar pra ele, no celular aparece seu nome em uma ligação! Atendo de imediato e sua voz era de pura preocupação.

Explico tudo para ele e digo em que hospital eu me encontrava. Sabia que não iria tardar para ele estar aqui comigo. Eu estava tão cansado! Mas depois de finalizar a ligação, olho pro lado onde minha irmã estava sentada em uma cadeira, segurando minha mão.

Ela estava pálida, perdida em pensamentos. Quando percebe que a estou olhando, ela retribui o olhar. Dou um sorriso fraco, para quebrar a tensão entre nós.

— Eu realmente não sabia! Você acredita em mim, não é? – Seus olhos se enchem de lágrimas novamente.
— Sim, eu acredito... Hannah eu sou feliz, eu sou rodeado de pessoas que gostam de mim do jeito que eu sou. Você não precisa se remoer por coisas que já estão no passado e que você não teve culpa. – Aperto sua mão para tranquilizá-la.

— Sammy, eu sou lésbica! – Arregalo os olhos completamente descrente.
— Eles fizeram alguma coisa com você?
— Não! Eu nunca falei pra eles. Eu sei o quanto eles são preconceituosos. Só me mantive escondida. Você é o primeiro a saber! – Ela dá um sorriso sem jeito, para me deixar mais tranquilo.
— Você foi mais esperta do que eu! – Falei decepcionado comigo mesmo. Ela me abraça forte, causando em mim um conforto bem vindo.

Apesar da circunstância, era bom estar na mesma presença da minha irmãzinha linda. Ela é uma versão perfeita de mim, tão linda que sua presença iluminava todo o ambiente. Me dando uma paz absurda, que não demorou muito para eu ser vencido pelo sono e acabei dormindo.

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