💍 Capítulo 56 💍

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SONG MINGI

A rápida conversa que tivera com Yunho naquela mesma cozinha, horas mais cedo, estava rondando na cabeça de Mingi.

Naquela hora, estava apenas se sentindo um tanto cansado de todas aquelas situações que pareciam que nunca iriam parar até de fato lhe matar de exaustão. Era sua relação com Yunho, Hongjoong, seu pai e o fato de ter que lidar com a própria cabeça estava lhe enlouquecendo. Naquele segundo pensava se havia sido um pouco duro em suas palavras com Yunho, mas naquele momento não precisava, e até mesmo não queria mais ter que lidar com joguinhos. Queria tudo rápido, talvez instantâneo, tipo oito ou oitenta. Já havia tido uma relação com Yunho, e mesmo que rápida, sabia que não precisava mais de toda aquela prévia pois já se conheciam muito bem. Conhecia Yunho como a palma da própria mão, e enquanto se sentava em uma das cadeiras e bebericava um chá verde quente, respirou fundo, tentando colocar as coisas dentro de si, no lugar.

— Vejo que não sou o único que não conseguiu dormir. — Mingi levantou os olhos, vendo a figura de Yunho parada na entrada da cozinha, e antes de dizer algo, deu mais um gole no chá, para em seguida afastar a caneca da boca e descansá-la na mesa com calma.

— É. Acho que só vou voltar a dormir quando sair desse lugar. — respondeu um tanto calmo, mesmo que a tensão naquele cômodo fosse quase palpável. Estar com Yunho no mesmo cômodo agora parecia dividir o lugar com uma bomba relógio dentro de um cofre surpresa, não sabia quando a bomba explodiria, e só saberia o que teria dentro do cofre caso a mesma explodisse.

Yunho deu uma risada fraca, quase como um sopro e entrou na cozinha de fato, indo em direção ao armário no qual ficavam as canecas.

— Eu também. Sinto falta de dormir em casa. — ele respondeu, se aproximando do fogão, e Mingi ficou confuso por não saber de qual casa ele estava falando. — Posso usar essa água quente? — Yunho apontou para o bule em cima da boca ainda quente do fogão.

— Claro, fique à vontade. — Mingi passou a brincar com a caneca verde que tinha em mãos. Envolveu a mesma com as duas palmas, sentindo a cerâmica quente aquecê-las, se lembrando que havia pego aquele costume justamente com o rapaz que estava, naquele momento, puxando uma cadeira e se sentando à sua frente.

Em silêncio, passou a encarar Yunho. Não admirando-o como sempre costumava fazer, mas realmente o olhando. Olhou os cabelos agora loiros, os olhos, a boca, que levemente se abriu para soltar ar quando o mesmo engoliu o chá, que imaginava ser o de sabor favorito dele, o de camomila. Olhou as bochechas cheinhas, os ombros, que mesmo cobertos pelo moletom preto que ele vestia, reparou o quão estavam um pouco mais largos, e quanto o observava, sabia que ele estava tenso só pela maneira que ele cutucava a caneca branca, envolta nas palmas das mãos, iguais as suas.

— Você... — Yunho começou, hesitando um pouco se continuaria a falar ou não, mas logo em seguida decidiu prosseguir. — Você tinha razão. — ele completou e Mingi voltou o olhar para o rosto dele novamente, vendo-o lhe encarar.

— Razão sobre o que exatamente? — Mingi perguntou, um tanto confuso.

Que eu estava mentindo pra mim mesmo esse tempo todo. — ele disse e soltou uma lufada de ar pelo nariz, como se tivesse tirado um peso do próprio peito. Mingi se remexeu na cadeira, não imaginando que aquela conversa voltaria tão cedo, mas ainda sim ficou calado, ao ver que Yunho continuaria a falar. — Eu menti quando disse, não só pra mim mesmo, mas pra todo mundo que as coisas à minha volta não mais me afetavam, quando na verdade elas ainda continuam, até hoje, tirando meu sono. — ele disse, voltando a tomar um gole do próprio chá, e respirou fundo. — Eu criei aquela casca à volta de mim, como você disse, porque eu só queria me proteger, porque em diversos momentos eu só tive a mim mesmo, e aprendi a fazer tudo sozinho. A lidar com as minhas próprias dificuldades, com as minhas próprias dores, desafios, exatamente tudo. — ele explicava e Mingi não tirava os olhos do rosto dele por sequer um segundo. — Entenda que eu não quero mais criar um caos entre a gente, Song. Quando eu disse que queria um tempo, eu realmente queria um tempo de nós. Eu ainda estou magoado, Mingi, e você também está! Não acha que precisamos de tempo pra nos curar de todas as dores e feridas que se abriram ao longo de todo o tempo que ficamos juntos? — ele perguntou e Mingi logo desviou seus olhos marejados para outro canto quando o baque daquelas palavras lhe atingiram. — Precisamos cuidar de nós mesmos, aprender o que amamos fazer sozinhos, nos cuidar sozinhos, enfrentar os nossos monstros sozinhos, antes de queremos enfrentar os monstros um do outro. — sentiu Yunho proferir aquelas palavras com todo o cuidado possível, e então desviou o olhar para as próprias mãos, tentando mudar a sua atenção para a caneca para que não focasse nas lágrimas que se formavam em seus olhos.

LOYALTY II - O passado fica para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora