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Melina

Hoje o dia parece tranquilo mas algo me parece estar errado. Eu cuido da necromaquiagem dos cadáveres, de corpo todo mas meu chefe, o senhor Fernando, um homem...é...velho.

Disse que chegaria um corpo especial. Rico talvez? Melhor dizendo...de familia rica...Que eu deveria apenas cuidar dele...? Cuidar? De uma pessoa morta ? Sim maquiagem pode ser cuidar também...qual era mesmo...

– senhorita Melina Bryon? - o home encarregado de deixar os corpos diz.

– sim sou eu. - ele me entrega uma caderneta e eu assino.

Mais tarde está tudo no lugar preparo meus pincéis e visto meu jaleco branco, essa é a parte mais divertida. Entro na sala 5. Há apenas 2 dos cadáveres, encaro meu caderno com os nomes enquanto caminho em sua direção.

Vamos ver...Augusto? Olho para frente e me aproximo tirando o pano de seu rosto, encaro o homem. Ele não parece velho.

– Augusto? Seus pais escolheram um nome e tanto...e veja só você morreu tão novo. - mordo os lábios.

Ok. Piada de mal gosto, foi mal. Coloco minhas luvas e minha máscara para começar o procedimento.

~

Mais tarde coloco força para arastar a maca de ferro do lugar. Encaro o relógio na parede 22:00. Está faltando o especial ainda. Volto para a sala 5 e estralo o pescoço. O último não deu trabalho, a pele era boa. Sem rugas ainda.

– vamos ver você, garoto rico. - troco minhas luvas e em seguida abaixo o pano que o cobre.

Dou uma piscada lenta. Ele está usando terno? Normalmente os cadáveres vem com panos que cobrem pouco ou nada, dependendo do que a família deseja mas esse...ele usa terno? Arqueio a sombracelha.

Analiso o seu rosto. Maxilar quadrado. Nariz liso, cabelos castanho escuro, corpo grande, ombros largos.

– você é morto mais bonito que já vi, confesso. Isso me faz parecer doente? - reviro os olhos.

Não. Pessoas doentes acham que estão certas.

Coloco um de seus fios para trás. Ele ainda está muito claro...não parece frio. Na verdade...ele não parece morto...apenas pálido. Enrugo a testa. A mas foda-se. Esse não é o meu trabalho, dou de ombros.

– que pena. Em outra vida você seria meu. - conto como um segredo.

Meu celular começa a tocar e eu me assusto. É eu sou bem estranha. Falando com mortos. Descarto minhas luvas no lixeiro perto da porta, e assim saio procurando o aparelho.

O necrotério não é tão grande, há boatos que Fernando está falindo. É realmente uma pena. Mas faz sentido não ter funcionários direito por aqui.

Dou uma olhada em Augusto novamente. Eu fiz um bom trabalho, sou ótima nisso. Sorrio vitoriosa. A...é...o telefone. O pego na mesa metálica, número desconheço? Sério? O guardo na bolsa novamente. Volto a caminhar até a sala 5. Quando entro meus olhos se arregalam. O corpo...

– pode ser nessa vida ainda você não concorda? - uma voz rouca e baixa sussurra em meus ouvidos.

Sinto algo gelado encostar em meu rosto e minha respiração falha quando noto que é uma arma. Porra. Fantasma do caralho. Ele tem uma arma? Quando o 7além ficou tão perigoso?

– não se preocupe...eu não vou atirar em você querida. Isso é apenas para o seu silêncio, sim? Não grite. - o desconhecido deixa eu me virar.

Faço isso lentamente. Ele é ainda mais alto agora. Seus olhos são de um verde que pucha para o castanho claro. Me encara como se pudesse ver minha alma. Ele caminha para frente e brinca com uma mecha solta de seu cabelo. O coque deve ter desmanchado.

– o que...o que você quer? - minha voz saí falhada. Amedrontada.

– até a pouco eu queria apenas ir embora...mas agora... - ele se inclina para frente. Suas pupilas dilatam.
  – eu quero você.

Meu peito acelera e me sinto flutuar. Deve ser respostas a tudo isso. Eu estou ficando maluca pra. Caralho. Sim. Meu dia chegou?

~

Votem! Bjss

A moça do necrotério. Onde histórias criam vida. Descubra agora