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Melina

Vocês devem me achar maluca por não estar surtando...mas veja bem. Eu não tenho pra quem voltar. E meu emprego já era sabe?

– a senhora trabalha aqui a muito tempo? - pergunto. Ela usa um avental amarelo e seus cabelos são grisalhos.

– diria que sim. Deseja algo? Cristian me disse que qualquer dúvida você pode me perguntar. - ótimo.

Ela não chama ele de senhor, então devem ser próximos.

– quem ele é de verdade...sabe...no começo eu pensei que ele estivesse morto. - brinco com meu piercing na boca.

– ele não é uma pessoa ruim. Mas no mundo dos espertos os espertos se dão bem. E ele é um homem inteligente. - é. Ela está me inrolando. Penso isso.

– hm...pra que esse tanto de gente afinal? - olho em volta.

– normalmente eles não ficam aqui. Mas parece que Cristian encontrou algo que teme perder. - essa frase tem duplo sentindo.

Encaro o chão envergonhada. Ele não teme me perder. Pois ele não. Me conhece. No máximo ele só está com medo que eu chame a polícia. E eu provavelmente faria

– qual seu nome? - a senhora sorri para mim.

– Melina. E você? - ela pisca devagar.

– Olivia. - ela se vira e volta a mecher no fogão.

– você sabe para onde ele foi? - questiono curiosa.

– não. Temo que ninguém saiba ao certo o que passa na cabeça daquele garoto! - ela dá uma risada terna.

– eu vou dar uma outra olhada na casa. - ela apenas balança a cabeça levemente.

Caminho até o andar de cima e passando pelo corredor há um espelho. Encaro meu reflexo. Meus cabelos azuis e cacheados nas pontas está bagunçado. Meu jaleco está um pouco sujo e minha calça está velha. Pouco apresentável creio eu. Mas quem liga?

Vou até o quarto de Cristian que misteriosamente está aberto. Encaro o relógio.  00:39. A hora demora passar.

~

Já que não tinha roupas limpas resolvi perguntar a Olivia e ela me disse que havia roupas no meu guarda roupa. Quer dizer...como ele fez isso tão rápido? As roupas couberam perfeitamente. E é o meu estilo de paleta de cores. Blusas cinzas e saias pretas. Vestidos pretos. Parece serem feitos pra mim...isso é...suspeito.
Desfaço meu coque e deixo meu cabelo cair até a cintura. Ele cresceu bastante no último ano.

Volto ao quarto de Cristian e encaro um porta retrato que parece antigo, está na estante perto da porta. Na foto há várias crianças, uma em específica me chamava mais a atenção. Seu semblante sério. E...familiar. Os olhos verdes entregam. É o Cristian mais novo. Mais...triste.
Sinto passos atrás de mim e em seguida uma mão afastar os meus cabelos e dedilhar o meu pescoço. Meu corpo fica tenso. Tem cheiro de enxofre.

– não se vire ainda por favor. - Sua é calma, meu corpo se acalma quando percebo que é Cristian.

– você demorou. - digo neutra mas magoada. Quer dizer...ele não me disse absolutamente nada. Eu mereço explicações...ele é o meu sequestrador.

– desculpa querida. Não era minha intenção demorar. - sua respiração queima a pele do meu pescoço.

– quem são esses? - ignoro o efeito.

Não faz sentido esses sentimentos. Não faz mesmo. Ele não responde então me viro devagar. Meus olhos se arregalam quando noto que ele está coberto de sangue. E um sorriso repucha seus lábios.

– mais cedo meros imbecis. Agora almas que estão queimando no fogo eterno. - sua voz saí fria e eu dou um passo para trás.

Ele matou essas pessoas? Quem foram eles?

– sim. - seus olhos verdes estão sombrios. Quase dolorosamente distantes.

– sim o quê? - o fito em questionamento.

– eu matei eles. E não eles não eram legais...não mais.

– sempre muito explicativo. - reviro os olhos. - você está bem?

Pergunto apesar de ter certeza que o sangue não é dele.

– claro. - noto o início de uma tatuagem em seu pescoço.

Me pergunto o que seria aquilo. Mas não me deixo continuar. Não posso.

– as roupas ficaram boas. - ele encara um ponto abaixo de mim e eu sigo seu olhar.

Ele está encarando a camisola. É um tom de cinza.

– acho que sim.

Agora tenho certeza que ele está encarando meus peitos. Na maior cara de pau!

– meus olhos ficam aqui encima. - deixo no ar.

– eu sei. Já vi eles, são lindos também um castanho glorioso mas essa visão é ainda mais interessante. - ele fala como se fosse óbvio. - e isso é assustador.

Sinto meu coração acelerar quando ele volta a fitar meus olhos. Idiota. Caminho até a saída.

– boa noite blueberry. - ele sorri torto.

Não me dou o trabalho de responder. Não hoje. Não agora.

~

Votem! Bjss

A moça do necrotério. Onde histórias criam vida. Descubra agora