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Melina

Cristian liga a TV e me convida a sentar do seu lado. O sofar é confortável apesar da situação não ser tão confortável assim. Ele coloca um programa de investigação criminal.

– seu anel é legal. - ele diz tempo depois. E eu encaro meu pulso.

– é...eu gosto. - sorrio levemente.

É uma joia prateada com uma pérola roxa no meio. Eu não...sei exatamente quando comprei mas eu a uso sempre.
Cristian me dá um meio sorriso. Mas por alguma razão ele parece triste.

– você não tem namorada? - ele franze o cenho e começa a encarar a TV.

– eu tinha. - é tudo que ele diz. E sinto ele que não irá falar mais nada.

– eu também. - ele volta a me encarar e dessa vez seu semblante é de pura curiosidade.
   – quando eu estava na faculdade eu conheci um carinha. Ele parecia legal.

– sei. - não consigo entender sua emoção agora. Ele parece...bravo? Por que ele está bravo?
  – e então?

– nada. A gente começou a namorar mas ele terminou comigo por que ia mudar de cidade. - minto. Ele terminou por outro motivo também.

Eu fiquei um pouco triste com isso...só que parte de mim superou facilmente. Quase como se não ligasse. Ele sempre disse que eu não ligava pra ele.

– isso parece tenso. - ele volta a encarar a TV.

Para um mafioso ele é até bem normal. Eu diria que seu coração nem é de pedra agora.

– Como soube..? - o programa é legal.

– soube o quê? - seu maxilar trava.

– que gostava dela. - penso em que tipo de pessoa Cristian gostou.

Ela era bonita? Onde ela está? São perguntas que eu gostaria de fazer.

– senti em alguma parte de mim. - ele comenta distraído. ‐ quer dizer...a gente sempre sabe. Querendo ou não.

– entendo. - a chuva começa a engrossar.

Por alguma razão sempre que chove meu corpo fica tenso. Quase como se tivesse medo da chuva. Sinto meus pelos se arrepiarem.

– você...não gosta da chuva? - seus olhos verdes estão mais intensos.

– eu não gosto de muitas coisas. É. A chuva...me assusta um pouco. - enrolo meus fios azuis entre os dedos.

– é. Parece melancólica. - Faço uma careta quando começa a trovejar.

– você também não gosta? - pisco devagar. Enquanto brinco com meu piercing na boca.

– pelo contrário. A melancolia se torna familiar. - Seu olhar foge do meu.

Ele está escondendo algo. Sei que está.

– talvez com algum tempo eu pense assim também. - me aproximo um pouco e nossos ombros se encostam.

Sinto uma eletricidade surgir e imediatamente me afasto.

~

Abro os olhos devagar. Eu acabei por dormir. Enquanto chove...? Isso nunca aconteceu. Sempre me pego acordada em situações assim. Eu...estou no quarto?
Olho em volta e noto fios pretos. Cristian está alinhado ao meu corpo. Sua cabeça perto da minha e suas mãos em minha cintura. Arregalo meus olhos.

– Cristian! - berro.

O homem abre os olhos rapidamente como se nem estivesse dormindo agora a pouco.

– oi blueberry. - ele sorri. Agora perto, noto pintinhas sobre suas bochechas e nariz.

– o que caralhos está fazendo?  - me afasto imediatamente indo pro outro lado da cama.

Ele me encara com o semblante descontraído.

– você estava dormindo no sofá. Só achei que aqui fosse mais confortável, sinto muito. - ele se senta sobre a cama.

– com certeza seria bem confortável dormir com o cara que me sequestrou! -  ladro.

– você pareceu estar dormindo tranquilamente blueberry. - Cristian bufa e eu reviro os olhos.

– só não encosta em mim! - saio de cima da cama correndo para fora.

– Melina. - ele me segue e eu corro rumo às escadas.
  – você vai se machucar. Para de correr droga!

– eu...por quê? - sinto minha garganta fechar no meio dos degrais.

– Melina não chora. Tá tudo bem. - minha respiração começa a falhar.

– eu...desculpa. Só não. Não. Eu não sei por quê estou chorando. Não sei. - sinto o gosto salgado na boca.

– tá tudo bem. - sinto mãos em meu cabelo.

Cristian me esconde em seu peito. Toda essa situação me deixa triste. Me sinto perdida. Eu não sei lidar com os vivos. Por isso vivia cercado de mortos. Eles não dão trabalho. Não.

~

Votem! Bjss.

A moça do necrotério. Onde histórias criam vida. Descubra agora