Loren corria o mais rápido que suas pernas permitiam, o coração martelando contra o peito, os galhos e folhas da floresta passando em borrões. Quando finalmente saiu das árvores, ela parou bruscamente, o ar preso na garganta. Don estava encostado contra uma árvore, a cabeça inclinada para trás, os olhos fechados e o peito subindo e descendo lentamente. Ele estava vivo, mas o rosto estava coberto de sangue. Uma longa ferida na lateral da cabeça permitia que o líquido vermelho escorresse, manchando sua pele, descendo pelo pescoço e espalhando-se pelas folhas sob ele. Ao lado, a criatura estava morta no chão, a espada do príncipe atravessada em seu crânio, de onde um líquido espesso, o mesmo que a sacerdotisa havia vomitado mais cedo, escorria pelo buraco causada pela lâmina.
Sem hesitar, Loren correu até Don, ajoelhando-se rapidamente ao lado dele. Suas mãos envolveram a ferida aberta na cabeça, e ela deixou sua magia fluir, sentindo o corpo dele relaxar sob seu toque. Don soltou um suspiro profundo de alívio, abrindo os olhos devagar. O coração da garota se encheu de alegria e alívio, como se o peso de uma enorme montanha tivesse sido tirado de suas costas. Ela queria beijá-lo ali, naquela hora, queria abraçá-lo, sentir sua força e sua vida vibrando de volta para ela. Seu peito parecia explodir com o amor que sentia, o alívio de encontrá-lo vivo era como se estivesse renascendo. Ele também a olhava com o mesmo desejo, o mesmo impulso, precisando dela como nunca, ansiando por seu toque e seu sabor.
Mas havia algo que os impedia.
North estava a poucos metros, caído na neve, gemendo de dor. Seu corpo estava ensopado de sangue, a armadura destruída e uma fratura exposta horrível na perna, onde o osso branco atravessava a carne rasgada, misturando-se com sangue e gelo. Mas não era a situação deplorável de North que verdadeiramente interrompia o momento entre Loren e Don.
O príncipe inclinou a cabeça para o homem de pé ao lado de North. Um velho de túnica gasta e uma longa barba branca, tão comprida que se arrastava pela neve. Ele estava apoiado em um cajado de madeira, e cutucava o corpo de North como se estivesse verificando se ele ainda estava vivo, embora os gemidos dele deixassem isso bem claro. O rosto de Loren ficou pálido ao reconhecê-lo.
— Kalandor? — Loren deu um salto para trás, surpresa. — Vo...você... não está morto?!
— Eu, morto? — O velho sorriu. — Não, mas seu amigo aqui provavelmente não vai durar muito — disse, enquanto cutucava North novamente com o cajado. Seu gesto parecia mais uma provocação do que uma inspeção. O mago estava claramente se divertindo, como se infligir um pouco mais de dor no grandalhão fosse uma forma de entretenimento.
Loren ficou paralisada, olhando de North para Kalandor, sem saber o que fazer. As palavras do velho mago ecoaram em sua mente, a última ordem dele antes de desaparecer misteriosamente dez anos atrás: Jamais, em hipótese alguma cure alguém que não seja Don.
— Cure-o — Don disse, a voz firme, enquanto se levantava. Ele puxou sua espada da cabeça da criatura e um som grotesco, viscoso, como carne sendo rasgada e ossos quebrados ecoou pela floresta. — Cure-o agora, Loren — completou, sem espaço para discussão.
Sem hesitar, a sacerdotisa se ajoelhou ao lado de North, ignorando o olhar penetrante de Kalandor que parecia queimar em suas costas. Com as mãos trêmulas, ela deixou sua magia fluir, quente e luminosa, envolvendo o corpo do guerreiro. O brilho dourado envolveu as feridas, os ossos se realinharam com um estalo suave, e a respiração do guerreiro se estabilizou.
Loren esperava qualquer reação de North, medo, pavor, confusão, exatamente como Ryan havia reagido, mas ele simplesmente soltou um palavrão de alívio, como se fosse o desfecho mais natural do mundo.
— Precisamos encontrar Ryan e Edric — disse Don, se aproximando e estendendo a mão para ajudar o amigo a se levantar.
North agarrou a mão do príncipe e se ergueu sem dificuldade. — Onde está a princesa? — perguntou, agora com um toque de desespero em sua voz.
— Ela ficou me esperando lá em cima — Loren o tranquilizou com um tom calmo, virando-se logo em seguida para Don. — Eu sei onde Ryan está.
Don a olhou de lado, franzindo a testa. — Você consegue sentir a presença dele?
Loren assentiu, embora relutante. — Sim... mas... — Ela respirou fundo, hesitando por um momento, mas antes que pudesse completar, Kalandor interrompeu.
— Edron está morto.
— É Edric — Loren corrigiu. — E como sabe que ele está morto?
Kalandor permaneceu em silêncio, apenas observando a garota como se a resposta fosse óbvia. E, de certa forma, era. Ele era um mago poderoso, capaz de sentir até a menor forma de vida pulsando na floresta. Loren sabia disso, mas algo ainda não fazia sentido.
— Mas... você está longe da torre... como...? — a garota balbuciou, a mente confusa enquanto tentava juntar as peças. Nada se encaixava. Como ele ainda conseguia exercer tanto poder?
Kalandor soltou um pequeno suspiro, impaciente. — Vamos buscar aquele fedelho do Ryan e depois seguimos para a caverna — disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Don, no entanto, não parecia disposto a deixar a questão passar. Ele estreitou os olhos, sua expressão ficando ainda mais sombria. — Vai nos levar para a caverna de onde essa coisa saiu? — ele apontou para a criatura caída no chão.
O velho mago apenas sorriu.
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A Torre Invertida - Volume I
Fantasía🪙 ROMANTASIA ✶ DARKFANTASY ✶ WEBNOVEL +18 ✶ Em uma terra onde a magia é tanto um presente quanto uma maldição, Loren, uma sacerdotisa com poderes de cura, vive sob um decreto real que a torna intocável. Ironicamente, o príncipe designado como seu p...