✶ Capítulo sessenta e dois ✶

10 3 0
                                    

Loren estava sentada em uma pedra, os pensamentos fervilhando enquanto seus dedos habilmente arrancavam um pequeno pedaço de fruta

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Loren estava sentada em uma pedra, os pensamentos fervilhando enquanto seus dedos habilmente arrancavam um pequeno pedaço de fruta. Já fazia horas desde que Don, North e Kalandor partiram em busca do falecido Edric. Com o corpo tenso, ela se forçava a focar em algo simples, algo que pudesse desviar sua mente da inquietação: o sabor da fruta.

Quando o suco doce tocou seus lábios, uma sensação breve de alívio percorreu seu corpo, como se, por um instante, aquele sabor fosse capaz de solucionar todos os seus problemas.

Beatrice estava adormecida em um canto e Ryan estava devorando sua décima ou vigésima fruta em outro, as mordidas macias do mago eram o único som constante na caverna.

Vez ou outra os olhos da sacerdotisa se voltavam para o portal mágico no fundo da caverna. Aquilo era inquietante, uma névoa fina girava em torno dele, tornando difícil enxergar o que é que pudesse estar além.

Segundo Kalandor, a criatura que os atacara havia escapado por aquele portal, e tudo indicava que ele se conectava aos túneis que levavam até a torre invertida. A ideia de voltar ao Vale por aquele "atalho" não parecia tão absurda assim. Mas como seria retornar ao reino depois de tudo o que havia descoberto? Filha das trevas? Ela... não, ela não poderia ser filha de um demônio, poderia? Sempre soubera que sua família era adotiva, mas... isso significava que talvez ela não fosse humana? O que Damon pensaria? Droga! ele não pode descobrir ou vai odiá-la ainda mais.

Um gemido de satisfação chegou até os seus ouvidos e quebrou seus pensamentos.

— Você não deveria comer tanto disso — Loren comentou, desviando os olhos para Ryan que terminava de devorar outra fruta.

O mago ignorou completamente o aviso e pegou mais uma, tão vermelha quanto sangue e logo a pressionou contra os lábios. A casca fina e crocante se rompeu com facilidade, liberando uma enxurrada de néctar que parecia quase transbordar, escorrendo lentamente pelo seu queixo e gotejando no chão. O aroma doce preencheu o ar de forma inebriante.

— Ryan, tenha mais cuidado. Essas frutas não foram feitas para nós... — ela insistiu, sua preocupação cada vez mais evidente. Mas ele continuava indiferente, os dentes afundando na carne macia e suculenta da fruta mágica, que parecia quase derreter em sua boca.

Silêncio.

— Ryan... por favor, fale comigo! — a voz dela vacilou, mas nada. Ele nem se importava, continuava mastigando, deixando o suco escorrer livremente pelos dedos.

Frustrada, Loren se levantou, determinada a confrontá-lo, mas antes que pudesse dar um passo, foi interrompida pelas vozes dos rapazes retornando. Os ecos de suas palavras se espalharam pela caverna, o coração dela deu um salto de felicidade, ela pensou em correr até Don, mas assim que viu sua figura imergir da escuridão, notou que o príncipe não parecia nada feliz.

— RYAN ASTARIUM! — a voz grave de Kalandor ecoou pela caverna, soando como um trovão. — Largue essa fruta agora!

O jovem mago, completamente embriagado pela doçura das frutas, soltou um soluço alto, surpreso com o grito. A fruta escorregou de seus dedos, caindo no chão com um som suave, enquanto Ryan dava dois passos vacilantes para trás, como se estivesse tentando equilibrar-se sobre um navio em plena tempestade. Seu rosto, pescoço, os trapos de roupa, tudo coberto de suco mágico. Ele cambaleou de um lado para o outro por um momento, antes de despencar de cara no chão.

Kalandor apenas revirou os olhos. — Eu pensei que nunca mais teria que lidar com esse rebelde arrogante — murmurou, lançando um olhar entediado para Ryan, que resmungava algo inaudível enquanto tentava, sem sucesso, se levantar. — "Promissor", eles diziam — Kalandor imitou com sarcasmo. — Promissor pra quê? Pra causar estragos!

— Ele vai morrer? — Questionou North com uma sobrancelha erguida em divertimento.

— Depende, quantas frutas ele comeu?

— Umas vinte, eu acho... — Loren respondeu inquieta.

Kalandor bufou, e enquanto caminhava em direção ao jovem mago sua mente girou em torno das mil e uma travessuras que Ryan aprontava na torre. Como aquela vez em que ele encheu o caldeirão de poções com dezenas de sapos para ver se conseguia criar uma poção do "pulo eterno", ou até mesmo da vez em que o infeliz havia explodido metade da biblioteca da torre só por curiosidade.

— Vocês vão ficar aí só olhando ou vão me ajudar? Eu sou um velho de 80 anos! — resmungou Kalandor, enquanto lutava para levantar Ryan, que pesava mais do que parecia, dado seu estado de completa embriaguez. O mago idoso gemia e bufava, as costas arqueadas pelo esforço, e parecia que a qualquer momento ele próprio cairia ao lado do jovem.

Don finalmente decidiu intervir, caminhando até eles com passos firmes. Com um movimento fácil, ele ergueu Ryan como se ele fosse um saco de farinha, colocando o mago apoiado em seu ombro.

— Velho de 80 anos? — Don murmurou, lançando um olhar de canto para Kalandor, que o ignorou e limpou as mãos.

Enquanto isso, North nem se deu ao trabalho de ajudar. Ele passou direto pelos dois e foi checar Beatrice, que ainda dormia no canto da caverna, completamente alheia ao caos ao redor.

Ryan, mesmo meio desacordado, de repente levantou a cabeça. — Você tem... mais de... 200 anos... facilmeeente... — ele murmurou, apontando um dedo trêmulo para Kalandor, a fala embolada como um bêbado.

Don conteve uma risada enquanto Ryan caía novamente contra seu ombro, balbuciando algo sobre o tempo ser uma ilusão e ele estar finalmente apaixonado.

Kalandor se aproximou de uma estante capenga, repleta de frascos empoeirados, ervas secas penduradas e uma infinidade de quinquilharias que pareciam ter saído de algum bazar mágico de segunda mão. Ele murmurava para si mesmo enquanto remexia nas prateleiras, afastando potes de vidro com conteúdos misteriosos, como olhos de criatura, penas brilhantes, e até mesmo o que parecia ser uma perna de rato embalsamada. Após alguns segundos, soltou um grunhido de satisfação ao encontrar o que procurava: um frasco de vidro grosso, embaçado pelo tempo, contendo um líquido verde viscoso que parecia borbulhar levemente.

Ele o segurou na altura dos olhos e arqueou uma sobrancelha. — Achei você, seu desgraçado... — murmurou, com um sorriso malicioso.

Com um movimento rápido, ele retirou a tampa com um estalo. O cheiro que se seguiu era como uma mistura de ovos podres, mofo e ácido sulfúrico, o velho deu uma fungada curta, franzindo o nariz, mas não se intimidou. Sem perder tempo, caminhou até Ryan, que continuava resmungando incoerências sobre amor, ainda alheio ao que estava prestes a acontecer.

— Aqui está, exatamente o que você merece, moleque travesso — disse Kalandor, posicionando-se ao lado dele, segurando o frasco com uma expressão de pura diversão.

— Tem certeza de que isso é mesmo necessário? — Questionou Don, seu rosto franzido com o cheiro pútrido que se aproximava.

— Ora, eu sei o que estou fazendo, vamos, abra a boca — o velho rosnou, segurando o queixo de Ryan com uma mão firme, forçando-o a abrir os lábios.

Ryan gemeu em protesto, ainda meio inconsciente, mas não teve escolha quando o líquido espesso foi despejado goela abaixo. Ele se engasgou, tossiu, mas o velho manteve seu queixo erguido, garantindo que o jovem mago engolisse cada gota.

Quando o frasco finalmente estava vazio, Kalandor o fechou com um suspiro e estalou suas costas.

— Ele vai viver — anunciou, jogando o frasco vazio no chão. — Infelizmente.

 — Infelizmente

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A Torre Invertida - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora