18 - não é isso

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23 de outubro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

Quando abri os olhos, a luz suave do sol da manhã invadiu meu quarto, e por um instante, fiquei confusa, sem saber onde estava. Minha cabeça pesava como uma pedra, e o gosto amargo do vômito ainda parecia impregnado na minha boca. As memórias do que aconteceu começaram a voltar em flashes, e uma ansiedade angustiante se aninhou em meu peito, como se esperasse pacientemente para me lembrar de tudo.

Sentei-me devagar, reconhecendo que estava em casa, no meu próprio quarto. As paredes familiares me ofereceram um conforto momentâneo, mas logo a dúvida me atingiu: como cheguei aqui? A última lembrança que tinha era do chão do vestiário se aproximando, a tontura me derrubando.

Enquanto tentava me recompor, ouvi um leve bater na porta.

— Amélia? — A voz de Gabi era suave, quase hesitante. A porta se abriu lentamente, revelando seu olhar preocupado. — Como você está se sentindo?

Passei a mão pelos cabelos bagunçados, tentando parecer mais forte do que realmente me sentia. A fraqueza estava me consumindo, mas eu não podia deixar que ela visse isso.

— Eu... estou bem — respondi, esforçando-me para que minha voz soasse firme, mas ela saiu baixa e arranhada. — O que aconteceu?

Ela entrou no quarto e se sentou ao meu lado, a preocupação em seu olhar era palpável, mas eu precisava convencê-la de que tudo estava sob controle.

— Você desmaiou no vestiário depois de vomitar — disse ela, sem rodeios, mas com um tom de cuidado que quase furei. — Eu fui atrás de você quando vi que saiu correndo e te encontrei desacordada. Chamamos a enfermeira, e eu te trouxe para casa.

As palavras dela me atingiram como um soco no estômago, e a vergonha me invadiu. Eu havia tentado tanto esconder o que estava acontecendo, fingir que estava bem, e agora estava exposta na frente dela. A última coisa que queria era que Gabi se preocupasse mais comigo.

— Eu sinto muito... — comecei a dizer, mas Gabi me interrompeu.

— Amélia, não tem nada para se desculpar — respondeu, firme. — Você está passando por muita coisa, e é normal que seu corpo reaja assim. O que não dá é continuar se forçando até o limite.

Ela suspirou, passando a mão pelos cabelos, como se escolhesse cuidadosamente as próximas palavras.

— Eu estou preocupada com você — continuou, a voz agora mais suave. — Não só com o treino, mas com tudo o que está acontecendo. Você não pode carregar o mundo nas costas sozinha. Eu sei que você é forte, mas até as pessoas mais fortes precisam de ajuda às vezes.

O silêncio se instalou entre nós, e eu senti um nó se formar na minha garganta. A vulnerabilidade que tentava esconder era esmagadora, mas, ao mesmo tempo, as palavras de Gabi me atingiram de uma forma inesperada. Eu não precisava fazer isso sozinha. Sabia disso, mas admitir era outra história.

— Eu... estou bem, realmente — disse, tentando colocar um sorriso no rosto, como se isso tornasse tudo verdade. — Apenas um dia difícil, você sabe como é.

Gabi me observou com uma expressão que misturava ceticismo e preocupação. Eu queria que ela acreditasse em mim, que visse que eu estava no controle, mesmo que por dentro estivesse desmoronando.

— Amélia, não precisa fingir — ela disse, sua voz suave, mas firme. — Você sabe que pode contar comigo. Não precisa carregar isso sozinha.

Eu respirei fundo, tentando esconder a tensão que crescia dentro de mim. A ideia de ser vulnerável era aterrorizante, mas o desejo de que Gabi não se preocupasse mais me forçou a continuar.

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