27 - A noite do evento

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1 de dezembro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

A noite do evento de gala finalmente chegou, e enquanto eu caminhava pelo salão, ajustando o vestido preto de gola alta, com mangas longas e transparentes, senti um misto de nervosismo e antecipação. Estar ali, cercada por tantos rostos conhecidos, deveria me deixar tranquila, mas minha atenção estava em outro lugar — ou melhor, em outra pessoa.

Foi então que a vi. Gabi estava do outro lado do salão, conversando com alguns colegas, vestida em um conjunto todo preto: calça e blusa que pareciam feitas sob medida, acentuando o porte dela de uma forma sutil e elegante. O preto deixava seus olhos ainda mais marcantes, e por um momento me perdi olhando. Ela parecia tranquila, mas eu a conhecia o suficiente para saber que por dentro não estava tão relaxada assim.

Enquanto a observava, uma lembrança me pegou de surpresa. Era como se eu estivesse revivendo a primeira vez em que saímos juntas, tempos atrás. Eu usava um vestido bem parecido com o que estava usando agora, e lembro de como me senti ao perceber que ela não tirava os olhos de mim naquela noite. Gabi, sempre com aquela expressão que misturava um sorriso de canto com uma intensidade que me deixava desconcertada. Foi a primeira vez que senti que havia algo entre nós que ia além das palavras, algo que não dava para ignorar.

Ela pareceu me notar, e nossos olhares se encontraram de novo, exatamente como naquela noite. Havia algo familiar e ao mesmo tempo tão diferente. Um peso que não existia antes, uma distância entre nós que ambos sentíamos, mas que nenhum de nós parecia saber como fechar.

Eu sorri, lembrando da nossa primeira saída, mas o sorriso dela parecia quase melancólico. Era como se, em silêncio, ela dissesse o que estávamos evitando dizer: que algo entre nós havia mudado, e que talvez não fosse algo que apenas um sorriso pudesse resolver.

Suspirei, tentando sacudir a nostalgia, mas sentindo o peso daquele momento em cada passo que eu dava.

Decidi não ir até Gabi. A verdade é que eu não tinha certeza do que diria, e a última coisa que queria era abrir a porta para mais confusão. Além disso, havia algo reconfortante em observá-la à distância, mesmo que isso também significasse alimentar a incerteza que pairava entre nós.

Enquanto o evento seguia, os convidados se misturavam, conversas alegres preenchiam o ambiente. Eu tentei me distrair, rindo e conversando com alguns amigos de equipe, mas minha atenção estava constantemente voltando para Gabi. Cada risada dela ressoava em mim, me lembrando do quanto eu sentia falta de sua presença mais próxima. O jeito como ela interagia com os outros, cheia de vida, me fazia sentir um misto de admiração e saudade.

A cada instante, as lembranças da nossa primeira saída juntas se tornavam mais vívidas — os sorrisos nervosos, as pequenas provocações, a maneira como ela sempre sabia exatamente o que dizer para me fazer sentir à vontade. Aquela noite havia sido o início de algo bonito, e agora parecia que estávamos em um beco sem saída.

Conforme a música tocava e as luzes brilhavam, percebi que o vestido que eu havia escolhido — aquele que me fazia sentir tão poderosa — também trazia um peso. Era um lembrete de que eu não poderia apenas ignorar o que estava acontecendo entre nós. Ao invés de me libertar, ele parecia me aprisionar em uma dualidade: a Amélia que queria lutar pelo que sentia e a Amélia que temia perder ainda mais.

Finalmente, a música mudou, e um grupo começou a dançar. Belle estava lá, puxando alguns amigos para o centro, e me olhou com um gesto animado, tentando me puxar para a diversão. Olhei novamente para Gabi, que agora estava conversando com outras pessoas, sorrindo, mas sem saber que eu estava ali.

— Vamos, Amélia! — Belle gritou, quebrando meu transe. Eu hesitei, mas no fundo sabia que precisava me permitir aproveitar a noite, mesmo que isso significasse deixar de lado a confusão por um momento.

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