59 - afundando sozinha

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17 de dezembro; 2024
GABRIELA GUIMARÃES

Duas semanas se passaram desde o jogo, e Amélia ainda não se recuperou. O joelho dela, mesmo com a fisioterapia, não está respondendo como esperávamos. Eu sabia que a recuperação seria difícil, mas ver ela assim, afastada, sem falar muito, sem abrir o jogo sobre como realmente estava se sentindo depois do hospital, está me corroendo por dentro. Eu tentei, juro que tentei, me aproximar, ser paciente, mas ela está sempre distante, como se me empurrasse pra longe a cada tentativa.

Eu vejo as cicatrizes na alma dela mais do que as físicas. A dor no joelho, eu sei que é terrível, mas a angústia que ela está carregando dentro de si... isso é o que realmente me preocupa. Amélia nunca foi de se abrir facilmente, eu sei disso, mas esse silêncio está me sufocando.

Hoje, mais uma vez, tentei falar com ela. Estava sentada no sofá, fingindo não notar quando ela estava sentado na na poltrona do outro lado da sala — com as muletas ao seu lado, sem olhar nos meus olhos. Eu sabia que algo estava errado, mas não sabia como quebrar aquela barreira que ela estava colocando entre nós.

— Amélia... — comecei, minha voz suave, tentando não pressionar. — Como você está?

Ela não respondeu de imediato, como se tivesse que decidir o que dizer. Aquilo me fazia sentir uma dor no peito, uma sensação de impotência. Eu queria puxá-la para mim, abraçá-la e dizer que tudo ia ficar bem, mas ela se distanciava cada vez mais, como se minha presença fosse uma lembrança amarga.

— Estou bem — ela respondeu finalmente, de forma fria. Não acreditava nela. Não mesmo.

Tentei não deixar transparecer a frustração, mas era difícil. Eu me sentia impotente, vendo ela se fechando cada vez mais, sem conseguir fazer nada. Queria gritar, queria exigir que ela falasse, que me contasse o que estava se passando. Mas eu sabia que não ia ajudar.

— Amélia... você sabe que pode falar comigo, né? Não precisa passar por isso sozinha. — minha voz estava tremendo agora, não consegui controlar. Ela não disse nada. Apenas virou a cabeça para o outro lado, como se fosse mais fácil ignorar.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma, tentando não deixar a preocupação tomar conta de mim. Mas, por dentro, tudo estava em pedaços. Eu queria tanto que ela confiasse em mim, que se abrisse, mas o medo de que ela não deixasse ninguém entrar era maior. O medo de vê-la se afundando sozinha.

Ela levantou-se de repente, como se precisasse escapar de algo. Eu não sabia se era de mim, ou de seus próprios pensamentos. Mas eu sabia que, por mais que eu tentasse, ela não ia deixar ninguém se aproximar. E a parte mais difícil disso tudo era que, mesmo sabendo que ela estava se perdendo, eu não podia fazer nada se ela não estivesse disposta a se permitir ser ajudada.

— Amélia, por favor... — tentei mais uma vez, minha voz quase implorando. — Fala comigo.

Ela hesitou por um segundo, mas logo seguiu em frente, saindo da sala sem uma palavra. Eu me sentei ali, sozinha, e a sensação de vazio tomou conta de mim de novo. Eu queria tanto que ela me deixasse entrar, que me deixasse cuidar dela como ela merecia. Mas, por enquanto, tudo o que eu podia fazer era esperar. E isso, mais do que tudo, estava me matando.

 E isso, mais do que tudo, estava me matando

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