20 - flores?

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25 de outubro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

No dia seguinte, o simples pensamento de sair da cama já me trazia uma sensação de exaustão. O despertador tocava incansavelmente, mas meu corpo se recusava a responder. A sensação de preguiça se espalhava por mim, e tudo o que eu queria era permanecer ali, deitada, envolta nas cobertas.

Minha mente, porém, me lembrava da longa lista de tarefas que me esperavam. Primeiro, o treino. Não podia faltar, mesmo que estivesse sem ânimo. Depois, uma reunião importante com a equipe de coordenação técnica. Como se isso não fosse suficiente, ainda havia mais reuniões online para discutir detalhes de parcerias pendentes. E, para fechar o dia, uma entrevista marcada logo após o treino, algo que eu preferia adiar, mas sabia que não poderia.

Eu suspirei, encarando o teto, tentando reunir a energia necessária para enfrentar mais um dia corrido.

Me levantei da cama com esforço, arrastando os pés até o banheiro, onde tomei um banho rápido, na esperança de que a água quente despertasse meu corpo cansado. Vesti uma roupa confortável e fui até a cozinha, esperando encontrar o silêncio habitual da manhã, mas, para minha surpresa, a mesa do café estava impecavelmente arrumada, com uma bela seleção de frutas, pães e café fresco. E quem estava lá, ao lado da mesa toda preparada? Yuri, com aquele sorriso orgulhoso no rosto.

Franzi a testa, confusa. O que ele estava fazendo aqui? Ok, ele tinha a chave reserva do meu apartamento, mas aparecer sem avisar? E logo pela manhã? O perfume do café invadiu minhas narinas, mas eu não podia deixar de pensar na audácia dele.

— Bom dia, minha querida! — disse ele, cheio de entusiasmo. — Resolvi fazer uma surpresa para você! E, pelo visto, não fui o único.

Ele apontou para a bancada da cozinha, onde um buquê de girassóis chamava a atenção com suas cores vibrantes. Girassóis? Não me lembrava de ter pedido flores, e muito menos esperava por uma entrega. Meu olhar oscilou entre o buquê e Yuri.

— Quando eu cheguei — continuou ele —, o entregador estava prestes a bater na porta. Coincidência ou destino, quem sabe?

Passei a mão pelos cabelos, ainda tentando processar o que estava acontecendo.

— Primeiro, obrigada pelo café. Ontem à noite eu nem consegui jantar, então isso é uma maravilha. — Fiz uma pausa, olhando de novo para o buquê. — Agora, sobre as flores... não faço ideia de quem poderia ter enviado.

Yuri revirou os olhos, sempre com seu jeito impaciente, e apontou para o pequeno cartão preso entre as flores.

— Tem um cartãozinho junto, abre, sua tonta!

— Calma, menino — falei, contendo um sorriso, enquanto pegava o bilhete. Desdobrei o pequeno pedaço de papel, sentindo uma pontada de curiosidade e nervosismo ao mesmo tempo.

"Bom dia! Que essas flores façam o seu dia um pouquinho melhor.

Won't you kiss me on the mouth and love me like a sailor?
Não esqueci essa parte da música :)

Ass: GG"

Meu coração deu um pulo ao ler o bilhete. "Won't you kiss me on the mouth and love me like a sailor?" Era uma referência clara à música que eu tinha cantado para a Gabi ontem, quando estávamos só nós duas. O engraçado era que era bem a parte em que cantei. Eu sempre me perguntei se havia algo mais no jeito que ela me olhava, nas coisas que eu sentia, nas coisas quando eu não queria me permitir sentir, uma tensão no ar que eu não sabia como interpretar. Agora, isso.

Yuri me observava de perto, os olhos semicerrados enquanto tentava ler meu rosto.

— E então? Vai me dizer quem é o admirador secreto? — perguntou ele, cruzando os braços, mas com um sorriso de quem já sabia a resposta. — Não me diga que é aquele cara da lanchonete que sempre te manda sobremesa extra!

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