47 - ceder

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20 de novembro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

No dia seguinte, assim que pisei na quadra para o treino, percebi que a dor no joelho não havia desaparecido. Na verdade, parecia mais intensa, uma pontada aguda que me lembrava de cada movimento do dia anterior. Tentei disfarçar, convencendo a mim mesma de que era apenas uma consequência do esforço no jogo e que, em breve, passaria. Afinal, todos esperavam que eu estivesse pronta para o próximo desafio.

Conforme o treino avançava, cada salto e cada corrida eram acompanhados por uma dor surda, insistente, que parecia zombar dos meus esforços para ignorá-la. Em um momento, ao girar rapidamente, senti como se o joelho fosse ceder, e meu corpo inteiro se enrijeceu, tentando conter o impacto. A treinadora me observou com um olhar preocupado, mas balancei a cabeça, tentando afastar qualquer sinal de fraqueza.

A verdade é que eu não queria parar. A sensação de conquistar aquela vitória no jogo anterior ainda estava fresca, e a ideia de deixar a quadra agora me parecia uma derrota. Porém, cada passo começava a pesar mais. Os rostos das minhas companheiras refletiam uma mistura de admiração e apreensão, e percebi Gabi me observando de longe, como se esperasse o momento em que eu finalmente admitiria que algo estava errado.

 Os rostos das minhas companheiras refletiam uma mistura de admiração e apreensão, e percebi Gabi me observando de longe, como se esperasse o momento em que eu finalmente admitiria que algo estava errado

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No final do treino, a dor já era difícil de esconder, e eu me sentia esgotada. Fui até o banco e, ao me sentar, senti um alívio momentâneo. Eu sabia que precisava cuidar desse joelho, mas a ideia de parar, ainda que temporariamente, era frustrante.

— Você está bem? Está sentindo o joelho de novo? — Gabi se aproximou silenciosamente e se sentou ao meu lado, colocando uma mão firme e reconfortante sobre minha coxa. O calor de seu toque e a preocupação em seus olhos me fizeram sentir menos sozinha naquela batalha invisível contra a dor.

Olhei para ela, tentando sorrir para afastar a tensão. — Estou... Quer dizer, não é nada que eu não possa aguentar. É só um pouco de dor de novo. — Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria, e Gabi arqueou a sobrancelha, claramente não convencida.

— Amélia... — Ela apertou minha coxa levemente, em um gesto que me fez sentir segura, mas também exposta. — Você não precisa fingir que está tudo bem. Sabe disso, né? Ontem foi intenso, e você jogou como nunca. Mas não vale a pena arriscar uma lesão séria agora.

Eu respirei fundo, desviando o olhar para o chão, tentando encontrar as palavras. Parte de mim queria minimizar a situação, agir como se a dor fosse apenas um detalhe. Mas outra parte sabia que, ao lado dela, eu podia ser honesta.

— Eu sei. Só que... — Fiz uma pausa, lutando com os sentimentos. — É difícil admitir que estou com medo. Medo de que essa dor acabe me tirando da quadra, de não conseguir manter o ritmo. E ontem... vencer foi incrível, sabe? Eu não quero perder isso.

Gabi permaneceu em silêncio por alguns segundos, absorvendo minhas palavras. Em seguida, se inclinou um pouco mais, seus olhos fixos nos meus. — Ei... Ninguém aqui espera que você seja indestrutível. Eu vi o quanto você se dedicou, o quanto lutou. Mas também sei que uma das coisas que mais admiro em você é essa coragem para enfrentar tudo. E, às vezes, isso significa saber a hora de cuidar de si mesma.

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