7 de julho; 2028
AMÉLIA MARTINEZQuatro anos se passaram, e muita coisa mudou, mas uma constante ainda era a saudade que eu carregava, especialmente em momentos como este. As Olimpíadas estavam acontecendo, e o barulho da torcida, as cores e as vibrações da quadra traziam uma sensação de adrenalina, de desejo, de tudo o que eu ainda não podia tocar. Eu estava lá, sentada na arquibancada, não como jogadora, mas como espectadora. Uma parte de mim queria estar em quadra, a energia do jogo correndo nas minhas veias, mas a outra parte sabia que aquele momento não era para mim. Não ainda.
Minha recuperação havia sido longa, exaustiva, mas finalmente eu estava 100%, mais forte, mais preparada do que jamais imaginei ser possível. O médico, os fisioterapeutas, todos me ajudaram a voltar, e eu sabia que estava quase pronta para retomar a minha vida como jogadora. Mas as Olimpíadas não seriam o meu retorno. Não agora.
Eu observei as jogadoras, as meninas do time, com a mesma admiração que sempre senti, mas também com um vazio que me apertava o peito. Elas estavam ali, jogando pelo ouro, realizando os sonhos de tantos, e eu... eu só assistia, com um nó na garganta.
Não era que eu não quisesse estar lá. Eu queria, sim, mais do que qualquer coisa. Mas o peso do meu passado ainda estava comigo. A dor da despedida, a luta contra os meus próprios medos, tudo isso ainda ecoava dentro de mim. Não era uma simples lesão, e nem uma simples recuperação. Era uma reconquista de quem eu era, do que eu significava para o jogo e para mim mesma.
Olhei para a quadra mais uma vez, as luzes brilhando intensamente, a torcida se levantando a cada ponto. Lembrei-me de como era estar lá, a sensação do bloqueio perfeito, o grito de vitória, a adrenalina pulsando através do corpo. Mas não era o meu momento. Ainda não.
E então, por um momento, fechei os olhos e imaginei: como seria voltar? Como seria me lançar de novo no jogo, com o peso das expectativas, com a pressão das quadras internacionais, mas também com a certeza de que eu estava pronta para isso? A dúvida estava lá, sempre presente, mas não mais paralisante.
Eu sabia que, um dia, meu retorno viria, mas hoje, eu apenas observava, sentia e, de alguma forma, já me preparava para o que ainda estava por vir. O vôlei sempre seria meu, mas o tempo me ensinou a esperar pelo momento certo.
— Amiga, porra! Você tem noção! Se os Estados Unidos vencer esse jogo, eles vão jogar contra o Brasil amanhã! Na final! — Yuri exclamou, seu entusiasmo evidente. Ele estava ao meu lado, pulando de um lado para o outro, com o olhar fixo na tela, torcendo como um louco.
Eu olhei para ele, sentindo o peso daquelas palavras, mas também uma ansiedade crescente. O jogo, a competição, o Brasil... tudo aquilo me trazia de volta àquela parte de mim que eu ainda não tinha deixado para trás, por mais que tentasse. Depois de tanto tempo isolada, longe de tudo, o pensamento de voltar para a arena, para a quadra, me fazia tremer. E não era só pelo vôlei. Era pelo que mais eu sabia que viria.
Eu havia passado anos em uma ilha remota, sem sinal de celular, sem internet, vivendo em um ritmo completamente diferente, tentando me curar, me encontrar. E no meio dessa solidão, sempre que eu sentia que o peso era insuportável, Yuri aparecia com seu jeitão animado, trazendo notícias, histórias e, claro, sua energia contagiante. Ele nunca me deixou sozinha, e isso significava o mundo para mim. Ele tinha sido uma presença constante, me arrastando para cá, para este momento, depois que o tratamento finalmente terminou e eu me sentia pronta para encarar o mundo novamente.
Mas agora, o que ele estava dizendo... jogar contra o Brasil... Eu sabia que isso significava muito mais para mim do que qualquer outra coisa. O Brasil, o time, a seleção, e ela... Gabi. Meu coração acelerou, e o pensamento de vê-la novamente me fez sentir uma mistura de excitação e medo. Todo esse tempo longe dela tinha sido uma prova. E a saudade, essa saudade imensa, me consumia em cada momento. Eu dormia todas as noites com uma foto nossa ao lado da minha cama, lembrança de algo que parecia cada vez mais distante. Mas, ao mesmo tempo, sabia que, por mais doloroso que fosse, eu tinha feito a coisa certa. Eu precisava me recuperar, e eu precisava dessa distância, mas isso não diminuía o amor que ainda sentia por ela.
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Missão impossível
FanfictionAmélie Martinez, uma jovem jogadora de vôlei talentosa, recentemente medalhista de ouro nas Olimpíadas, encontra-se diante de uma importante decisão em sua carreira: escolher o clube onde continuará a brilhar. Ela opta pelo renomado Imoco Conegliano...