22 - quem ela pensa que é

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27 de outubro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

ainda sentia a leveza da conversa com a Gabi, mas algo me incomodava. As palavras dela soaram tão... profundas, tão diferentes. Parecia que ela sabia de algo, que entendia mais sobre mim do que eu mesma havia revelado. Uma parte de mim queria acreditar que aquilo era só o jeito carinhoso dela de me dar apoio, mas outra parte, a parte que eu raramente admito, estava desconfiada.

Desde o início, Gabi sempre foi atenciosa, mas ontem... o tom foi diferente. Fiquei com um pé atrás, tentando ignorar o impulso de achar que Paola tinha alguma coisa a ver com isso. Mas, no fundo, algo me dizia que as duas haviam conversado. Não era o tipo de coisa que Paola faria sem motivo, eu sabia disso, mas Gabi não poderia ter mudado tão rápido. E Paola sabia de mais coisas sobre mim do que qualquer outra pessoa.

Me sentei no canto do ginásio, observando as meninas se aquecerem. Aquele pensamento estava lá, martelando na minha cabeça. Se Paola realmente contou algo a Gabi, como eu iria lidar com isso? Ela conhecia detalhes da minha vida que nunca contei para ninguém mais. Por mais que eu confiasse em Gabi, ainda não sabia se estava pronta para que ela visse partes de mim que eu tentava esconder até de mim mesma.

Foi então que ouvi uma voz ao meu lado.

— Ei, sumida. — Gabi se aproximou, com aquele sorriso de sempre.

Tentei sorrir de volta, mas sabia que não estava saindo como eu queria. — Oi! Tudo bem?

Ela pareceu notar minha hesitação, mas, ao invés de perguntar, se sentou ao meu lado no banco. — Pensei em te mandar mensagem de novo ontem, mas achei que seria muita coisa. Sei que foi um dia cheio para você.

— Foi mesmo. — Respondi, sem jeito, lembrando das mensagens da noite anterior. O jeito como ela falava parecia tão próximo, tão... conhecedor. O que me deixava ainda mais nervosa.

Ela inclinou a cabeça, me observando. — Algo te incomoda?

O impulso de perguntar diretamente sobre Paola veio à tona, mas segurei. Não queria parecer desconfiada, não queria mostrar que estava com medo de me abrir.

— Não, nada demais. Só... tenho muita coisa na cabeça ultimamente. — Tentei afastar o assunto com um sorriso.

Gabi assentiu, mas algo em seu olhar me dizia que ela não acreditou completamente. Ela ficou quieta por alguns segundos antes de responder.

— Amélia, só queria que você soubesse que, mesmo com tudo, eu tô aqui. Para tudo. E, se precisar de qualquer coisa, mesmo que seja só para desabafar... pode contar comigo.

Respirei fundo, me esforçando para manter minha expressão tranquila. Tinha uma parte de mim que queria confiar plenamente em Gabi, mas outra parte ainda mantinha aquele muro alto e sólido, com medo do que ela poderia ver do outro lado.

Ficamos em silêncio, lado a lado, e eu podia sentir a presença de Gabi quase como um peso — não algo ruim, mas algo que me pressionava a ser honesta, a deixar cair a fachada. Olhei para frente, observando as meninas rindo e conversando enquanto faziam alongamentos, tentando ignorar o olhar atento de Gabi. Mesmo sem falar nada, ela parecia ler o que eu sentia, o que era desconcertante.

Respirei fundo, tentando ganhar coragem para falar, mas as palavras simplesmente não vinham. Eu não sabia por onde começar, nem mesmo o que eu realmente queria dizer.

— Sabe, Amélia, eu sei que é difícil confiar. — Gabi quebrou o silêncio, sua voz suave, mas firme. — Mas eu tô aqui. Não vou a lugar nenhum.

Essas palavras caíram sobre mim com uma intensidade inesperada. Elas tocaram um ponto sensível, aquele que eu tentava esconder. Sem perceber, meus dedos começaram a brincar com a pulseira que eu usava, um pequeno hábito nervoso que me acompanhava desde sempre. Eu sabia que, se realmente me abrisse para ela, não teria como voltar atrás. Estar ali, com ela me dando aquele espaço, era tentador e assustador ao mesmo tempo.

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