10 - bem, fotogênica

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8 de outubro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

A campainha soou, e eu fui arrancada do sono com um baque. Ainda tonta, sem entender direito o que estava acontecendo, resmunguei e levantei da cama. Barulhos me acordando nunca são uma boa maneira de começar o dia. Fui até a porta, imaginando quem poderia estar ali a essa hora.

Quando abri, me deparei com a Gabi, com aquele sorriso leve de sempre e já vestida com o uniforme de treino. Meu coração deu um pulo e, por um segundo, fiquei paralisada. Por que ela estava ali? Então, meu olhar correu até o relógio no hall de entrada. Oito horas da manhã.

— Puta merda! — soltei sem pensar. O treino começava às 7h15. Como eu tinha deixado isso acontecer?

Gabi riu, se inclinando na porta de um jeito relaxado.

— Acordou, Bela Adormecida? — ela provocou, com uma sobrancelha arqueada.

Senti o rosto queimar de vergonha. Como eu podia ter feito isso? Fui idiota o suficiente pra esquecer o treino e ainda fiz Gabi vir me buscar.

— Meu Deus, Gabi, eu fiz você vir até aqui me chamar? Desculpa, desculpa, entra aí! Eu vou me trocar rapidinho — falei, quase tropeçando enquanto corria pro quarto.

Antes que eu pudesse ir longe, senti Gabi segurar meus ombros suavemente. O toque dela me parou no lugar.

— Ei, calma! Deixa eu falar primeiro — a voz dela era firme, mas não severa. — Primeiro, eu trouxe café pra gente. Segundo, o Deniele teve uma reunião de última hora, então o treino foi adiado pra 10h30.

O alívio me atingiu como uma onda, mas a sensação foi rapidamente substituída pela consciência de que eu estava só de baby doll na frente dela. Não éramos tão íntimas assim... ou será que éramos?

Gabi sorriu, como se lesse minha mente, e eu ri, me perguntando se ela percebia o quanto me deixava confusa.

Gabi entrou no apartamento, e eu fui direto pro quarto, tentando organizar os pensamentos enquanto procurava algo pra vestir. Meu coração ainda estava acelerado, tanto pela pressa quanto pela presença dela. Eu me permiti um segundo pra respirar e me olhar no espelho — o rosto ainda marcado de sono, o cabelo bagunçado. Ótimo, eu parecia um desastre completo.

Vesti uma calça de moletom e uma camiseta simples, tentando não demorar demais. Não queria deixar Gabi esperando. Quando voltei pra sala, ela estava sentada no sofá, mexendo no celular, e um cheiro delicioso de café já tomava o ambiente.

— Trouxe cappuccino, que eu vi em algum lugar que você gosta — ela disse, sem tirar os olhos da tela, mas com aquele tom casual que sempre me desarmava.

— Você é um anjo, sabia? — Eu sorri, sentando ao lado dela, ainda um pouco envergonhada pela confusão de antes.

Ela finalmente levantou o olhar, me observando por um segundo, e depois riu de leve.

— Bom, acho que se eu fosse um anjo, você teria perdido a hora, né?

Eu corei de novo, incapaz de me segurar. Peguei o café e dei um gole para disfarçar, sentindo o calor reconfortante se espalhar pelo meu corpo. Gabi tinha essa habilidade de me deixar desconcertada, mas ao mesmo tempo confortável. Era uma mistura que eu ainda estava tentando entender.

Enquanto tomávamos o café em silêncio, eu percebi que, apesar do nervosismo inicial, estar com ela assim, em um momento tão simples, era agradável. Quase normal, como se isso acontecesse todos os dias. Mas, ao mesmo tempo, havia algo ali. Algo não dito. Eu podia sentir isso no ar.

— Então, você ficou acordada até tarde ontem? — Gabi perguntou de repente, quebrando o silêncio.

— É... fiquei. Estava tentando estudar algumas times que provavelmente vamos enfrentar, e acabei me perdendo nas horas. Você sabe como é, né? — Menti, tentando soar casual. A verdade era que eu mal conseguira dormir pensando em tudo que estava acontecendo ultimamente, principalmente sobre ela.

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