50 - o medo existe

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23 de novembro;2024
AMÉLIA MARTINEZ

O treino foi intenso, como sempre, mas algo estava diferente. A energia no ar estava carregada de expectativa, com o jogo importante no dia seguinte. Eu sabia que todos estavam focados, mas o olhar de Gabi sobre mim, sentado na beirada da quadra, distraído em meio ao seu próprio pensamento, mantinha minha atenção desviada da rotina habitual.

O treinador nos passou o aquecimento rapidamente e logo começamos a trabalhar nas finalizações. Eu, como sempre, focava no máximo em cada movimento, mas uma parte de mim não conseguia deixar de pensar nas risadas e nas conversas que compartilhávamos fora da quadra. A intensidade dos treinos muitas vezes fazia minha cabeça ficar agitada, mas a presença dela sempre trazia uma calmaria inesperada, como uma âncora no meio do turbilhão.

O som da bola batendo no chão ecoava pela quadra, mas, mesmo assim, as imagens da noite anterior não saíam da minha mente. O sorriso de Gabi, o toque suave do seu abraço, tudo parecia estar misturado com a adrenalina do treino. Isso me deixava com uma sensação de necessidade, como se a quadra fosse o único lugar onde eu pudesse me entregar completamente ao jogo e ao mesmo tempo encontrar uma forma de equilíbrio com os sentimentos que se intensificavam por ela.

— Vamos, Amélia, — meu treinador gritou, quebrando meus pensamentos. — Mais foco!

Eu assenti, ajustando minha postura e me concentrando novamente no jogo. Sabia que amanhã seria crucial. Cada ponto, cada movimento, cada decisão, tudo precisava ser perfeito. E, no fundo, eu também sabia que, não importava o que acontecesse durante o jogo, eu tinha Gabi ao meu lado — isso me dava mais confiança do que qualquer treino poderia me oferecer.

O treino continuou, mas a sensação de antecipação estava mais forte do que nunca. Sabia que o jogo de amanhã era apenas mais uma etapa, mas o que mais me consumia era o que aconteceria depois. Quando as luzes se apagassem e todos estivessem indo para casa, onde estaríamos eu e Gabi? Isso, sim, era o verdadeiro jogo que eu estava começando a entender.

O treino estava se intensificando e, apesar da minha concentração, eu não pude deixar de perceber uma dor incômoda no meu joelho direito. Inicialmente, pensei que fosse algo passageiro, uma tensão que logo passaria, mas conforme os minutos se arrastavam, a dor aumentava. Era como se cada movimento amplificasse a sensação, e logo percebi que não era apenas cansaço muscular. Algo estava fora do lugar.

A cada salto, a cada corrida pela quadra, a dor se intensificava, e eu tentava disfarçar. Não queria mostrar fraqueza diante do time, especialmente com o jogo importante no dia seguinte. Mas o incômodo estava ali, constante e insistente.

Por um momento, fiquei distraída demais com a dor e não percebi a bola vindo em minha direção. Tive que dar um passo rápido para a direita e, ao forçar o movimento, senti uma pontada aguda. Foi o suficiente para me fazer parar por um segundo, sentindo um frio na espinha.

— Tudo bem, Amélia? — Gabi, que estava na beirada da quadra, percebeu imediatamente. Seus olhos se estreitaram, preocupados.

Eu tentei sorrir, tentando esconder o desconforto. — Só uma leve dor, nada demais. Não se preocupe.

Mas ela não parecia convencida. Seu olhar insistente me fez perceber que não podia continuar ignorando o que estava sentindo.

— Melhor dar um tempo, Amélia. Não vale a pena forçar agora, — ela disse com uma firmeza que me fez reconsiderar continuar.

Eu hesitei, mordendo o lábio inferior. O treino estava quase no fim, e eu queria terminar bem, dar o meu melhor, mas a dor no joelho estava começando a afetar minha confiança.

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