57 - meia-volta

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4 de dezembro; 2024
GABRIELA GUIMARÃES

Eu estava alguns passos na frente da Amélia quando ouvi o som da bola batendo em cheio contra ela. Foi um barulho seco, rápido, e em seguida a vi caindo para trás, o rosto virado para cima, e a mão instintivamente indo ao joelho. Meu coração parou por um segundo. Eu nunca tinha visto ela assim.

Não pensei em mais nada, só dei meia-volta e corri até ela. Ver o sangue escorrendo do nariz dela e a expressão de dor no rosto foi como um soco no estômago. Amélia, minha Amélia, que sempre se mostrava tão forte, estava ali, machucada, vulnerável. Minha vontade era segurá-la, dizer que ia ficar tudo bem, mas eu sabia que precisava deixá-la respirar, dar espaço para os socorristas.

Os médicos chegaram rapidamente, mas cada segundo que eu ficava parada, apenas observando, parecia uma eternidade. Eu me sentia completamente impotente. Ela fechou os olhos e soltou um suspiro, tentando conter a dor, e aquilo me quebrou de uma forma que eu não esperava. Minha mão formigava de vontade de tocar a dela, e quando, finalmente, eles permitiram que eu me aproximasse, eu não hesitei.

Me ajoelhei ao lado dela e segurei sua mão. Estava fria, trêmula, e eu apertei com toda a minha força, querendo passar toda a segurança que eu podia. O rosto dela ainda estava sujo de sangue, e o joelho parecia inchado, mas, mesmo assim, ela me olhou, e havia algo ali, um brilho que me dizia que ela estava tentando ser forte, talvez até por mim.

— Amélia, por favor, me diz que vai ficar tudo bem... — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, cheia de uma preocupação que eu não conseguia esconder.

Ela tentou sorrir, mas era um sorriso pequeno, dolorido. E, naquele momento, eu soube que não importava o que acontecesse a partir dali, eu ia estar ao lado dela. Os socorristas disseram que precisavam levá-la para a ambulância, e eu mal esperei que terminassem de falar.

— Eu vou com ela, de qualquer jeito. — Minha voz saiu firme, mais para mim mesma do que para eles. Eu não ia sair de perto dela agora.

Enquanto a ajudavam a se levantar, continuei ao seu lado, sem soltar sua mão. Senti ela apertar a minha de volta, um toque fraco, mas que dizia tudo o que eu precisava saber. Ela não queria que eu saísse dali, e eu ia honrar isso, acontecesse o que acontecesse.

 Ela não queria que eu saísse dali, e eu ia honrar isso, acontecesse o que acontecesse

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Horas mais tarde

No hospital, a atmosfera era fria e impessoal, com as paredes brancas e o som constante de máquinas monitorando os batimentos de Amélia. Eu estava sentada ao lado dela, segurando sua mão, e tudo parecia surreal. Cada minuto de espera parecia uma eternidade enquanto os médicos faziam exames e analisavam os resultados. Amélia estava pálida, e eu via o cansaço e a dor nos olhos dela, mesmo que tentasse esconder.

Finalmente, o médico entrou na sala com uma expressão séria. Eu senti o ar sair dos meus pulmões, e apertei a mão dela um pouco mais forte, tentando dar forças. O médico começou a explicar o diagnóstico: uma lesão grave no joelho. Ele falava em termos técnicos, mencionando ligamentos rompidos e a complexidade da recuperação. Eu sabia que Amélia estava ouvindo, mas também vi quando o rosto dela perdeu a cor. Aquilo era o pior que poderia ouvir.

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