60 - Um passo de cada vez.

187 35 3
                                    

18 de dezembro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

Duas semanas. Esse era o tempo que eu estava trancada no mesmo ciclo: acordar, encarar o teto, lutar contra o turbilhão de pensamentos e, no final, me render ao peso de tudo. Eu sabia que estava deixando todos preocupados, especialmente a Gabi. Ela estava comigo, cada dia, tentando ser paciente, tentando me alcançar, mas eu me sentia como se estivesse presa num espaço que ninguém mais podia alcançar.

O silêncio ao meu redor era o único lugar onde eu não precisava lidar com as perguntas e expectativas de ninguém. E, ao mesmo tempo, era sufocante. Eu sabia que precisava encarar o que estava sentindo, mas a verdade nua e crua era que eu não sabia como. A dor no joelho era constante, uma lembrança amarga de que talvez eu nunca voltasse a jogar. A possibilidade de perder o que eu mais amava... Isso me deixava sem chão. Era como perder uma parte de mim, como se tudo que eu construí estivesse desmoronando aos poucos.

Meu celular estava cheio de mensagens não lidas. Paola, Yuri, meu técnico, até minha família... mas eu simplesmente não conseguia responder. Não queria dizer nada, não queria explicar a dor. Era mais fácil me esconder, fingir que ninguém estava ali, tentando me ajudar. Mas isso não fazia o vazio sumir.

Naquela manhã, Gabi entrou no quarto de novo. Ela tinha um olhar preocupado, mas tentava manter o sorriso de sempre. Sentou ao meu lado, sem dizer nada, apenas me acompanhando em silêncio. Eu sabia que ela não ia desistir, mas também sabia que minha apatia estava afetando ela.

Depois de alguns minutos, ela pegou minha mão, como quem queria me puxar de volta à realidade.

- Amélia... eu tô aqui, sabe? - ela disse, com a voz suave. - Não precisa enfrentar isso sozinha.

Eu queria responder, dizer que eu sabia, que eu agradecia... mas as palavras simplesmente não vinham. Fiquei encarando nossas mãos juntas, como se aquilo fosse a única coisa concreta na minha vida agora.

- E se... e se eu não conseguir voltar? - murmurei, quase sem voz. A pergunta que eu tinha medo de encarar finalmente escapou.

Ela me olhou com tanta compaixão que doeu.

- A gente vai dar um jeito, de algum jeito, você não precisa ter todas as respostas agora. E eu tô aqui pra segurar sua mão, por quanto tempo precisar.

Foi nesse momento que senti uma lágrima escorrer, e finalmente, depois de dias de negação, deixei que a dor saísse. Gabi ficou ali, segurando minha mão, em silêncio, me dando o apoio que eu precisava. Ela era minha âncora, e talvez, com o tempo, eu conseguisse reencontrar o caminho de volta para mim mesma.

- Meu amor, agora eu tenho que ir treinar com o time, mas depois eu volto, ok? - Gabi disse suavemente, inclinando-se para me dar um beijo na testa.

Ela se abaixou, mantendo o olhar preso ao meu por um instante, como se quisesse deixar claro que, mesmo saindo, ela continuaria comigo de algum jeito. Eu sentia o calor de suas mãos ainda segurando as minhas, e o toque delicado dela na minha testa era como um lembrete de que eu não estava sozinha.

- Se precisar de alguma coisa, me manda mensagem. Eu volto correndo, tá? - completou, com um sorriso leve que tentava me transmitir segurança.

Assenti, incapaz de encontrar as palavras. Só balancei a cabeça, tentando não deixar transparecer o quanto eu temia ficar sozinha de novo naquele quarto. Antes de se afastar, ela roçou os lábios nos meus de forma rápida, mas cheia de carinho, como quem quisesse me deixar um pouco de sua força.

Observei enquanto ela pegava a mochila e caminhava em direção à porta. Antes de sair, virou-se mais uma vez, lançando-me um último olhar, como quem promete estar sempre por perto.

Missão impossível Onde histórias criam vida. Descubra agora