56 - tudo desmoronou na minha frente

293 54 19
                                    

4 de dezembro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

O dia do jogo finalmente havia chegado. Acordei cedo, com o som do despertador cortando o silêncio da manhã. Olhei para o lado, onde Gabi ainda estava dormindo, completamente relaxada. Eu me senti em paz, mas ao mesmo tempo, uma onda de nervosismo começou a se formar dentro de mim. O jogo era importante demais, e eu sabia que estava arriscando tudo ao voltar tão cedo, ainda com o joelho em recuperação.

Levantei devagar para não acordá-la e fui até o banheiro. O reflexo no espelho me mostrou uma versão de mim mesma que eu não via há semanas — alguém focada, mas com um misto de ansiedade e excitação no olhar. Encarei-me por alguns segundos, tentando me convencer de que eu estava pronta para aquilo. Para qualquer coisa que o jogo fosse me trazer.

Depois de um banho rápido, vesti o uniforme e me senti um pouco mais centrada. Quando voltei para o quarto, Gabi já estava acordada, se espreguiçando e olhando para mim com aquele sorriso caloroso que sempre me fazia me sentir mais segura.

— Está pronta, Amélia? — ela perguntou, com os olhos brilhando, como se soubesse que eu estava nervosa, mas sem demonstrar o mínimo de dúvida.

Eu dei um sorriso tenso, tentando esconder o receio que ainda estava ali, mas a confiança dela me deu um pouco mais de calma.

— Acho que sim. — respondi, tentando disfarçar o nervosismo. — só um pouco de medo, não sei explicar

Gabi sorriu de leve, se aproximando um pouco mais. Ela segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos, e falou com uma calma que parecia se espalhar por mim.

— Tá tudo bem sentir medo. A gente não precisa ter tudo resolvido agora, sabia? — ela disse, acariciando minha mão com o polegar. — O importante é a gente estar aqui, juntas. O resto a gente vai descobrindo aos poucos.

Eu a encarei, ainda sentindo meu coração disparado, mas sua presença e suas palavras traziam uma sensação de conforto. Ela continuou, com um brilho suave nos olhos:

— E, ó, tô do seu lado pra o que der e vier.

O que mais me tranquilizava era saber que Gabi estaria ali. O jeito que ela me olhou, como sempre, fez eu me sentir mais forte, mais pronta.

No caminho para o estádio, o ambiente parecia estar carregado de energia. As jogadoras do time estavam com o foco em seus próprios pensamentos, mas era possível sentir a atmosfera pesada de expectativa. Santarelli estava concentrado, dando as últimas orientações, enquanto os membros da equipe de apoio faziam os ajustes finais.

Quando chegamos ao vestiário, o som dos gritos da torcida já podia ser ouvido do lado de fora, e a adrenalina começou a crescer dentro de mim. A equipe estava se preparando, colocando as últimas fitas, ajustando uniformes e, no meu caso, fazendo os últimos testes no joelho. Santarelli fez mais uma checagem final comigo e me garantiu que eu estava pronta para a partida. Meu corpo estava respondendo bem, e a dor no joelho estava sob controle.

— Você vai arrasar, Amélia. — Gabi disse, se aproximando mais uma vez, com um olhar profundo e confiável. — Só vai lá e se entrega.

Ela segurou minha mão por um momento e, ao me soltar, passou um rápido beijo na minha testa. Eu senti a intensidade daquele gesto e percebi que, mais do que nunca, eu estava pronta para enfrentar qualquer desafio.

A energia na quadra estava indescritível quando entramos. A torcida estava em peso, e eu pude sentir aquele calor na pele. Fui para a linha de ataque, meu lugar no time. Eu sabia que tinha uma responsabilidade imensa, não só comigo mesma, mas com todo o time e a torcida que acreditava em mim.

Missão impossível Onde histórias criam vida. Descubra agora