48 - o temperos especial

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22 de novembro;2024
AMÉLIA MARTINEZ

Com o passar dos dias, a rotina intensa de treinos e cansaço parecia se tornar um pouco mais suportável com a presença constante de Gabi ao meu lado. Estávamos exaustas, é verdade, mas saber que, no fim de cada dia, voltaríamos para casa juntas me dava forças para seguir.

Nas noites em que ela passava em minha casa, era como se o ambiente ganhasse vida de uma maneira única. Havia uma energia leve, quase palpável, como se cada canto do espaço fosse tocado por sua presença. Os pequenos momentos que compartilhávamos, que poderiam parecer triviais para outros, eram exatamente o que tornava tudo especial.

Enquanto cozinhávamos juntas, ela ria baixinho de alguma piada interna ou das minhas tentativas desajeitadas de seguir sua receita preferida. Em uma dessas noites, lembro de como ela me ensinou pacientemente a picar cebolas sem chorar — ela ria tanto que quase derrubava os ingredientes pela cozinha.

Depois do jantar, sempre vinha a nossa rotina de "relaxamento" que, para minha surpresa, incluía yoga. Ela me arrastava para o tapete, dizendo que seria bom para "aliviar as tensões do treino". Eu descobri que tenho uma paciência infinita para tentar acompanhar seus movimentos, mesmo tropeçando na maioria deles. Ver a leveza com que ela se movia me fazia esquecer do dia intenso que tinha passado.

Quando finalmente íamos para a sala, ela se acomodava no sofá como se aquele espaço fosse seu, e eu adorava ver como ela parecia se sentir em casa. Colocava uma série ou filme qualquer, às vezes algo que nem importava muito, e se enroscava ao meu lado, buscando aconchego. Ficávamos ali, trocando comentários engraçados sobre o que aparecia na tela, até o sono ir tomando conta. Aquela simplicidade — o calor do seu corpo ao meu lado, o som suave de sua respiração enquanto adormecia — transformava o ambiente, preenchendo cada parte da casa com uma sensação de paz e pertencimento que há muito eu não sentia.

No meio do caos de treinos exaustivos e dos desafios constantes que enfrentávamos, esses momentos juntos eram como uma pausa, um refúgio. Eram o equilíbrio perfeito, aquele pedacinho de calma que eu precisava para continuar, e que, sem perceber, ela me oferecia.

Em uma dessas noites, depois de um treino particularmente exaustivo, estávamos jogadas no sofá, eu com as pernas apoiadas no colo dela enquanto ela massageava meus pés.

— Acho que você deveria ganhar um prêmio por isso — murmurei, fechando os olhos ao sentir suas mãos aliviarem a tensão.

Ela riu, inclinando-se para me olhar. — Considero isso uma honra. Mas talvez o prêmio venha em forma de janta, que tal?

— Feito! — respondi, tentando conter o riso. — Mas você vai ter que me ajudar, porque estou completamente acabada.

Nos levantamos com esforço e fomos para a cozinha, onde começamos a preparar algo simples. Entre risadas, provocações e olhares que falavam mais do que palavras, percebi o quanto me acostumei a tê-la ali, como se a presença dela tivesse se tornado parte do meu dia a dia.

— Risoto, hein? Espero que você não esteja se referindo ao seu 'experimento' da última vez.

— Aquilo foi um acidente! — defendi, rindo. — Esta será uma obra-prima. Você só precisa confiar no meu talento culinário.

— Confiança é a palavra, não é? — ela disse, dando um passo mais perto. — Mas, se você começar a queimar o arroz de novo, vou ter que intervir.

Comecei a cozinhar, contando os ingredientes em voz alta. — Primeiro, cebola picada, depois o arroz. E, claro, um pouco de vinho! Isso é o que dá sabor. — Fiz uma pausa e olhei para ela. — Mas não se preocupe, estou seguindo a receita direitinho.

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