11 - não se preocupa

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10 de outubro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

o despertador tocou pontualmente às 6h30, e eu quase o joguei pela janela. Meu corpo ainda estava exausto do treino anterior, e minha mente não parava de reviver a confusão do que aconteceu ontem. Cada vez que eu fechava os olhos, as imagens dos tweets, das risadas no vestiário, e o jeito despreocupado de Gabi voltavam à tona. Eu não sabia como lidar com tudo aquilo, muito menos como agir perto dela agora.

Levantei-me devagar, tentando sacudir o sono que ainda me envolvia. Tomei um banho rápido, esperando que a água fria me acordasse e clareasse minha mente. O treino hoje começava mais cedo, então não tinha tempo para ficar remoendo pensamentos. Ainda assim, o desconforto não saía.

Peguei meu celular, hesitante. Havia várias notificações de mensagens e menções nas redes sociais, mas eu as ignorei por enquanto. Não queria ver o que mais estavam dizendo. Preferia me concentrar no treino e tentar colocar minha cabeça no lugar.

Assim que cheguei na academia, as coisas pareciam um pouco diferentes. A energia estava mais calma, como se o pico de curiosidade e excitação de ontem tivesse se dissipado um pouco. A sala de treino ainda estava vazia quando entrei, e isso me deu uma sensação de alívio. Coloquei minha bolsa no canto e comecei a alongar em silêncio, focando na respiração, tentando acalmar meu coração acelerado.

Foi quando ouvi passos leves se aproximando. Gabi entrou logo em seguida, com aquele sorriso típico no rosto, mas havia algo diferente. Talvez fosse a leve tensão no ar ou o fato de que ela, também, parecia um pouco mais reservada do que o normal.

— Bom dia! — ela disse, animada, embora sua voz carregasse uma camada de cansaço. — Está pronta para mais um treino pesado?

Eu sorri de volta, mas senti minhas bochechas esquentarem imediatamente.

— Acho que sim, estou tentando me preparar mentalmente... e fisicamente. — respondi, tentando soar descontraída, mas meu nervosismo era evidente.

— Bom, pelo menos você chegou no horário — Gabi brincou, cutucando-me com o cotovelo, e eu ri, agradecendo mentalmente pela tentativa dela de manter as coisas leves. Mas algo me dizia que o que aconteceu ontem ainda estava pairando sobre nós.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, outras jogadoras começaram a entrar, e logo o treinador chegou, colocando todos para o aquecimento. Durante o treino, tentei me concentrar o máximo possível. Gabi estava jogando ao meu lado, como de costume, e o entrosamento entre nós duas ainda era perfeito, apesar do desconforto residual. Cada saque, cada ataque, tudo fluía naturalmente quando estávamos juntas, como se estivéssemos sincronizadas em outro nível.

Mas, ao mesmo tempo, toda vez que nossos olhares se encontravam, eu sentia aquele nó no estômago, aquela tensão que antes não existia. E, pior, eu não sabia se ela sentia o mesmo.

Depois de uma hora intensa de treino, o treinador finalmente nos deu uma pausa. Eu estava pegando minha garrafa de água quando vi Marina se aproximar, com um sorriso de lado.

— Vocês ainda estão nos trends, sabia? — Ela comentou casualmente, mostrando o celular, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Eu revirei os olhos, tentando não dar importância, mas não conseguia evitar o nó de ansiedade que se formava no meu peito.

— Deixa isso pra lá, Marina— murmurei, tentando soar desinteressada, mas ela deu de ombros.

— Só estou dizendo. Vocês viraram as queridinhas do público agora.

Gabi, que estava um pouco atrás, riu baixo.

— Fala sério, isso ainda não passou? — ela perguntou, parecendo meio exasperada, meio divertida. — As pessoas realmente precisam de novos hobbies.

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