63 - melancolia

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24 de dezembro; 2024
GABRIELA GUIMARÃES

Se passaram três dias, e agora era véspera de Natal. O clima natalino estava em todos os lugares, mas parecia que, para nós, algo estava fora de lugar. Amélia estava estranha - ainda mais do que de costume nos últimos tempos. Eu sentia que ela escondia algo, mas não conseguia descobrir o que era. O que mais me incomodava, porém, era a forma como ela se agarrava a mim. Sempre ao meu lado, não se afastava um instante enquanto eu estava na casa dela, como se cada momento fosse precioso.

Os beijos tinham um gosto diferente, quase como se fossem beijos de despedida. Ela me abraçava mais apertado, e os braços dela pareciam se demorar mais ao meu redor. Havia algo nesses gestos, uma intensidade e um peso que não conseguiam ser explicados. Cada toque dela parecia carregar uma urgência que me deixava ainda mais confusa.

Eu tentei perguntar, em momentos que sentia coragem, o que estava acontecendo, mas ela desviava o assunto, sorrindo de um jeito que não alcançava os olhos. E quando olhava nos olhos dela, via algo sombrio e profundo, algo que ela parecia estar lutando para manter oculto de mim. Era como se ela estivesse me preparando, lentamente, para algo que eu ainda não estava pronta para enfrentar.

Por mais que tentasse afastar os pensamentos, a ideia de que havia uma despedida escondida em cada gesto de Amélia era impossível de ignorar.

O treino estava mais intenso do que eu esperava. Cada movimento, cada repetição, exigia mais de mim do que o habitual, e o som da bola batendo nas minhas mãos se misturava com o ritmo acelerado dos meus pensamentos. Estava fisicamente presente, mas mentalmente, uma parte de mim estava distante, longe, com Amélia. Cada jogada que eu fazia parecia mecânica, sem aquele impulso que sempre me vinha quando meu coração estava no lugar certo. Mas meu coração não estava ali, estava com ela, com minha Amélia, que parecia estar se afastando cada vez mais, sem me contar o motivo.

Eu tentava me concentrar no time, na coordenação, nas jogadas, mas o pensamento de Amélia não me largava. O que estava acontecendo com ela? Por que estava se fechando tanto? Algo estava errado, eu sabia disso, mas ela não dizia o que era. Às vezes, parecia que ela queria, que estava prestes a me contar, mas a expressão em seu rosto mudava, ela se fechava de novo e, em um piscar de olhos, ficava distante como uma ilha que eu não sabia como alcançar.

E eu me via ali, no meio do time, jogando, mas não completamente presente. O time estava se preparando para uma nova jogada, mas eu estava completamente em outro lugar, absorvida pela ansiedade de saber o que estava acontecendo com ela. Aquele vazio que se formava entre nós, a distância crescente que eu não sabia como preencher, me deixava inquieta. Mesmo com todas as distrações ao meu redor, tudo o que eu queria era saber o que ela estava sentindo, entender o que estava acontecendo em sua mente e, talvez, ser a pessoa que poderia ajudá-la a enfrentar tudo aquilo.

Naquele momento, senti um peso no peito. Não importava o quanto eu tentasse ser forte, o quanto eu tentasse esconder, a verdade era que o vazio que ela estava criando estava me consumindo. Eu queria estar ao lado dela, ser seu apoio, mas ela se afastava cada vez mais. E eu não sabia como lidar com isso. Eu não sabia o que fazer para fazê-la voltar a se abrir, para fazer com que ela se sentisse segura e confiante o suficiente para me contar o que realmente estava acontecendo. Tudo o que eu sabia era que, mais uma vez, a situação estava fora do meu controle.

O treino foi uma espécie de metáfora para tudo o que eu estava sentindo: correndo, me esforçando, tentando, mas sem conseguir alcançar o que mais queria. Ela.

Quando o treino finalmente acabou, minhas pernas estavam pesadas, e cada movimento parecia mais cansado que o anterior. Mas o que mais me pesava era a mente. Apesar da intensidade do treino, eu não conseguia me concentrar em mais nada além de Amélia. A imagem dela estava constante na minha cabeça, seu rosto, o silêncio que pairava entre nós, o distanciamento que eu não conseguia entender. Eu queria correr para casa, chegar lá e, finalmente, tirar as respostas que minha alma implorava. Queria abraçá-la, sentir sua presença, perguntar o que estava acontecendo. Mas havia uma voz em minha cabeça, aquela sensação desconfortável, dizendo que as coisas não seriam simples. Algo havia mudado.

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