15 - agora ou nunca/flashback

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11 de agosto; 2024
Na hora do jogo.
AMÉLIA MARTINEZ

O dia anterior à final das Olimpíadas foi um dos mais difíceis da minha vida.

Eu estava no meu quarto da vila olímpica, tentando relaxar, mas o peso da responsabilidade de uma final contra os Estados Unidos, um dos times mais fortes do mundo, parecia me esmagar. Era o jogo dos sonhos, a chance de conquistar o ouro, e eu queria tanto estar no meu melhor. Mas algo estava errado. Sentia uma dor crescente no estômago, como se algo estivesse fora do lugar. Tentei ignorar, me concentrar no treino mental e na estratégia para o jogo, mas, conforme o tempo passava, a dor piorava.

Naquela noite, acordei várias vezes. Suor escorria pela minha testa, e o desconforto era insuportável. Eu estava exausta, e a ansiedade só piorava meu estado. As médicas da equipe disseram que era uma mistura de estresse e algo que eu tinha comido. Me recomendaram descansar e me tranquilizaram dizendo que eu estaria melhor no dia seguinte. Mas eu sabia que não era tão simples.

Quando o dia da final chegou, minhas pernas estavam fracas. O aquecimento foi um esforço monumental, e me sentia desorientada. Tentei manter a compostura como capitã, mas cada movimento parecia mais pesado, como se meu corpo não estivesse me obedecendo. Antes do início do jogo, o técnico se aproximou de mim, preocupado.

— Amélia, precisamos de você inteira lá fora. Você tem certeza que consegue começar? — ele perguntou, seus olhos buscando qualquer sinal de que eu pudesse não estar pronta.

Tentei ser forte, mas a verdade estava escrita no meu rosto. Não dava. Eu odiava me sentir fraca. Odiava a ideia de decepcionar a equipe no momento mais importante de nossas vidas.

O jogo começou, e eu fiquei no banco, assistindo às minhas companheiras lutarem com tudo o que tinham. Os Estados Unidos estavam jogando como máquinas, precisas e impiedosas. Perder os primeiros sets parecia um pesadelo. Cada ponto que elas faziam era uma pontada de culpa no meu peito. Deveria estar lá. Deveria estar lutando com elas.

No fim do segundo set, eu sabia que não podia mais ficar sentada. Fui até o técnico, determinada.

— Eu preciso entrar. Agora.

Ele me olhou por um momento, avaliando minha condição. Eu sabia que não estava 100%, mas algo dentro de mim gritava que eu não podia assistir mais sem fazer nada.

— Tem certeza? — ele perguntou, a tensão clara em sua voz.

— você confia em mim?— perguntei e ele assenti. Era agora ou nunca.

Quando entrei em quadra no terceiro set, uma onda de adrenalina tomou conta de mim. O ginásio estava lotado, e o barulho da torcida me envolvia como um manto. As luzes, os gritos, o cheiro do suor e da borracha do piso da quadra — tudo me lembrava do porquê eu amava esse esporte. Esse era o meu lugar, era onde eu precisava estar.

Assim que a bola foi levantada para o saque, senti o peso da responsabilidade, mas também uma clareza que eu não havia sentido antes. A dor ainda estava lá, mas era como se eu pudesse ignorá-la. Cada movimento, cada bloqueio, cada ataque — eu estava no fluxo do jogo.

O terceiro set foi nosso. Sentimos a virada, o impulso que precisávamos. Eu sabia que aquela batalha estava apenas começando.

Quando o terceiro set começou, o clima no ginásio parecia ter mudado. Havia uma tensão no ar, mas também uma nova energia, como se nossa equipe tivesse encontrado um fogo interno que ainda não havia se acendido nos sets anteriores. Cada bola disputada era uma batalha pessoal, e eu me movia pela quadra com uma intensidade que não sabia de onde vinha. Era como se, por um instante, eu tivesse conseguido afastar a dor física e mental, focando apenas no jogo, no presente.

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