29 - amanhã somos um time

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3 de dezembro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

No outro dia, o clima no treino estava pesado. A tensão entre mim e Gabi parecia preencher o ambiente, e era impossível ignorar. Ambas estávamos focadas em nossas próprias rotinas, evitando qualquer contato visual, como se cada uma carregasse uma barreira invisível.

Eu tentava manter a concentração nas jogadas, mas minha mente teimava em divagar, lembrando da conversa da noite anterior com Ária. Ela havia me dado forças para enfrentar o que viesse, mas, ainda assim, a presença de Gabi a poucos metros de mim tornava difícil seguir em frente como se nada estivesse errado.

Durante os exercícios em duplas, fomos separadas intencionalmente pelo treinador, talvez percebendo a tensão que pairava entre nós. Enquanto eu fazia par com outra colega, sentia o olhar de Gabi sobre mim em alguns momentos, e toda vez que isso acontecia, um frio percorria minha espinha. Ela mantinha sua expressão impassível, mas eu sabia que a situação também a afetava.

No final do treino, enquanto todos se preparavam para sair, notei Gabi ficando para trás, talvez esperando que eu fosse embora primeiro. O impasse entre nós permanecia, e por um momento, considerei a possibilidade de simplesmente ir até ela e resolver as coisas de uma vez. Mas o medo do que ela poderia dizer, ou pior, do que eu poderia sentir, me impediu.

O silêncio entre nós continuava, e o peso da expectativa para o jogo do dia seguinte só aumentava.

Enquanto eu terminava de calçar os tênis e guardava a garrafa de água na mochila, Anna se aproximou, com uma expressão curiosa e, ao mesmo tempo, preocupada. Ela olhava de um lado para o outro, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo entre todos ali.

— Não é possível, o clima está totalmente diferente aqui. O que rolou, Amélia? — Anna perguntou, franzindo a testa e me analisando com aquele olhar inquisitivo que só ela conseguia fazer.

Respirei fundo, tentando decidir o quanto poderia dizer. Anna era uma das pessoas em quem eu mais confiava ali naquele momento, e sabia que ela notaria qualquer mentira ou omissão. Seus olhos estavam fixos em mim, pacientes, mas insistentes, aguardando uma resposta sincera.

— É... complicado, Anna — respondi, tentando desviar o olhar, mas sua mão firme segurou meu braço, me impedindo de escapar da conversa.

— Complicado? — Ela repetiu, arqueando uma sobrancelha. — Amélia, desde quando você guarda as coisas assim? Estamos aqui juntas todos os dias, e eu não sou cega. O que está acontecendo entre você e a Gabi? Vocês duas mal se falam, e olha que sempre foram inseparáveis na quadra. Tem algo aí que você não tá contando.

Senti o peso da pergunta e o olhar penetrante dela. Parecia que as palavras estavam presas em minha garganta, e a última coisa que queria era admitir para alguém a confusão de sentimentos que estava vivendo.

— Olha, tivemos algumas diferenças, coisas que é difícil explicar. Eu só não sei bem o que fazer com tudo isso agora, sabe? — murmurei, hesitante, enquanto tentava encontrar as palavras certas.

Anna soltou um suspiro profundo, seus olhos agora um pouco mais suaves. — Sei que é difícil, mas se precisar desabafar, estou aqui. E, Amélia, o que quer que seja, resolve isso antes do jogo, conversa com ela. A última coisa que precisamos é de uma energia ruim no time amanhã.

— Olha, eu sei, mas não vou conversar com ela hoje — falei, tentando soar firme. — Mas tenho certeza de que isso não vai mudar o nosso foco. Amanhã, quando entrarmos em quadra, tudo isso vai ficar pra trás.

Anna me observou por um instante, como se avaliasse minhas palavras. Ela sabia que o que estava acontecendo entre mim e Gabi era mais profundo do que eu admitia, mas, ao mesmo tempo, confiava em mim. Depois de alguns segundos, ela assentiu.

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