53 - porque é você.

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30 de novembro; 2024
GABRIELA GUIMARÃES

Tinha se passado uma semana desde aquela live cheia de risadas e provocações. Eu e Amélia estávamos indo bem, ou pelo menos, eu achava que sim. Ela continuava dormindo comigo todos os dias, praticamente jogada em cima de mim como sempre, mas havia algo... diferente. Eu conseguia sentir a distância, mesmo com ela ali, tão perto fisicamente. Era uma sensação estranha, quase como se ela estivesse tentando manter os pensamentos e preocupações para si, me deixando de fora de algo que a incomodava.

Foi quando as dores no joelho dela começaram a piorar que eu percebi que as coisas estavam realmente mudando. Nos primeiros dias, Amélia ainda falava um pouco sobre os treinos, sobre como estava se esforçando, mas aos poucos ela foi se fechando, como se não quisesse que eu visse o quanto aquilo estava afetando ela. Era o jeito dela, eu sabia — sempre independente, sempre tentando carregar tudo sozinha. Mas, por mais que eu entendesse, aquilo me deixava inquieta. Eu queria poder fazer mais, estar mais presente, mas ela não deixava.

À noite, ela se deitava ao meu lado, encostava a cabeça no meu ombro e fechava os olhos. Mesmo assim, eu sentia a tensão no seu corpo, os pensamentos que ela escondia. Não era mais a mesma Amélia leve e brincalhona que tinha me arrastado para aquela live. Agora, ela estava mais quieta, mais reservada, e aquilo estava começando a me preocupar.

Uma noite, depois de um longo silêncio, eu resolvi perguntar:

— Amélia... você está bem de verdade? — Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, mas era a única maneira que eu sabia para abordar o assunto.

Ela abriu os olhos e me olhou, com aquele olhar cansado, mas cheio de determinação.

— Tô bem, Gabi. É só... é só o joelho, sabe? Nada que eu não consiga lidar.

Eu assenti, mas não consegui evitar um suspiro. Sabia que ela não estava sendo totalmente honesta, mas também sabia que ela não era do tipo que se abria fácil sobre as próprias fraquezas.

A verdade é que ver ela daquele jeito me deixava aflita. Eu queria poder dizer que ela não precisava se provar, que eu estava ali, pronta para o que fosse preciso, mas sabia que, para Amélia, isso era algo que ela precisava enfrentar por conta própria. Então, eu fiquei ali, quieta, ao lado dela, esperando que ela percebesse que, mesmo que não precisasse dizer nada, eu estava ali por completo — de corpo e alma.

A cada dia que passava, eu sentia que a distância entre nós só crescia, e, no fundo, eu temia o que isso poderia significar. Eu não queria que ela se afastasse, não agora que finalmente tínhamos algo de verdade, algo que eu não queria perder. Algo que eu nunca soube que precisava até encontrar ela.

— Amélia, você sabe que pode contar comigo, né? — Perguntei, quebrando o silêncio, tentando encontrar uma maneira de fazer ela se abrir para o que eu realmente queria dizer, sem forçar.

Ela virou a cabeça, me encarando com um olhar que misturava cansaço e confusão. Eu sabia que o joelho estava atrapalhando tudo, mas, mais do que isso, parecia que a tensão entre nós estava crescendo a cada dia. Ela estava se afastando mentalmente, e isso me incomodava mais do que qualquer dor no corpo.

— Eu sei... — Amélia respondeu, com um sorriso forçado. Mas eu podia ver nos olhos dela que não estava sendo completamente sincera.

Sem pensar, estiquei minha mão até a dela, entrelaçando nossos dedos. O simples toque parecia ser o único jeito de trazer ela de volta, mesmo que por um momento. Eu queria mais que isso, queria que ela voltasse a se abrir comigo, que ela não tivesse medo de dividir as dificuldades, mas eu sabia que não podia forçar.

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