44 - o último dia

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14 de novembro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

O último dia no chalé com as meninas do time chegou mais rápido do que eu imaginava. Era estranho pensar que, em poucas horas, estaríamos todas voltando para nossas rotinas, para a correria dos treinos, para as responsabilidades e para tudo o que o mundo lá fora tinha reservado para nós. Por mais que eu estivesse acostumada a lidar com pressão e a dar o meu melhor em todas as situações, aquela sensação de despedida mexia comigo.

Acordei cedo, enquanto todas ainda dormiam, e fui até a cozinha fazer um café. A calmaria da manhã me dava um espaço para pensar, longe das brincadeiras e da energia incessante das meninas. Olhei pela janela e vi a névoa cobrindo a vista lá fora, o que deixava o lugar com um ar de tranquilidade quase mística.

Respirei fundo, sentindo o cheiro do café se espalhar pelo ambiente, e sorri sozinha. Eu não sabia bem como explicar, mas algo naquele lugar parecia me fazer enxergar tudo de um jeito mais leve. E, claro, Gabi estava no meio disso. Pensei no jeito que ela me olhava, como ela se preocupava comigo, e um friozinho bom percorreu minha espinha. Cada momento que passamos juntas naquele chalé parecia ter fortalecido nossa conexão de uma maneira que eu não imaginava ser possível.

De repente, ouvi passos atrás de mim. Virei-me e lá estava ela, com aquele sorriso sonolento que só ela conseguia dar.

— Você acordou cedo — Gabi murmurou, coçando os olhos e vindo direto para me abraçar, ainda de pijama.

— Achei que seria bom aproveitar um pouco mais o silêncio antes da festa que as meninas vão armar quando acordarem — respondi, rindo baixo.

Ela sorriu, pegando uma xícara de café e se encostando ao meu lado. Ficamos em silêncio, lado a lado, só ouvindo o som das nossas respirações e do vento batendo lá fora.

— Vai ser difícil ir embora, né? — ela comentou, olhando para a vista. — Isso aqui parece uma bolha, onde nada mais importa além da gente.

— É verdade... — eu concordei, olhando para o nada, perdida nos meus pensamentos. — Mas não importa onde a gente esteja, eu sei que quero estar com você.

Gabi virou-se para mim, com um olhar doce e cheio de promessas silenciosas. Por um momento, esqueci completamente que ainda estávamos no chalé, cercadas pelo time e pelas responsabilidades que nos aguardavam.

O momento que compartilhávamos parecia suspenso no tempo, como se o mundo tivesse decidido nos conceder uma pausa breve e preciosa. Cada pequena coisa, desde o cheiro do café recém-passado até o som suave do vento passando pelas árvores lá fora, parecia fazer parte de uma harmonia silenciosa entre nós.

Gabi me olhava com uma suavidade que raramente eu via em seus olhos, como se estivesse enxergando algo além da minha expressão sonolenta e do cabelo bagunçado. Seu olhar era uma mistura de admiração e carinho, quase como se ela estivesse tentando gravar cada detalhe daquele instante.

Ela deu um passo mais próximo, e eu podia sentir o calor do seu corpo irradiando e invadindo o meu espaço. Sua mão subiu devagar, como se testasse os limites, e repousou suavemente na lateral do meu rosto. Fechei os olhos por um momento, sentindo o toque delicado dos dedos dela na minha pele, o carinho implícito em cada movimento.

— Você sabe... — ela começou, com a voz tão baixa que parecia um sussurro, quase um segredo sendo revelado. — Nunca me senti tão completa assim, como se só de estar ao seu lado o resto do mundo pudesse esperar.

Abri os olhos, e encontrei os dela me encarando, com uma intensidade que me deixou sem ar. Havia algo ali, um desejo de eternizar aquele momento, de nos manter exatamente onde estávamos, livres de todas as responsabilidades, da correria dos dias e das despedidas inevitáveis.

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