35 - Era só o começo.

536 55 10
                                    

6 de novembro; 2024
GABRIELA GUIMARÃES

Assim que a porta se fechou e fiquei sozinha, respirei fundo, ainda sentindo a presença de Amélia no ar. Era como se o espaço ao meu redor ainda estivesse preenchido por ela, pela intensidade dela. Eu me encostei na parede, tentando acalmar meu coração que batia como louco.

Amélia tinha me pegado de surpresa desde o início, com aquela coragem meio impulsiva, quase sem pensar duas vezes. E agora... agora ela estava se tornando muito mais do que alguém que eu admirava. Cada palavra dela, cada revelação dolorosa, me fazia querer conhecê-la ainda mais. Queria ser alguém que pudesse trazer um pouco de paz pra ela, assim como ela fazia comigo sem nem perceber.

Eu não conseguia parar de pensar no olhar dela. Havia algo nos olhos de Amélia que me desarmava completamente — uma profundidade, uma dor velada e uma força que me atraía como um imã. Ela tinha essa coisa de não se abrir fácil, de esconder tudo atrás de uma fachada de determinação. E ainda assim, hoje, ela se permitiu expor as feridas pra mim, se mostrou vulnerável de uma forma que me deixou sem palavras.

A verdade é que nunca imaginei sentir algo assim de novo. É assustador. Ao mesmo tempo, é como se eu estivesse esperando por ela sem nem saber. Não sei se faz sentido, mas Amélia me traz uma espécie de... calma e tempestade ao mesmo tempo.

Eu ri sozinha ao lembrar da piada sobre a Rebeca. Como se fosse fácil desviar o que eu sinto pela Amélia. Nada, ninguém, ia tirar meu foco dela agora. Talvez fosse cedo demais pra pensar nisso, mas eu estava disposta a arriscar tudo por ela.

E então, antes que eu percebesse, lá estava eu olhando para o relógio, já contando as horas pra vê-la de novo, pra conhecê-la ainda mais, pra ver o que a gente poderia construir juntas.

Enquanto eu olhava para o relógio, uma sensação estranha de ansiedade e expectativa tomava conta de mim. Era como se, de repente, tudo estivesse girando em torno de Amélia. Tentei desviar os pensamentos, focar em qualquer outra coisa — minha agenda, os treinos, as viagens, mas tudo parecia girar de volta para ela.

A verdade é que eu já tinha me preparado para viver uma vida focada na carreira, sem grandes distrações emocionais, sem amarras. Mas Amélia chegou quebrando essas barreiras, transformando tudo de um jeito que eu não esperava. Era assustador e ao mesmo tempo libertador, como se algo que eu nem sabia que estava esperando tivesse finalmente encontrado o caminho até mim.

Lembrei do toque dela, da forma como ela segurou minha mão enquanto falava sobre o passado, como se aquele contato fosse uma âncora para que ela não desmoronasse. E eu sabia, naquele momento, que queria ser esse apoio para ela. E talvez, em troca, ela pudesse ser o meu. De alguma forma, eu sentia que precisávamos uma da outra, duas pessoas fortes e quebradas ao mesmo tempo, unidas por algo maior que a gente.

Ela tinha ido embora, mas a sensação de tê-la por perto ainda estava comigo. E, honestamente? A ideia de enfrentar esse sentimento, de me abrir para algo novo e inesperado, me dava um tipo de nervosismo que eu não sentia há anos.

Amélia era um furacão na minha vida. Eu queria mais dela, queria mais dessas sensações, dessas incertezas, desse tudo que ela trazia junto. E, enquanto eu tentava processar o que estava acontecendo, uma coisa se tornou clara para mim: eu não queria que isso acabasse. Na verdade, eu faria o que fosse preciso para que isso, esse sentimento, crescesse e se tornasse algo sólido.

Peguei o celular e, quase sem pensar, mandei uma mensagem:

"Me avisa quando chegar. E... bom, só queria dizer que eu já tô com saudade."

Eu sorri, sabendo que talvez parecesse bobo, mas não me importava.

Enquanto eu segurava o celular, senti o coração bater mais rápido, esperando uma resposta dela, ainda que soubesse que talvez ela nem tivesse visto a mensagem. Cada segundo parecia se estender, e ao mesmo tempo eu sabia que esse tipo de ansiedade era raro pra mim. Eu, que sempre fui prática, sempre com a cabeça no lugar... Agora me sentia tão fora do eixo por causa dela.

Missão impossível Onde histórias criam vida. Descubra agora