24 - Todos nós temos nossos demônios

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29 de outubro; 2024
AMÉLIA MARTINEZ

aquela noite tranquila com Yuri, mas a leveza que senti havia se dissipado. Minha mente estava ocupada com as dúvidas sobre Gabi e de que ela havia pesquisado sobre mim. Não sabia como lidar com isso.

Era um dia comum de treino, e a quadra estava repleta de energia. As meninas estavam animadas, e eu tentei me concentrar no que estava acontecendo. Contudo, a minha mente continuava a voltar para Gabi e o que eu achava. Em um momento, estava falando com Anna e outras garotas, e no seguinte, minha mente vagava para o fato de que Gabi havia ido a fundo na minha vida pela internet.

Durante o aquecimento, vi Gabi ao longe, rindo com algumas amigas. A forma como ela se iluminava enquanto conversava fez meu coração acelerar, mas a raiva e a frustração começaram a tomar conta de mim. Como ela podia fazer algo assim? Pesquisar sobre meu passado sem me contar, sem me dar a chance de ser eu a compartilhar?

O treino fluiu normalmente, mas cada toque de bola e cada jogada se tornavam mais difíceis de ignorar os meus sentimentos. Quando o treino terminou, a atmosfera de camaradagem que costumava sentir estava distante. Eu precisava falar com Gabi, precisava expressar o que estava pensando. Então foi até ela, a mesma está sentada nos bancos perto das arquibancadas mexendo no celular

— Oi, Amélia! Como você está? — ela respondeu, parecendo genuinamente feliz por me ver, ainda com o celular ligado na mão.

Observei enquanto ela se acomodava, com os cotovelos apoiados nos joelhos, me dando a visão perfeita do que estava na tela. Meu coração disparou ao perceber que Gabi estava pesquisando sobre mim. E, mais especificamente, sobre meu passado com Ária. Era exatamente o que eu mais temia. Aquela sensação de violação se instalou em mim, uma mistura de raiva e tristeza. O que eu mais odiava na mídia era a maneira como eles distorciam a verdade, expondo partes da minha vida sem o meu consentimento, muitas vezes espalhando mentiras.

Enquanto isso, Gabi continuava com a tela ligada, alheia ao que estava se passando dentro de mim. Eu queria dizer algo, mas a verdade é que eu me sentia encurralada. A ideia de compartilhar meu passado com Ária era algo que eu guardava com carinho e dor, e agora isso estava ali, exposto, como se fosse um produto para consumo.

— Você está bem? — Gabi perguntou, puxando-me de volta da espiral de pensamentos.

— Sim, só estava pensando em algumas coisas. — Minha resposta saiu meio hesitante, mas tentei manter a voz firme.

Ela olhou para mim, a preocupação estampada em seu rosto. — Você parece um pouco distante. Está preocupada com alguma coisa?

Engoli em seco, tentando encontrar as palavras. — Não, é só... você sabe como é. Às vezes, os treinos podem ser meio complicados.

O olhar de Gabi se intensificou, e ela balançou a cabeça, como se entendesse mais do que estava disposta a admitir. — Eu entendo.  Todos nós temos nossos demônios, certo?

Essa frase fez meu estômago revirar. Era um lembrete do quanto meu passado com Ária ainda me afetava. — Sim, é verdade. — concordei, tentando me manter neutra.

A tensão pairava entre nós enquanto eu tentava agir normalmente, mas a verdade é que meu coração estava pesado. Parte de mim queria que Gabi falasse sobre o que estava pesquisando, que se abrisse sobre o que pensava ao ver aqueles artigos. Mas, ao mesmo tempo, eu temia que isso revelasse coisas que eu ainda não estava pronta para discutir.

— O que você está fazendo? — perguntei, tentando mudar de assunto e desviar a atenção do celular.

— Ah, só vendo algumas coisas sobre as meninas da seleção brasileira do vôlei. — Ela respondeu, com um sorriso nervoso. Eu sabia que era mentira, mas não queria pressioná-la.

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