6 de dezembro; 2024
De madrugada
AMÉLIA MARTINEZTudo estava prestes a se revelar bem na minha frente. Eu não estava nem um pouco preparada para aquele momento, mas ali estava, em pé, com o coração na mão e o peito cheio de sentimentos que ameaçavam explodir. Queria gritar tudo o que eu sentia, queria chorar, e talvez estava um pouco envergonhada também. Era um sentimento inexplicável — algo entre medo e um alívio esmagador. Mesmo sendo três da manhã, naquele instante eu sabia que estava no lugar certo. Horário, clima, nada disso importava agora.
Parada ali, completamente ensopada pela chuva, na sala de Gabi, com ela a poucos passos de mim, sentia que tudo estava por um fio. Não tinha roteiro, nenhum plano. Só uma coragem inabalável e a certeza de que precisava dizer o que estava guardado dentro de mim. E Gabi, com aqueles olhos intensos, os olhos mais lindos que já vi, me observava como se eu fosse um enigma prestes a ser decifrado.
Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos, mas as palavras escapavam de mim como uma avalanche desgovernada, cada uma mais urgente do que a outra.
— Gabi... eu vim aqui para te pedir desculpas. — A voz saiu embargada, e tive que fazer um esforço para manter a calma. — Desculpa por eu ser assim, por nunca conseguir falar o que eu realmente sinto. Eu sei que fui uma completa idiota. Aquela briga... aquele desastre... nem sei o que foi aquilo, mas nunca deveria ter acontecido. Eu... fui orgulhosa, cabeça-dura. Achei que podia lidar com tudo sozinha, que era só seguir em frente, mas a verdade é que eu mal consigo pensar direito desde então. Eu...
Antes que pudesse continuar, ela ergueu a sobrancelha e me interrompeu, a expressão neutra, quase divertida.
— Você tá molhando o meu tapete.
Por um segundo, fiquei confusa, sentindo o rosto queimar. Estava tão imersa no momento, nas emoções que pareciam transbordar, que quase tinha esquecido a chuva lá fora. Ela me olhava daquele jeito único, entre divertida e intensa, e de repente parecia que tudo estava girando, que nada fazia sentido. Mas sacudi a cabeça, me forçando a focar novamente. Não era hora de hesitar.
— O quê? Não, deixa eu terminar! — Falei quase com desespero, a necessidade de me expressar finalmente tomando conta. — Eu... eu não sei o que estou fazendo aqui, tá? Não tinha nada planejado, nenhuma frase bonita ensaiada. Mas depois da vitória que tivemos hoje, depois de toda aquela conexão em quadra... alguma coisa mudou dentro de mim. Passei o dia inteiro com uma sensação de vazio, como se, se eu não viesse até você, eu fosse me arrepender pelo resto da vida.
Olhei para ela, tentando traduzir com o olhar o que as palavras não conseguiam expressar.
— Em pouco tempo, você me fez sentir algo que eu achei que nunca fosse possível sentir de novo. — As palavras saíram baixas, quase um sussurro. — Sabe, Gabi, foram cinco anos... cinco anos em que eu bloqueei qualquer tentativa de aproximação, qualquer sentimento mais profundo. E aí você apareceu e, de alguma forma, todas essas barreiras começaram a desmoronar. É estranho dizer isso, eu sei... mas, dane-se. — Respirei fundo, a vulnerabilidade tomando conta de cada palavra. — Eu não posso, de jeito nenhum, ignorar o que sinto por você. Isso me assusta, me deixa completamente sem chão, mas... eu só...
As palavras saíam atropeladas, como se eu estivesse correndo contra o tempo, como se cada segundo fosse uma chance de perdê-la. Sentia as mãos trêmulas, o coração descompassado. Eu queria acreditar que meus olhos a entregavam, mas ainda assim, precisava colocar tudo pra fora.
Antes que eu pudesse continuar, senti as mãos dela segurando meu rosto com firmeza. Num instante, Gabi me puxou e seus lábios se encontraram com os meus em um beijo tão intenso que roubou o resto do meu fôlego. A sensação era avassaladora, e eu senti cada pedaço do mundo ao redor desaparecer. Era como se toda a confusão, todas as dúvidas e o medo evaporassem. Tudo o que existia naquele momento era ela, o toque dela, o gosto dela.
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Missão impossível
FanficAmélie Martinez, uma jovem jogadora de vôlei talentosa, recentemente medalhista de ouro nas Olimpíadas, encontra-se diante de uma importante decisão em sua carreira: escolher o clube onde continuará a brilhar. Ela opta pelo renomado Imoco Conegliano...