Capítulo 4 - O jantar

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É tudo uma questão de psicologia: você nunca vai esquecer o seu primeiro amor. Principalmente se ele tiver traído você, e te ameaçado diversas vezes... Eu chamo isso de relacionamento abusivo.

Minha mãe disse que tudo bem, homens faziam isso, e não aceitou o fim do término, obviamente, mas ela não tinha ideia de quão difícil foi fazer aquilo. E lá estava ele, um ano depois, na secretaria da minha escola, com um papel de transferência nas mãos.

Não queria me mover um centímetro se quer, quem sabe assim eu ativaria meu modo invisível e ele não me notaria lá. Mas logo ele se virou e me viu. Claro, deu um sorriso malicioso e me olhou de cima a baixo, como se eu fosse sua propriedade.

Eu sabia que não podia ficar ali, esperando ele vir falar comigo ou esperando que ele me ignorasse. Eu tinha que agir!

Dei uns passos para trás e saí correndo para o portão do estacionamento, torcendo para que ele ainda estivesse aberto. Por sorte, minha professora estava entrando com o carro, então consegui passar. Entrei na biblioteca que era ao lado, e Alissom me olhou como se soubesse o que eu estava sentindo, mas ele não tinha ideia.

Me sentei no fundo do corredor novamente, olhei para cima e só havia livros de romance, uma grande ironia na verdade. Algumas lágrimas começaram a surgir rapidamente, não conseguia parar, só conseguia pensar no mal que ele me causou, e me questionar do porquê ele ter feito isso comigo.

- Ele disse algo pra você? - Alissom sentou ao meu lado.

- Não deu tempo, eu saí correndo.

- Olha, se eu fosse você não derramaria nenhuma lágrima por ele.

- Por quê? - limpei o rosto.

- Porque garota nenhuma merece sofrer por garotos babacas como o Thales. - ele me olhou nos olhos - Principalmente se a garota for você.

Por que eu?

- Na prática, isso não funciona.

- Eu sei, mas pensa: o que um menino desses tem na cabeça, pra trair você? Certeza que ele tem cocô!

- Deve ser gel de cabelo, já que a cabeça dele parece que mergulhou numa piscina de gordura. - Alissom riu.

- Como você foi gostar de um cara como ele? É sério, você tinha tantas opções.

- Que opções? Era ele ou aquele garoto que me mandou uma carta anônima uma vez. Eu fiquei meses procurando ele, você lembra?

- Lembro. - seus olhos encontraram os meus. De novo não!

- Eu sei que foi você. - disse, estava hipnotizada.

- E-eu? Mas eu nem... eu nunca... quem... - ele se atrapalhou.

- No começo eu fiquei com muita raiva, porque eu odiava que brincassem com meus sentimentos. Mas depois eu relevei. Já estava acostumada com suas brincadeiras.

- Como descobriu? - sua voz saiu incomodada.

- Conheço a sua letra. E ninguém mais me chamava de "senhorita Kate".

- Ah, eu era muito burro. - ele sorriu, mas parecia estar com dor.

- Eu sei. - olhei no relógio - A minha aula já começou, eu tenho que ir. - me levantei rapidamente.

- Boa aula, Kate.

Saí sem nem olhar para trás, corri até a sala esperando que a professora me desse bronca, mas ao invés disso ela nem notou que eu havia entrado. Meus colegas estavam aglomerados em sua mesa, o que interferiu na sua visão, e pude entrar tranquilamente.

- Tá tudo bem? - Agnes perguntou.

- Sim, está.

A hora do recreio foi crucial, eu tentei me esconder no banheiro, mas Carolaine estava lá. Tentei ficar escondida na sala, mas não permitiram, tentei ir a biblioteca, mas Alissom estava almoçando no refeitório e trancou ela. O jeito era enfrentar quinze minutos parada em um espaço só, sem olhar pra lugar nenhum, nem pra ninguém.

- Tá, você está muito estranha aí olhando pra parede. - Alissom se aproximou.

- Eu não quero fazer contato visual com o Thales. - falei, eu estava nervosa.

- Você vai fazer isso até o final do ano? - ele perguntou, se encostando na parede para me olhar.


- Não sei, mas eu tenho certeza de que hoje não é um bom dia pra enfrentá-lo.

- Kate, ele não é tudo isso. Você consegue coisa melhor, fácil.

- É, mas eu não quero. Me envolver emocionalmente com as pessoas, sempre trás péssimas lembranças pra mim. Não quero fazer isso nunca mais.

- Só porquê você namorou um idiota como ele, não quer dizer que todos os meninos são idiotas. Tem pessoas boas por aí, esperando uma chance.

- Eu não acho que existam.

- Ah, como você é teimosa!

Me virei para encará-lo.

- Eu não sou teimosa!

De repente ele jogou seus braços por volta de mim, me sufocando. O que era aquilo? Um abraço? Um atentado?

- O que você tá fazendo? - perguntei, um pouco sem fôlego.

- Te escondendo do Thales. - ele sussurrou em minha orelha.

Permaneci imóvel, enquanto ele me... abraçava? Aquilo era muito estranho, demonstrações de afeto entre eu e ele eram muito esquisitas.
Até ele me soltar, e eu perceber que estava gostando do momento.

Que diabos estava acontecendo?

- Tenho que ir para a biblioteca, você vai ficar bem? - ele perguntou.

- Sim, eu vou.

O resto do dia até que correu bem, fui pra casa tranquilamente, sem ninguém pra gritar comigo, muito menos pra reclamar que eu cheguei atrasada.

Quando abri a porta, a única coisa que eu queria encontrar era a minha cama.

Subi as escadas e me atirei na cama. Mil pensamentos me consumiram, o que eu podia fazer? O que era pra eu fazer? E por que eu não consigo parar de olhar nos olhos do Alissom? Ele não sai mais daqui, tá sempre se metendo e fazendo as coisas sem pedir.

POR QUE EU ESTAVA PENSANDO NO ALISSOM?

Era melhor eu me distrair e parar de pensar besteira.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora