O Menino De Rolê

Capítulo 9

Olho para ele, limpo as minhas lágrimas e digo :

- Estou sim.

Ele me lança um olhar de quem não está acreditando.

- É sério, estou bem.

Não vou dizer à ele, se falar que não estou bem, ele vai perguntar o que aconteceu, e o motivo é ele.

Ficamos nos encarando, estava começando a ficar sem graça com aquela situação, porque ele não se levanta e volta para dentro ?

Vou parar de graça, eu até estava gostando.

- É a segunda vez que te vejo chorando mano. - soltou uma risada.

- É...

- Vai me contar o que aconteceu ?

- Não. - rio e ele revira os olhos.

- Vamos voltar lá pra dentro então ?

Vamos ? É isso mesmo que eu escutei ?

- Vai você, vou ficar aqui mesmo.

- Jura que vai deixar de se divertir pra ficar chorando ? - me olhou.

Bem, ele tinha razão, mas não estava com vontade mais.

- Vou. - digo.

- Então tá.

Ele ficou ao meu lado olhando para frente, olhei para ele esperando que ele se levantasse.

- Não vai entrar ? - perguntei.

- Não, vou ficar aqui mesmo.

- Sério mesmo ? - olhei para a frente junto com ele.

Parecia um sonho, não estava acreditando que estava acontecendo.

- Sim. - sorriu.

Meu Deus, que sorriso, se ele soubesse o quanto esse sorriso me desmonta...

- Vai perder de ficar com mais 20 meninas para ficar aqui fora comigo ? - pergunto, precisava perguntar.

- Eu recompenso depois.

Sério Victor ? Sério ? Precisava estragar tudo assim ?

- Eu não estou bem, e quero ficar sozinha, volta lá para dentro, por favor.

Eu queria ficar com o Victor ali comigo, mas eu já estava entendendo o que queria, e não queria aquilo daquela forma naquele momento.

- Ah, agora você fala que não tá bem né, o que aconteceu ?

"Você aconteceu, você entrou na minha vida e virou tudo de ponta cabeça." Pensei, mas não vou falar isso.

- Nada.

- Você está chorando e não aconteceu nada ?

- Isso mesmo.

Ele estava tão lindo. Ficamos nos encarando, sua mão pousou na minha perna, tirei-a de imediato, e ele colocou de novo, subindo-a vagarosamente. Tirei-a de novo, quantas vezes vou ter que tirar ?

Ele abriu um sorriso malicioso, ah, que sorriso...

Aproximou seu rosto do meu e eu coloquei minha mão na frente.

Eu não queria ser vista por ele desse jeito.

- Eu não sou mais uma da sua listinha, Victor. - digo e me levanto indo em direção à praça que ficava na frente.

E ele, insistente do jeito que é, veio atrás.

- Que lista ? - perguntou fingindo que não sabia do que eu estava falando.

- Para de ser idiota. - me apoio no ombro dele para tirar o meu salto. - Vai Victor, você tá perdendo, depois eu sou a culpada.

- Passa o seu número pelo menos.

Passei, lógico que passei, ele me deu um beijo no canto da boca e entrou na balada.

Fiquei por um tempo sentada na grama da praça observando o céu, será que fiz errado ? Eu não quero ficar com ele, porque sei que se eu ficar, eu vou ser só mais uma que ele beijou, e no dia seguinte ele vai me esquecer. Eu quero realmente construir algo com ele, ter alguma coisa séria.

Não quero parecer ser uma pessoa sentimental e fácil para ele, eu quero parecer difícil, quero que ele pense "Pô, que menina hein...", quero que ele se surpreenda comigo.

O meu orgulho anda ao lado da minha vontade, mas continua sendo maior, apesar de tudo.

Depois de longos minutos, pensei em voltar lá para dentro, mas não estava com vontade, era como se... Minha noite fosse perdida, o que estava me deixando louca mesmo.

Me levanto do gramado e vou andando até uma ponte, que ficava na praça também. Tinha uma roda, parecia que tinha gente brigando, era gritaria toda hora, me aproximei um pouco com os meus lindos saltos na mão e fiquei observando a briga, já que eu não tinha nada para fazer mesmo.

Até que alguém me dá um susto me fazendo cair rolando na grama, e só escuto uma risada, mas não consigo reconhecê-la.

Me levanto brava, não acredito que sai rolando pela grama por causa de um susto e com o meu salto na mão ainda.

Olho para cima e quem vejo morrendo de rir ? Isso mesmo, não sei quem é.

Vou até o menino moreno de olhos castanhos claros e digo :

- Precisava disso ? - batia na minha saia para sair as gramas.

- Não foi proposital, juro. - se recuperava.

- Ah, não vejo graça. - cruzo os braços e o encaro.

- Foi muito hilário mano, sem maldade. - riu.

Reviro os olhos e saio andando, e ele vem atrás.

- Ei, onde você vai ? - perguntou.

- Sei lá, andar, ou até voltar para a Tryst e ficar lá dentro mofando.

- Ah, você tava na Tryst, porque ? Quem que fica mofando em uma balada ?

- Não to com vontade de voltar para lá.

- Você chorou né ? Sua maquiagem tá borrada. - riu.

Olho na tela do meu celular e pior que tava borrado mesmo.

- Ah, longa história. O que faz aqui fora ? Não tava na Tryst ?

- Ah não. - abaixou a cabeça. - Sou maior de idade já, dezoitão.

- Meu Deus, não parece. - rio.

- Jura ? Você tem quantos anos ?

- 16.

- Você parece ser mais velha.

- Queria ser mais nova, voltar ao tempo que eu era ingênua, era muito melhor. - digo com uma expressão séria no rosto.

- Porque ? Tem alguma coisa que te faça querer voltar ?

Ah, tem, muita coisa...