capítulo-59

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Sam:




      Tudo muda de repente, quando um carro bate em mim numa noite chuvosa. Pouco tempo atrás minha única preocupação era estar com alguém que eu amava, no entanto,  estou morrendo. No meu atual presente não tenho nem a certeza se vou estar viva por muito tempo, todos os meus planos, todas as coisas importantes que eu queria fazer, viver por muito tempo até finalmente estar pronta pra partir, tudo isso não importa no momento. Não sei o que fazer, não sei o que quero. Nesse momento, não consigo pensar em ninguém, na mamãe, nos meus amigos ou o Ranz, muito menos em mim mesma. Poderia simplesmente me sentar, e esperar... O que? Não sei, nem faço idéia, nada parece fazer sentido agora. Antes, eu estava presa na minha própria cabeça em uma espécie de sonho hiper realista, que seria tudo o que eu poderia querer, agora eu vivo uma "realidade" estranha, onde a qualquer momento posso desaparecer.  Fiquei olhando Rachel chorar por muito tempo do  meu lado, meu corpo parecia um de um cadáver, magro e pálido daquele jeito. Não aguentei ficar me olhando, nem a mamãe, sai avulsa pelos corredores.  Por um momento, eu estava confortável com a idéia estar "invisível", não viriam pessoas me encher perguntando o que houve comigo, por que eu estava triste. Nem consigo chorar, pareço tão vazia. Na sala de espera tediosa, Luke estava lá com Ted, parecia desolado, deprimido. Eu me sentei do lado deles e fiquei ouvindo sua conversa sem muito interesse.



      — O baile da escola já está chegando... - Ted falou em uma animação irônica - Ela iria ser eleita a rainha do baile com certeza.
      — Tenho preocupações mais importantes que o baile no momento. - Luke falou com uma pequena grosseria.
      — Poxa... Desculpa. - Ted nunca se abalava, sempre sorria mesmo nas situações mais constrangedoras, e agora parecia um morto.
      — O que você acha que vai acontecer, se ela... Se caso ela não consiga e a tia Rachel escolha a eutanásia. - Luke ficava mordendo as unhas com agonia.
      — Não sei,  as coisas nunca iriam ser as mesmas de novo. Preciso ir, tenho que cuidar dos meus irmãos... - Ele deu dois tapinhas no braço do Luke e saiu.

     O Luke ficou lá, sentado sem muita reação com as mãos dentro do casaco. 

   

      — Se Sam estivesse aqui... Poderia me aconselhar o que fazer. - ele falou consigo mesmo - Não sei como olhar na cara da Lisa agora.

     Ele se levantou e foi embora, e eu continuei lá. Durante todo aquele dia, pessoas entravam e saiam do hospital, muitos colegas de classe, e da escola vieram me visitar, Sally me trouxe flores com Ana e Coby que parecia estar cada dia um pouco pior. 



     Me pergunto como seria o mundo, se eu não estivesse mais aqui ...
     


       

         Me lembro de quanto eu tinha seis anos, Rachel me levou em um parque de diversões, eu adorava andar no carrossel, me sentia uma princesa da Disney. Uma vez, eu fui sozinha, foi tão divertido no começo, mas de repente mamãe sumiu e eu não achava ela em lugar algum, fiquei muito assustada e comecei a chorar sem parar. Uma mãe que estava com seu filho, veio até mim preocupada, e eu disse que tinha perdido Rachel, em segundos ela estava lá do meu lado. Então ela disse: " não tenha medo se não me encontrar, independente de onde eu esteja querida, vou estar sempre aqui com você", nessa hora ela colocou o dedo em cima do meu coração e sorriu, então eu soube que aquilo era verdade. Ver ela ao lado da minha cama, segurando minha mão com amor daquela forma, mas não posso sentir o calor.

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