capítulo-67

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Brant:

         Senti saudades de andar na minha moto, da sensação do vento batendo no meu rosto, da estrada.  A questão em mente é: "Por que deixei Seattle se eu tinha um motivo pra ficar? ".  Simples! As pessoas estão cheias de questões mal resolvidas em suas vidas, que vão varrendo pra debaixo do tapete, e acumulando sempre que querem fugir de seus problemas.  Sally me fez perceber, que eu não posso mais fugir, e se eu continuar fingindo que está tudo bem, nunca vamos poder ficar juntos, por que eu seria um covarde. Poderia simplesmente me perguntar o motivo de eu me sentir tão culpado com Alice se ela também queria aquilo, mas a questão não é ela ter concedido, e sim o fato de que feri minha própria moral. Eu com 19 anos era tão imaturo, imagina uma menina de 14 que mal tinha entrado na adolescência.  Ando me questionando, por que eu comecei a gostar de Sally, sendo que no começo era pra mim, como ter uma irmã mais nova e também nunca fui digno o suficiente de merecer qualquer sentimento daquela garota.

        Meu plano, se baseava em buscar por Alice, e pedir seu perdão. A maneira como nos separamos foi muito dolorosa, principalmente por que eu feria seus sentimentos propositalmente, assim quando a situação se tornou insuportável e ela pediu pra voltar, no fundo eu não queria deixá-la ir e fiquei guardando esse sentimento de culpa até hoje.  Dirigi durante muitos dias e horas, fazendo um giro ao redor do país, pois ainda não tinha coragem e nem palavras suficientes pra me expressar quando a encontrasse. Já fazem mais de dois anos, não sei como chegar nela sem parecer um idiota.

        Já estava bem próximo a entrada da pequena cidade. Quase nada havia mudado. Parei exatamente no ponto onde tinha lhe visto pela última vez. Grapvine é uma cidade muito querida pra mim, não somente por ter sido o lugar onde eu conheci Alice, mas também, pelas pessoas acolhedoras. O tempo ali passa com calma, é relaxante. Conheci pessoas maravilhosas, que pretendo visitar antes de ir embora, e a primeira delas é a vovó Nina. Não que ela realmente seja minha vó, mas fiquei 3 meses ospedado em sua casa. Na rua 180 N Lucas Dr, tive várias lembranças nostálgicas e no momento em que estacionei, Bill me avistou e atravessou a rua correndo pra falar comigo.  Ele tinha 7 anos da última vez que o tinha visto, e agora, provavelmente já estava com quase 10. Fiquei impressionado em como aquele garoto cresceu.  Naquela época, Nathalia sua mãe era uma drogada alcoólatra que não dava atenção pro próprio filho, e eu, conhecendo a história senti que deveria fazer algo. Era como um meio de descarregar minha culpa por não ter protegido Ranz. Bill passava o dia quase todo comigo, mesmo ela não gostando.

           Com isso, ele foi mandado pra um orfanato e sua mãe perdeu a guarda. Vovó Nina era muito solitária, e só tinha seu cão de estimação, conversei com ela sobre o fato e no final, Bill foi adotado por ela.

       — Oi Amigão! - lhe abraço levantando-o do chão.
       —Brant, por que demorou? - sinto grande empolgação em sua voz.
       — Tive que resolver algumas coisas. Você cresceu! Já está quase do meu tamanho. - Esfrego a mão na cabeça de Bill.
       — A vovó vai te matar! Ela disse que se você aparecesse, não te deixaria vivo.
       — Por que? - Fico receioso.
       — Por que você demorou.
       — Ela  está em casa?
       — Sim. Fazendo torta de morango.
       — Vamos entrar, quero saber o que fizeram durante esse tempo.

          A casa continuava igual,  sempre bem arrumada e com cheiro de lavanda inglesa.  Milk, o pudlle velhinho veio até mim, parecia ainda reconhecer meu cheiro. Se jogou no chão e fiz carinho em sua barriga.

        — Quem está aí? - ouço o barulho  de suas sandálias se arrastando da cozinha até a sala.
        —  Olá vovó! - ao vê-la aceno tímido.
        — Bill pegue uma faca pra vovó por favor! - ela ordena com um sorriso.
        — Senti sua falta! - vou até ela e lhe abraço feliz.
       
        — Seu moleque idiota! - ela me bate as costas. - Venha, estou fazendo torta de morango.
       

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