Ariana
No dia seguinte, tudo estava no mais absoluto silêncio. Rose estava ocupada fazendo os seus afazeres e desapareceu pela imensa casa. A cozinha estava vazia, provavelmente os outros funcionários estavam descansando. Ora ou outra vejo o mordomo caminhar por aí na esperança de encontrar algo para fazer. Hoje está o completo tédio.
Como não saio muito do meu quarto, decidi sair agora para aproveitar que todos foram trabalhar e explorar um pouco o ambiente onde eu "moro". O andar debaixo eu já explorei, e a parte sensata de mim me dizia para não xeretar o segundo andar, porém, eu não consegui escutar essa parte, pois a outra, me insistia em dizer que eu não teria outra oportunidade dessa.
Quando chego na escada, olho para a minha direita, encontrando no final do corredor, uma porta entreaberta. O quarto está escuro, e eu não consigo enxergar nada. A curiosidade falou mais alto, e eu decidi ir até lá. Meus pés me levaram direto para a porta, sem parar um segundo. Como no filme da bela adormecida, quando a Malévola atrai a Aurora até a roca.
Abri a porta devagar amaldiçoando-a por fazer barulho. Haviam quadros de fotografia gigantes. Era uma mulher; com cabelos negros, e um sorriso encantador. Não consegui ver seus olhos direito, devido á mal iluminação. Havia uma mesinha no centro do quarto, com uma rosa num jarro d'Água. Ela já estava murcha, e algumas pétalas caídas na mesa. Franzi o cenho. Na minha mente, várias perguntas rodeavam a minha mente, e antes que eu pudesse pensar em dizê-las em voz alta, uma voz grossa surge na porta. Oh merda.
- O que você está fazendo aqui?! - ele praticamente grita. Justin está furioso. Posso sentir sua raiva mesmo com a distância. Ele se aproxima tão rápido, que fecho meus olhos esperando o pior. Por que ele está tão nervoso?! - Diz pra mim que você não tocou em nada! - Ele berra segurando meu pulso. Ele me segurava com tanta força, que provavelmente ficaria a marca. - DIZ!
- E-u, eu não... - eu não conseguia dizer nada, estava em completo choque. Lágrimas ameaçavam cair dos meus olhos e eu virei o rosto para que ele não pudesse vê-las.
- Ótimo! - ainda segurando meu pulso com força, ele me puxa para fora da sala. - Nunca mais, sonhe em pisar aqui. Está me ouvindo?! EM ARIANA? EU TE FIZ UMA PERGUNTA!
A última vez que ouvi alguém gritar assim, foi quando eu errei uma nota durante uma apresentação na quarta série, e o meu professor que era um homem muito rígido, brigou comigo. De acordo com ele, eu arruinei as chances de ele ser reconhecido por um olheiro da Juilliard. Eu me senti tão mal. Lágrimas caíram dos meus olhos, enquanto eu observava o loiro brigar comigo. Ele parou de gritar quando os meninos subiram as escadas e Ryan gritou o nome dele. Foi automático: Justin pareceu ter acordado de um transe e soltou meu pulso, quando viu as lágrimas nos meus olhos.
- Nunca mais entre aqui. - ele disse como um sussurro, e entrou dentro do quarto, trancando a porta em seguida.
- Bela? - Chris se aproximou tocando meu ombro, e eu me assustei. Ele sorriu amarelo, e encarou meu pulso. - Acho que Rose tem um kit de primeiros socorros. Deve ter algo que podemos passar aqui. - diz calmo.
- Sinto muito por ele. - Ryan se desculpa, mas eu não respondo. Ele fica pra trás enquanto Chaz e Chris me acompanham até embaixo.
Eu só quero sair daqui. Sair dessa casa, nem que eu more debaixo de uma ponte, mas aqui, eu não fico mais nenhum segundo.
[...]
Ao contrário do que eu achei que aconteceria, nenhum dos dois rapazes se surpreendeu quando Sofia apareceu no meu quarto, com uma caixinha de primeiros socorros. Eles apenas deram um sorriso fraco para ela, que retribuiu. Os meninos saíram e nos deixaram a sós, e então aí, ela olhou para o meu pulso que estava vermelho e mordeu o lábio.
Eu não conseguia mexê-lo sem sentir dor; e esse vermelho provavelmente estará roxo amanhã de manhã. Justin tem uma força extraordinária.
Eu acompanhava os movimentos de Sofia sem dizer uma palavra. Ela se sentou ao meu lado na cama, e com cautela puxou meu braço e o colocou em cima do seu colo. Abrindo a caixinha branca, ela tirou de lá uma pomada para dor, colocando um pouco no dedo, passando-a no hematoma, e quando eu senti a ardência no meu braço mordi o lábio inferior com força.
- Eu sei como dói. - ela disse baixo, atraindo minha atenção. Arqueei a sobrancelha esperando que ela terminasse de falar. - Justin tem esses ataques de fúria de vez em quando. Eu já fiquei em seu caminho uma vez, enquanto ele quebrava todos os móveis do quarto.
- Ele te machucou também? - hesito perguntar, porém a curiosidade foi mais forte que eu.
- Na cabeça. - ela guarda a pomada, pegando uma faixa, e enrolando-a no meu braço. - Ele estava mal, e com um copo de vidro na mão. Os meninos haviam saído, e eu fiquei cuidando dele. Foi quando ele teve mais uma de suas crises; eu tentei pedir pra ele parar, mas ele nem me ouviu, e quando me virei pra pegar meu celular e ligar para o Ryan, ele jogou o copo na minha cabeça.
Minha boca estava aberta formando um o, e meu coração batia acelerado. Eu não disse nada. Não sabia o que dizer. Justin poderia ter matado-a.
- Ele não consegue se controlar, sabe? Graças à forças maiores, os meninos voltaram e ouviram Justin gritar. Ryan agora é o único que consegue acalma-lo. Chris e Chaz me levaram pro hospital, inventamos uma desculpa qualquer, e eu levei alguns pontos.
- Ele pediu desculpas? - engulo seco, imaginando o que poderia ter acontecido comigo se Ryan não tivesse gritado o nome dele.
- Não, mas não foi preciso. Nós sabíamos que não havia sido por querer. Quando isso acontece, e ele acaba machucando alguém, Justin se tranca no quarto por um bom tempo. Ele sente vergonha, culpa... - ela dá de ombros.
- Isso já aconteceu outras vezes? -pergunto torcendo para que ela diga que não, é meu coração bate mais forte quando ela assente.
- Antes era mais frequente. Mas agora, é bem raramente. - ela parece pensativa. Não me encarou momento nenhum, mantinha seu olhar apenas no meu pulso e na caixa de remédios.
- Ele toma remédios, ou foi no médico, sei lá, algo assim? - pareço desesperada, mas talvez eu realmente esteja. Não quero viver numa casa onde um cara que tem sérios problemas, pode me machucar á qualquer momento.
- Isso não acontece sempre. É bem raro acontecer. A última vez foi á dois anos atrás. Mas sim, ele toma.
Fico em silêncio, observando-a terminar de enfaixar meu braço.
Eu quero ir embora. Fico num orfanato se for preciso, porém não quero correr o risco de ter minha cabeça rasgada por um copo de vidro, ou pior.
- Escuta, Ariana. Eu sei o que você está pensando, mas peço que dê á ele uma chance. Justin não é esse monstro que ele aparenta ser. Não estou dizendo pra você esquecer a maneira como ele te tratou, e o episódio de hoje mais cedo. Estou pedindo que tente conhecê-lo melhor, e você vai ver que ele não é esse monstro.
Engulo seco, e fico em silêncio.
- Ele já te machucou outras vezes, não foi? - ela não me responde. Apenas corta a porta da faixa e prende a ponta solta no meu braço com uma fita. Levo seu silêncio como um sim. - Se ele já fez isso com você outras vezes... por que você nunca foi embora?
- Por que eu conheço ele. Justin é uma pessoa boa, apesar dos pesares. E se eu não ficar... quem vai? - ela me encara me esperando dar a resposta final.
- E-eu... quero ir embora. Ficar com a família que me resta. - digo encarando o chão com medo de ver sua reação.
- Vou na delegacia amanhã para saber se eles já localizaram algum familiar seu. - ouço seus passos indo até a porta, e em seguida eles desaparecem. Estou sozinha novamente.
[...]
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FIX ME
FanfictionPerder meus pais tão cedo nunca esteve nos meus planos. Ir morar com um desconhecido também não estava. Eu sempre achei que meus pais não haviam segredos; mas com o passar do tempo eu percebi que estava enganada. Tudo o que eu vivi foi construído a...