"Minha namorada Alcyon"

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 Alcyon trabalhava de babá no prédio ao lado da minha casa, na rua Paissandu. - Era a mulata mais bonita que eu já havia visto, em toda a minha vida. - Mas, além disso, era meiga, sonhadora & carinhosa. - Ela tinha os olhos mais verdes que eu já tinha visto, naquela minha vidinha de merda. - Não é preciso dizer que eu me apaixonei por ela. - Aquela menina vinha das classes sociais inferiores, mas tinha gana & sonhos a realizar. - Queria se formar em História, fazer pós, mestrado e doutorado. - Adorava sambar, (acho que hoje ela colocaria aquelas "Globelezas", todas no chinelo). - Nós ficávamos conversando até altas horas da madrugada, eu ouvindo os sonhos dela. - Eu não tinha sonho nenhum... - Eu ensinei à ela alguns segredos, tipo, como se livrar daqueles perfumes baratos, que ela usava. - Como parar de alisar os cabelos, (ela precisava assumir a negritude dela). - Comprei perfumes franceses, levei-a num amigo cabeleireiro, lá em Copacabana, pra acertar um corte black, pra ela. - Compramos roupas decentes, para que ela pudesse acentuar aquela beleza toda. - Os patrões dela, eram professores universitários, liberais no conviver. - Eram gringos. - Nós formamos uma dupla muito legal, até que eu sumi, (eu sempre sumia). Ela era muito alta, também. - Tempo presente: - Eu havia passado a noite naquela boate, a Balalayka, lá em Copacabana, tomei um monte de Cuba Libres, vi as putas, conversei com os amigos. - Ao participar da vaquinha, pra acertar nossa conta, fiquei sem nenhum, nem o da passagem eu tinha. - Saí caminhando, fraco fisicamente, e já na fase depressiva do álcool. - Fui parar numa feira, (não sei se na Siqueira Campos, ou na Santa Clara). - Eu estava bem vestido, trajava uma calça Wrangler creme, uns sapatos mocassins italianos e uma camisa xadrez azul. - Resolvi (assim de estalo, roubar umas frutas na feira, pra ganhar “sustança" e conseguir voltar a pé pra casa). - Eu nunca havia feito isso, (roubar), mas meu corpo pedia algum tipo de alimento. - Meu amigo Giba, tinha me explicado várias vezes, como fazer. - Disse: - Você tem que ir caminhando rapidamente, e visualizar o alvo, ver se o feirante está distraído, atendendo alguém, pegar a fruta e seguir vazando. - (Aparentemente, não tinha mistério). - Eu entrei na vibe, prontinho pra atacar, visualizei a banca de bananas, e fui. - O cara estava atendendo uma mulata bonita, eu cheguei ao lado dela, catei duas bananas. - Ela sentiu o meu drama, empinou o corpo pra frente, "dando uma roupa". - Eu continuei normalmente, ela disse: - Ei, você... poderia me ajudar com as compras? - Eu parei, (já estava fora do flagrante). - Ela disse: - Me ajude a levar essas coisas até em casa? - Peguei as sacolas e fui com ela...(Reparei que ela era muito bonita, alta, mulata & tinhas os olhos mais verdes que eu já havia visto). - Caracas, eu acho que conheço essa dona... - Entramos no prédio, pela portaria social, subimos, deixei as compras lá e fui saindo. - Ela disse: - Quer tomar o café da manhã comigo? - (Eu estava numa ressaca tão grande, e tão fraco, que aceitei). - Tomamos café, tipo americano, com ovos, bacon, suco de laranja, aquelas merdas todas. - Ela me olhou fixamente e disse: - Você está tão magrinho, e agora virou ladrãozinho de feira (???) - Que que a sua mãe pensaria disso, a dona Mariazinha (???) - (Eu reconheci a Alcyon naquele momento). - Ela me abraçou & choramos juntos. - Ela me apertava, querendo me proteger de todos os males. - Mandou eu tomar um banho, nos deitamos & transamos. - Eu adormeci profundamente. Quando acordei, minhas roupas estavam lavadas e passadas. - Me contou da vida dela. Havia se formado, e estava trabalhando numa casa de shows, pra juntar uma grana. - Agora ela era mulata do Sargentelli, ganhava um bom dinheiro, as coisas haviam dado certo pra ela. - Perguntou da minha vida...(Minha vida continuava a merda de sempre). Eu não tinha nenhum sonho, ou nenhuma perspectiva. - "Tudo como dantes, no quartel do Abrantes". - Ela falou: - Vem morar comigo, eu sustento você...(Senti o meu rosto enrubescer, senti muita vergonha), disse que não. - Saí dali rapidinho. - Sumi dela mais uma vez. - Tempos depois, (alguns meses), eu estava ciceroneando uns marinheiros americanos, que queriam conhecer a noite carioca, e os levei a uma casa de samba, dessas pra turistas. - Não deu outra, encontrei ela lá. - Ela me viu, se achegou e ficamos conversando. - Ela me disse: - Eu estou indo pra Itália, vem comigo, eu pago a sua passagem e cuido de você. - Eu mais uma vez declinei do convite. - Soube depois, que ela se casou com um nobre italiano, e virou condessa. Soube também, que sempre que ela vinha ao Rio, me procurava. - Ela vinha sempre pra fotografar, para aquela Revista "Manchete". - Ela alcançou todos seus objetivos... - Eu continuei na minha vidinha de merda. - Foi isso. Ciao.

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