- Encostem na parede e documentos na mão, seus viados ! - (Nós fomos detidos pela polícia civil e estávamos na delegacia). Três de nós estávamos à paisana, um com farda de passeio. - Eu sempre fui meio "folgado" e disse: - Nós somos militares...- Ele cagou...- Gritou para um cara: Fulano, trás uma laranja e um limão! - Nós com nossas identidades militares não mão...- (Ele pegou as identidades e rasgou todas). - (Esse cara era um delegado que estava "barbarizando" no Rio, ele odiava cabeludos e caras de calças apertadas). - As opções eram as seguintes: - A laranja tinha que ser colocada nas calças, se ela não descesse e caísse no chão, a judiação ia começar. - Quando ele estava de bom humor, ele dava uma segunda oportunidade. - Mandava passar o limão, se o limão caísse e rolasse no chão, ele liberava. - (eu fui o único sortudo, o limão desceu pelas minhas pernas). - O "couro" começou a rolar. - Era tapa na cara, canelada nas pernas, maldade pura. - (Ele falou, você está liberado, mas antes vai ver seus amigos se cagarem). - Meu, aquele cara sabia bater, sabia machucar... - No que ele deu uma saidinha, eu disse pro meu amigo fardado: - Rasga a farda, rasga a farda. O cara rasgou a farda. - (Nessas ocasiões, quando um militar do exército é detido, o padrão é chamar a PE, polícia do exercito, que vai encaminhá-lo ao quartel deles, e de lá o cara é recolhido a sua unidade). O delegado me liberou, e eu fiquei dando voltas, e me perguntando, e agora ? Resolvi ir até o quartel, e notificar o meu comando. Cheguei no quartel, já eram umas três horas da manhã, me cagando de medo, pois sabia que nós seríamos punidos em "boletim Interno".- Cheguei no quartel, o oficial de plantão era o tenente Maldade, o cara mais temido do batalhão...- Ele era magrinho, franzino, mas dono de uma crueldade atroz. - Expliquei pra ele, ele disse: Conta tudo, filho da puta. - Eu contei: - Tenente, eu e mais três soldados, estávamos naquele inferninho, em Copacabana, a boate Balalayka, "ajeitando" umas putas pra gente comer e chegou a polícia...É aquele delegado famoso, aquele das laranjas...Ele rasgou as nossas identidades, meteu a porrada na gente, também rasgou a farda do soldado Fulano. - (Daí, eu inventei umas coisinhas também). - Ele disse que se tiver macho aqui no quartel, ele está esperando lá, pra dar mais umas bolachas na cara, . - O tenentinho bufava de ódio..- Ele disse: - Você sabe que eu vou phudder você, não sabe? - Eu disse que sim. - Aí ele ele falou, vai lá no alojamento, pega três soldados phuddiddos, pega três quarenta e cinco, três cassetetes de madeira, duas metralhadoras INA. - Eu já estou requisitando um Jeep...- Fomos nós cinco. - Ele disse: - É pra entrar quebrando tudo, sapecando pauladas em todo mundo que estiver lá. - O delegado é meu...Se alguém puxar arma, atira no pé. - Meu, paramos o Jeep, descemos e cumprimos o combinado, metemos a porrada em todos eles. - O delegado só tomava paulada na cabeça, chorava, suplicava, e o tenente Maldade batia. - Batia e dizia, você é o valente, não é? Rasga farda e identidade de soldado? - E ainda manda avisar que é phuddido...- (Aquela noite eu gostei de ser militar). - Essa brincadeira me custou quatorze dias de cadeia, e saída só na última baixa. - Mas eu gostei do tenente Maldade...O cara era phuddiddo de verdade.