Ela me olhou bem fixamente, e disse: - Você sabe o quanto eu o amo, o quanto é importante em minha vida, mas eu decidi me casar com "ele". Nós estávamos em Ipanema, eram umas cinco horas da tarde. tomando chopp e comendo batatinhas fritas, o bar era o Barril 1800. Eu simplesmente abaixei o rosto e deixei as lágrimas correrem soltas...Eu era perdidamente gamado naquela garota. Eu não me mexia, apenas deixava os sentimentos aflorarem. (Estava imaginando o que dizer, o que retrucar). Eu disse: - Tudo bem Jose, você sabe o que é o melhor para você. ( As lágrimas teimavam em sair). Eu havia conhecido Josephine lá na "minha pedra", entre o Arpoador e a Praia do Diabo. Aquela tarde, quando eu a conheci, estava terminando de compor aquele baião de protesto, " Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina". Eu estava com o meu violão, curtindo o "meu" pôr do sol e dando os últimos retoques na composição. Jose se aproximou, ficou ouvindo a música e depois perguntou: - Que música legal. é sua? - Eu disse que sim. Ali entrosamos uma conversa boa, ficamos até tarde conversando. Josephine era bem branquinha e tinha os olhos azuis, bem azuis. Ela morava na Vieira Souto, numa cobertura, ela a mãe, o pai e um irmão. Esse nosso primeiro encontro, aconteceu exatamente há um ano atrás. Nós começamos a sair, a namorar, e eu naturalmente, como era de praxe, caí "xonado" por ela. Jose, apesar de rica, era uma menina simples, carinhosa, gostosa, boa de cama & ótima companhia. Nós passeávamos pela orla, comíamos pipocas juntos, dividíamos o sorvete, coisas que casais apaixonados fazem... Uma tarde ela me contou uma particularidade da vida dela. Ela disse: - Nós perdemos tudo, meu pai perdeu toda fortuna que meu avô nos deixou...Minha casa está hipotecada, perdemos os carros... Só sobrou o meu fusquinha, que minha vó me comprou... - Agora eles estão querendo que eu me case com um coroa, que está igual um urubu, rondando a nossa desgraça...Meu pai disse que faz gosto, por que o coroa é muito rico, e nos ajudaria a sair da miséria (???) (Aquela merda toda não entrava em meu entendimento, como é que pode uma família "vender" a própria filha)? Por que não trabalhar, viver dentro da realidade? Mas não, aquela família era tradicional, falida mas tradicional...Jose já havia perdido a alegria, a espontaneidade. E, merda das merdas, ela capitulou, aceitou se casar com o "velho". Nosso último encontro, teve sabor de tango dramático. Trepamos feito loucos, nos mordemos, nos machucamos, choramos, e nos despedimos.Depois fiquei sabendo quem era o "velho": Tinha fazendas de gado no Uruguai, tinha frigorífico, construtora, aplicava dinheiro na bolsa, enfim, um partidão. Eu acompanhei o casamento pela imprensa. - Casamento na igreja da Glória, recepção no Copacabana Palace, colunas sociais, aquelas merdas todas. E o pior, mudança do casal para os Estados Unidos... Eu fiquei no Rio, curtindo uma tristeza imensa, potencializando minha dor de cotovelo. Passei meses de merda, tomando uísque e chorando... A primeira carta que recebi dela, me deixou pior ainda. Ela dizia que me amava, que queria estar comigo, (aquelas baboseiras que as mulheres falam). Eu pegava aquela carta e ia reler lá na "nossa pedra". O carteiro coitado, jé devia estar de saco cheio. Era só ele passar e eu perguntava: - Chegou alguma carta pra mim? - Ele dizia...ainda não, (com cara de comiseração). Mas quando se é jovem, as dores vem forte e vão embora rapidinho... Depois de sete meses, eu já estava curado, prontinho pra entrar nas noitadas & putarias de novo. Engano... Recebo um telegrama dela, avisando que chegaria na próxima semana, e gostaria que eu a recebesse no Galeão, estava vindo de surpresa, só a família sabia. Velho e bom Johnnie Walker... Aquela merda voltou, aquela tensão... Quando vi Josephine, meu coração disparou, nos abraçamos, nos beijamos, foi bom pra cacete. Mas a Jose, a minha Jose, não existia mais. Agora era uma mulher elegante, cheia de si. Me contou que o velho havia batido a cassuleta. Depois de uma noitada de putaria com os amigos, capotou o carro e foi pros quintos dos infernos. Jose agora era uma garota muito rica, mandava na casa & na família, que tinha fudido com a vida dela. Dava mesada pros pais, cuidava do dinheiro, mas não dava mole pra eles. Eu agora frequentava aquele apartamento, entrava e saía a hora que queria, trepava com ela na cara dura. A família fazia olhos de moucos. As empregadas me chamavam de doutor Alex.. E eu passava a mão na bunda delas... A água ferveu o dia que ela disse: - Eu vou contratar um produtor, pra fazer o seu disco. Eu declinei...expliquei pra ela que eu gostaria de ter o meu disco pelo, apenas pelo meu merecimento. Dias depois ela perguntou: - Posso comprar um apartamento pra você? - Você continua morando naquela merda de quarto? Eu declinei de novo. Josephine havia mudado... Eu também mudei... Já estava achando uma porrada de defeitos nela. Era hora de bater em retirada, eu não amava mais a Jose... Deixei ela falando e vim pra Sampa... Quando voltei ao Rio, o meu amigo Chamaco perguntou: - O que você andou aprontando? Uma dondoca passou quase o mês todo vindo aqui, atrás de você... - Eu respondi: - Eu sarei, eu sarei...