Eu estava no bar, tomando um café, para ir trabalhar O cara chegou e me disse: - Meu patrão mandou lhe dar um recado( ???). - Eu estava naquele bar, lá na zona leste, e lá não se falava de flores...(Lá se falava de violência, de trabalho, de condução super lotada, de sofrimento). - Quem é o seu patrão ? - Meu patrão é Fulano, ele mandou lhe avisar, pra não aparecer nesse lugar amanhã. Nem você, nem sua esposa & nem sua filhinha...A morte vai passar por aqui, amanhã... - Eu por mim, não lhe avisaria, mas ele diz que você é uma pessoa boa, e não merece estar aqui, quando a merda acontecer...Você é o cara que trabalha num jornal, não é ? O jornalista ? - Meu patrão disse que você é um cara educado, respeitador, sempre o cumprimenta, e coisas tais. - Não apareça por aqui amanhã (???). (Eu imaginei o que poderia acontecer lá, possivelmente um acerto de contas, de quadrilhas rivais). Voltei em casa e disse pra minha esposa: - Eu gostaria de lhe pedir que não fosse ao bar amanhã, em nenhuma hipótese, ok? Ela me olhou, inquirindo e disse. - Porquê ?- Eu respondi que estava tendo um pressentimento ruim, essas coisas. (Mulheres... ela queria saber a verdade). Me disse assim: - Cara, você está me achando idiota? - Não, amor, mas não vá lá. Compre o pão na padaria do ponto final, cigarros, essas coisas... Mas por favor, me obedeça. (Nós fazíamos algumas compras ali, ( um leite, pães, cigarros). Eu gostava de tomar uma coca cola ali, quando voltava do trabalho. Pedia o refrigerante e ficava conversando com a galera. Ali tinha de tudo, trabalhador, estudante, ladrão, assassino, traficante, "espianto". Mas era o bar na frente da minha casa. E eu conhecia aquele povo todo. E todo mundo se respeitava, Éramos vizinhos, reunidos no final de um dia de trabalho. Áh, e o cara me disse assim: - Se essa nossa conversa vazar, eu venho lhe fazer uma visitinha... Eu, correndo risco de vida, avisei alguns "chegados". - Véio, no dia seguinte eu nem fui trabalhar. Estava com medo de minha mulher me desobedecer. Nem a menina, eu deixei que fosse pra creche. - Véio & bom Charlie, no anoitecer, lá pelas sete, oito horas, nós ouvimos um matraquear de armas automáticas, um tiroteio do caralho. (Aquilo parecia uma eternidade). Minha esposa me olhou e disse: - Você sabia dessa merda, não é ? Deve ter morrido gente ali...- Eu apenas respondi: - É guerra de bandidos, pode ter certeza de que ali não morreu trabalhador, só bandido. E eu não poderia falar nada, por que o cara me "jurou de morte", se eu comentasse com alguém. - O "patrão dele, o Fulano, mandou ele aqui, pra me avisar & nos preservar. - Véio, a hora que eu saí, pra dar uma "pescoçada", tinha "presunto" pra todo lado. Televisão, polícia, jornalistas...(Nenhum cliente "do bem", foi incomodado, o dono do bar & família também não). - Era um "acerto de contas", entre aquela bandidagem. - Eu gostaria de falar de flores...(Mas ali na zona leste, era difícil, se falar de assunto tão prosaico).