Tudo bem, vamos combinar, eu confesso. Eu era apaixonado pela menina que cantava gospel. Eu sei que ela não era pra mim, eu era um menino "do mundo". (Mas que a menina que cantava gospel me paquerava, isso era verdade). Eu só frequentava duas igrejas, a "igrejinha do Arpoador" & a igreja da menina. Era só flerte, por que a menina era filha do pastor, ou de um cara importante na igreja, e não era para o "meu bico". Deus que me perdoe, mas eu só ia lá por dois motivos: - Pela menina que cantava gospel, e pela comida, que era de primeira. Na real, eles não me levavam muito a sério, e nem eu a eles... Eram adventistas do sétimo dia. - Eu quando ouvia a menina cantando, eu fechava os olhos, e chorava. A danadinha cantava muito bem, e aqueles hinos, me deixavam emocionado. (Mas eu queria mesmo, era beijar aquela boquinha "abençoada", apertar aquela menina nos meus braços). - Mas era tudo platônico, eu sabia que a menina pertencia à outro mundo, o mundo deles. Eu participava de todo o ritual: - Estudo bíblico, culto de louvor, tudo, só para estar perto dela. Você sabe de uma coisa ? Acho que ela também tinha uma certa atração pela minha pessoa. - Ela me olhava, com aqueles cílios grandes, sorria sem palavras, tínhamos um código secreto, de olhares & sorrisos. Na hora do almoço, eu sempre arranjava um jeitinho de me sentar ao lado dela. (Eu sabia que aquele não era o meu mundo, depois do almoço, eu vazava pra minha galera, e era chopp & garotas). As vezes, meu primo Dan me convidava: - Vamos a igreja hoje ? Eu dizia que não, que eu iria na "igreja do Arpoador". Eu ficava triste & com raiva, por não ter a menina que cantava gospel comigo. Daí, eu "descontava", nas meninas "do mundo", minhas amigas. As meninas "do mundo", não me negavam beijos & afagos... Quando eu aparecia na igreja da menina, eu via o brilho nos olhos dela. Aquela danadinha sentia algo por mim, eu sabia. - Mas nunca consegui abrir meu coração a ela. (Eu era muito doido, pra eles ).- E eles eram o supra sumo da caretice, pra mim. Ali tudo era pecado, (na minha visão). E eu sempre fui uma alma libertária, nunca me prendi a certos dogmas, desde de menino. (A vida tinha que ser bem vivida, obrigatoriamente). Um dia, uma pessoa muito importante, (pra mim), me disse: - Viva sua vida, não se importe com preconceitos, não se assuste com nada, apenas viva & aprenda. Aprenda com as pessoas, com os animais, com as plantas. Assim você conseguirá enxergar beleza, mesmo onde ela não existe. Depois de certo tempo, eu abri mão dela, da menina que cantava gospel. O mundo dela era outro, o meu era aqui, no fundo, das ruas desse planeta sem mimo. - Beijos, menina, que você esteja feliz. (Eu estou). Fui.