Nós estávamos naquele bilhar famoso, lá na Praça Tiradentes, no Rio. Eu e mais dois amigos. (Eu não me lembro o nome do bilhar, e nem o nome dos amigos). Mas me lembro bem, do que aconteceu naquela noite. Nós havíamos decidido jogar bilhar & tomar umas bebidas. Eu nunca fui essas coisas no bilhar, mas estava jogando, e perdendo dinheiro. Na realidade, achei que poderia ganhar umas partidas, dos meus amigos, mas os caras jogavam muito e eu quebrei a cara. Eu estava ali, tentando aplicar algumas sinucas de bico, e aquele senhor se achegou... - Ele disse: - Olá boa noite, (estava tentando entabular uma conversa)...- Eu respondi o boa noite dele, e continuei jogando, tentando ignorá-lo. - Ele perguntou: - Você me conhece ? Sabe quem eu sou ? - Eu respondi que não sabia quem ele era... - Atrevidamente eu disse: - E o senhor, sabe quem eu sou ? (É lógico que eu sabia quem era ele)... Ele me disse, eu sou o Braguinha, compositor.( O grande compositor de marchinhas carnavalescas, Alá laô, Pirata da perna de pau, Cabeleira do Zezé & tantas outras). - Mas eu estava de saco cheio e disse: - O senhor sabe quem eu sou ? Repeti...- Eu disse: - Eu sou o Alex, grande compositor de músicas de protesto, poeta e escritor. - Ele arqueou as sobrancelhas, como quem diz, é maluco...E foi saindo de fininho... Eu perdi mais umas partidas, minha consciência me disse que eu havia sido grosseiro com ele, parei de jogar e fui conversar. - Eu me aproximei e disse: - Eu sei quem o senhor é...É o grande Braguinha, o maior compositor de músicas carnavalescas do Brasil... Braguinha se abriu num sorriso franco, e ficamos conversando por algumas horas, ali naquele bilhar. Ele era uma pessoa muito franca & simples, queria apenas prosear. Eu falei das minhas dificuldades, em colocar minhas músicas. Disse que já estava ficando conhecido no meio, mas era muito difícil. Disse que já participava de alguns programas na Rádio Nacional, contei que já havia dado algumas entrevistas na Rádio Jornal do Brasil, mas mesmo assim, as coisas não eram fáceis. Seu Braguinha me ouviu com paciência, me explicou que as coisas eram assim mesmo, mas que eu lutasse pelos meus sonhos...( Essa conversa, nós tivemos há uns quarenta e cinco anos atrás ). Anos depois, eu abri mão do sonho de ser cantor/compositor, por que minha mãe havia ficado viúva, e eu achei que ela estava precisando de mim, e vim para São Paulo. Daí me casei e a vida mudou de rumo. Foi muito difícil, abrir mão do meu sonho, foi muito sofrido. Os caminhos que a vida nos traça, são caminhos de escolhas, e eu achei que naquele momento era o que eu precisava fazer. Mas eu nunca esqueci da minha conversa com o Braguinha, daquela figura humana e cordial. Em São Paulo, me dediquei à escrever poemas, ganhei alguns concursos literários, mas a música ficou apenas no meu coração. Voltei a compor, quando entrei na igreja, compus louvores, músicas gospel, spirituais. Compus um louvor que dizia assim: - " Muitos reis, existem na Terra, muitos reis, existem aqui. Há um Rei que virá, entre Glórias & Louvor, e o nome desse Rei é Jesus, Aleluia, Aleluia, Aleluia". Esse era o refrão da música. - Boas lembranças...