Meu primo Dan me procurou, e disse: - Seu irmão mandou nos chamar, ele quer falar conosco,(???). - Fomos pra casa do Josef, como sempre, as forças da ditadura estavam fazendo uma varredura em Santa Teresa. - Aquele bairro era um reduto de intelectuais & revolucionários. - Dan e eu pegamos um táxi e fomos pra lá.- Chegamos lá, a casa estava uma bagunça, algumas malas feitas... - Josef falou: - Eu e a Zeza estamos fugindo hoje de madrugada, a repressão está atrás de nós. - Vamos tentar pegar o "trem da morte", vamos descer a Cordilheira dos Andes, tentando chegar até o Chile. - Eu senti os meus pés falsearem. - (Agora eu não tenho mais ninguém, pensei), bem ou mal, o Josef, me transmitia segurança. - Eu sabia que poderia fazer as minhas cagadas, por que o meu irmão sempre me salvaria. Ele não ia me abandonar nunca. Agora essa notícia... (Eu hoje sei que o Josef era o meu pai), eu havia transferido a minha necessidade de ter um pai pra ele. Nós fomos criados separados, mas eu sabia que tinha esse irmão, e ele sempre viajava comigo, no meu coração. Josef as vezes me batia, mas eu nunca levantei as minhas mãos contra ele. Eu sempre o respeitei. Uma vez, ele me bateu tanto, mas tanto, que eu fiquei uns dias "bem maus". Eu estava com muita fome, e resolvi ir a casa dele. Fiquei esperando por eles, (ele & a Zeza). Parou um táxi: De repente eu vejo um monte de notas, (dinheiro), sendo jogado pra fora do táxi. Josef estava brigando com a Zeza e rasgando dinheiro, (é, ele rasgava dinheiro ). No que ele desceu do táxi, já começou a me dar porradas... Zeza gritava, de olhos arregalados: - Pára com essa merda!- Não bate nele não! E Josef me aplicava golpes & golpes no peito, no estômago.. Minha respiração faltava... Eu estava armado com a minha "Solingen", uma navalha afiadíssima, que eu havia ganhado do meu amigo da Lapa. Mas em nenhum momento, me passou pela cabeça navalhar ele. Eles entraram, e eu desci a rua cambaleando.. Esse era Josej, meu pai. Mas eu amava aquele cara. Eu já era escolado nas brigas de rua. Meu amigo da Lapa, que era um exímio capoeirista, havia me dado dicas, de como se dar um rabo de arraia, uma tesoura, vários golpes. Eu brigava bem. Mas Josef, meu pai... - Eu não poderia cortar ele. Mas voltando ao exílio: - Ele disse, eu estou me despedindo de vocês. - Alex, as coisas que eu não puder levar, você vende e descola uma grana. Josef se foi, partiu com a Zeza naquela noite... Eu só voltei a vê-lo, muitos anos depois. Eu já estava casado. Soube depois que ele e a nova mulher dele, a Wil, haviam estado na fila do fuzilamento, na Argentina, na época da "Operação Condor". Eles usavam um estádio, os militares, para classificar quem deveria ser fuzilado. Hoje sei que Deus tirou ele daquela fila. Quando soube que Josej estava voltando, Minha alegria foi muito grande. - Eu disse pra Nê, minha esposa: - Meu irmão está voltando, ele está vindo aqui pra nossa casa. - Minha alegria era tanta, que quando vi Josef, eu fiquei sem palavras. Abracei ele com força, abracei a Wil, e nossa família se completou de novo. - Eu amo esse porra, chamado Josef.