" Show no teatro Paulo Eiró "

295 1 0
                                    

. Assim que o avião fez o contorno no Cristo Redentor, eu pensei: - " Estou de volta ao Rio".  Aquela cidade me atraía de uma forma muito louca. Eu peguei um táxi no aeroporto Santos Dumont, e fui pra Glória. Eu morava naquele bairro. Lá era bom pra cacete. Tinha a Taberna da Glória, que só fechava de manhã. - Tinha samba, boêmia, brigas, navalhadas, porradas, tiros, morte. e mulheres... - Era o meu habitat...- No outro dia me liga aquele mecenas, cazzo, esqueci o nome dele! Ele diz: - Alex, eu estou preparando um show no Paulo Eiró, e quero que você venha cantar. Me manda algumas músicas, para poder mandar pra censura. - Tem que passar pela censura? - Perguntei. - Ele disse, tem que passar pela porra da censura, senão os caras fecham o show... - Porra meu... - Tudo bem, eu mando quatro músicas, vê o que dá pra fazer aí. - Depois de uns dias, ele me liga: - Alex, foi tudo proibido. - E o porra do censor quer saber que merda é essa, de "lumpen proletariado" (???). - Caracas, os "merdas" me censuraram. - Que legal, é sinal que as músicas são boas. - Falei pra ele, estou mandando um baião, chamado "Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina". - Ele me disse depois, essa passou. - (Eu ia cantar a tal de "lumpen proletariado" de todo jeito). Foda-se a censura... - Forcei a barra... E a lumpen? Não vai ter jeito? - O puto respondeu que só se eu mudasse tudo. - Letra, todinha. - (Essa música era o meu xodó). - Bem, passamos à negociação... - Cara, como é que nós vamos fazer? Você manda as passagens de avião? O hotel, essas merdas todas? - O milionário respondeu de lá...Avião? Você quer vir de avião? - Cometa não serve? - Eu disse: - Eu quero avião, hotel e cachê... - Ele já havia colocado o meu nome nos cartazes rs. - (Na real, eu queria pegar um pouquinho da grana dele). O puto estava cobrando ingresso. ia um pessoal famoso lá. - (Se não me falta a memória, aquele cara dos "Bandolins" foi, e mais umas personalidades. - Ele chorou, chorou, eu chorei também rs. - Ele disse: - Boca de siri, ninguém pode saber desse lance de cachê... - (Demorou, pensei). - Ele mandou a grana, colocou no roteiro o meu baião. - Eu fui sem ensaiar, sem nada, cara & coragem. - Show começa, povo se apresentando, eu tomando conhaque, pra limpar a voz. - O cara me anuncia: "Alex Pinetree, cantando "Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina... _ Eu entro no palco e sapeco, Lumpen proletariado, o povo bate palmas pra caralho, eu olho pra ele, ele está bufando. - Aquele puto nunca mais me convidou rs. - Phoddasse a Censura!!! -Peguei o avião e voltei à cidade Maravilhosa. Era tão bom ser maluco naqueles tempos...

Cotidiano & SacanagensOnde histórias criam vida. Descubra agora