(O dia que o valente se cagou, e se mijou). Eu estava na casa do meu amigo/irmão, Dentinho, conversando e tomando café . A certa altura eu disse pra ele: - Dentinho meu irmão, eu estou indo embora, estou me despedindo de você. - Acho que nunca mais nos veremos... Dentinho franziu o cenho, como sempre fazia e disse: Indo embora? - É amigo, indo embora. Ele sentiu o baque, ficou calado. - Sabe Alex, eu sempre considerei você um irmão. Você é o meu melhor amigo, e me abraçou...Eu me comovi com aquele louco. - Dentinho disse então, vou pegar uma lembrança pra você. - Voltou com três armas, (uma Luger, uma Walter PPK, e uma Browning. - Eu disse, que porra é essa cara? - Ele disse, escolha uma...- Eu peguei essas armas do velho, do meu avô... - Depois que o velho morreu, eu peguei essas armas para o meu acervo, (???). - Eu falei pra ele, - Dentinho meu irmão, eu não gosto de armas, eu sou um pacifista convicto. Não quero. - Ele franziu o cenho (de novo), e disse, - Alex, se eu tivesse dinheiro, eu lhe daria, se eu tivesse uma joia, eu lhe daria. Mas acontece, meu irmão, que a única coisa de valor que eu posso lhe entregar, é uma dessas armas... - Fica com a Browning,é uma arma de defesa compacta e muito poderosa...- Pegou um trapo, colocou a arma, mais dois carregadores e uma caixa de projéteis. - Eu guardei aquela Browning por muitos anos, as vezes, quando eu a estava limpando, eu me lembrava dele...- Eu me casei, tive duas filhas, a primeira morreu com 15 dias, morreu de infecção hospitalar. - Um dia eu comprei mais uma caixa de projéteis, 765, ponta reforçada com aço, e deixei guardada. - Minha segunda filha, já estava com quatro, cinco anos, quando tudo aconteceu. - "Era um sábado, eu estava em casa, coçando o saco, minha esposa disse: - Eu vou levar a menina numa festinha de aniversário, você quer ir? - Eu não quis. - Disse, pega um dinheiro e vai de táxi...Ela pegou o dinheiro, mas não foi de táxi. - Ela se encontrou com a sobrinha e foram a pé. (Ela, a sobrinha, dois sobrinhos pequenos e minha filhinha). - Lá pelas tantas, me deu uma inquietação, um aperto no coração, uma tristeza.- Eu não conseguia ficar quieto. - Decidi ir lá na festa, pra saber delas. - Caminhei dois quarteirões e vi o carro... Capotado, virado na calçada... Senti um aperto no coração...- Perguntei prum cara: - O que aconteceu? - O cara me disse que um carro havia capotado ali, vinha fazendo racha, e atropelou as três crianças...As moças não sofreram nada, por que vinham conversando, logo atrás.- Eu já tremia, em estado de choque, mil sensações voavam por minha cabeça...- Cheguei no hospital e vi minha filhinha, as forças me faltaram e eu caí de joelhos...Ela veio correndo, a minha menininha, com um hematoma roxo na testa, do tamanho de uma laranja...- Ela me abraçou e dizia, "'tá tudo bem, papai". - Eu a apertei e comecei a chorar, soluçar...- Aquele corpinho tão frágil... Os meninos, sofreram muito, tiveram que fazer enxerto, foi um sofrimento só. Nosso sobrinho fez o BO, correu atrás de tudo.- Quem atropelou, foi um playboysinho do bairro, casado um uma menina muito legal. Ela nos procurou, e disse que arcaria com todas as despesas médicas... Mas o playboy me procurou e disse: - Eu não vou pagar nada, se você encher o meu saco, ainda vou lhe dar umas porradas, e se duvidar, ainda mando matar você...Eu sou rico, e posso tudo.- O ódio me tomou ali, mas eu fiquei bem quietinho...Aquele cara acabava de assinar a sentença de morte dele... O meu pacifismo foi pro espaço. Eu não descansaria, enquanto não matasse ele...Os meses foram-se passando, minha filha não teve sequela nenhuma. - Mas aquele tipo não me deixava em paz. - Passava no carrão novo, buzinava, debochava, e fazia aquele sinal típico com o dedo pra cima...- Eu já havia pedido a alguns olheiros, que me informassem dos passos dele...Não deu outra... Meu olheiro veio e me disse. 'Tá na barbearia do espanhol, é baba, é só ir lá e "fazer" o cara..- Eu peguei a Browning do Dentinho, carreguei os três pentes, e fui. - Eram umas duas horas da tarde, pouco movimento na rua. - Invadi a barbearia e o espanhol gritou, assim que me viu, - Eu não quero bagunça aqui. O valente estava sentado na cadeira de barbeiro, eu fechei a porta de vidro, saquei a Browning e disse pro cara, você acredita em Deus? - O valente começou a tremer e a se mijar.- Eu disse pra ele, ore meu filho, por que você vai morrer...Comecei a sentir um cheiro de merda, o valente estava se cagando...Destravei a arma, puxei uma bala pra agulha...O espanhol estava branco, o valente, nem se fala...- Uma voz dizia na minha cabeça:- Mata ele, mata ele. Outra voz dizia: - Não faça isso...Eu puxei o lóbulo da orelha dele e sapequei um tiro, o sangue jorrava, eu não tive coragem de matar aquele filho da puta, indefeso. - Eu tremia, era só adrenalina. - Eu disse pra ele, - eu vou lhe dar duas chances de vida... Se você for macho mesmo, vai na sua casa, pegue uma arma, e venha trocar tiro comigo. - Se você for só esse viadinho que é, suma desse bairro, por que a próxima vez, não vai ter "boi"... Ele sumiu, eu também sumi por uns tempos... - Esse foi o dia que o valente se cagou, e foi o dia que eu descobri o ódio...- Dentinho tinha razão, um dia aquela arma poderia ter um uso". - Hoje não faria mais isso