" Meu amigo judeu "

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 Conheci meu amigo judeu, numa manhã ensolarado do Rio de Janeiro. - Eu fui pedir emprego pra ele. - Ele era amigo do meu irmão Josef. - Josef havia trabalhado pra ele... - Ele era judeu húngaro, era um senhor baixo, meio gordinho...- Eu contei a minha história pra ele, de como eu havia saído da casa, em São Paulo, e estava "batendo cabeça" no Rio. - Ele se comoveu, aquele cara tinha um coração do tamanho do Maracanã... - Ele disse: - Seu irmão é um rapaz de muito valor, está na faculdade, trabalha...- Um lutador, e você? - Eu disse pra ele: - Eu preciso trabalhar... - O senhor precisa de um office boy? - Ele não precisava de um office boy, mas mesmo assim me deu o emprego... - Me levou no bar, e disse pro cara: - você vai dar todos os dias, um café da manhã pra esse menino, vai dar uma sopa, na hora do almoço, um maço de cigarros Minister e um lanche, à tarde(???). - Pode colocar tudo na minha conta. - Cara, eu fiquei pasmo com aquela generosidade...- (Eu acho que ele fez isso, por causa do Josef, ele gostava muito do meu irmão).- Ele tinha uma firma de material de escritório, um atacado, morava lá na rua das Laranjeiras. - Tinha duas filhas, (que hoje são jornalistas famosas). - Bom, minha vida seguiu, eu fazia o meu trabalho, limpava o escritório, ia aos bancos e fazia as entregas. - Mas o mais interessante, é que eu comecei a conhecer os amigos dele. - Eram senhores de certa idade, que iam lá jogar baralho. - Todos eles tinham um número escrito no braço, em letra azul.- (Anos depois eu fiquei sabendo o que aqueles números representavam, mas isso é uma outra história). - Um dia eu falei pro seo Anton: - Eu gostaria de aprender a vender, me ensina a vender? - Os olhos dele brilharam. - Eu senti que ele se emocionou...(E vi também, que aquele homem me amava, como se eu fosse um filho dele). - (Eu já o havia "adotado", como meu pai, há muito tempo). - Ele disse: Eu vou lhe ensinar tudo que sei, de vendas. - Vou fazer de você um grande vendedor...- E começou a me ensinar os macetes, como vender, como ser honesto com os clientes, essas coisas todas. - Um dia ele disse, amanhã nos vamos fazer a praça... - Meu filho, imagine que o dinheiro seja uma "fruta", e que esse dinheiro esteja em cachos, nas árvores... - Hoje nós vamos colher dinheiro...- "Pensei comigo, esse cara é louco de pedra". - Pegamos o fusquinha beje dele, e fomos viajar. - Pegamos a via Dutra, fomos à Resende, Volta Redonda. - Eu começava ali, a conhecer a "judeuzada", a colônia. - Aquele dia, ele tirou um monte de pedidos, o cara era bom... - Na volta ele disse: - você está com fome? - Sim seo Anton, eu estou com fome...- Você já comeu goulash? - Não seo Anton, na faço idéia do que seja isso.. - Ele disse: - Goulash é uma comida da minha terra, um guisado, você sabe o que é um guisado? - Não seo Anton, eu não sei.- Tem um restaurante húngaro, em Resende, vamos comer goulash... - Meu, a mulher do restaurante era amiga dele, uma húngara... Trouxe uma sopeira quase do meu tamanho, cheia de goulash, eu me fartei, comi & suei... -Aquele tal de goulash era da hora. - Aquele homem era um pai que eu nunca tive...- me ensinou a ser um homem. - Essa história continua depois, eu preciso contar como tirei meu primeiro pedido. Mas fica pra depois. Fui.

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