(Uma história Nelson Rodriguiana). - Essa história do Freddo, começou a me perseguir há exatamente dois dias. Fazem trinta anos, aproximadamente, que eu fiquei sabendo dos acontecimentos que vou contar agora. O fantasma do Freddo veio me visitar, e pedir que eu contasse tudo. Freddo era meu companheiro de caminhadas, & de água de coco, nas manhãs ensolaradas do Parque do Taquaral, em Campinas. Depois de algum tempo, nos tornamos amigos. Ele era viúvo, tipo velho solitário. Um dia ele disse: - Quero contar uma história para você, eu prometi pra minha falecida esposa, que nunca comentaria esse assunto com ninguém, mas ela se foi, e eu preciso desabafar. Eu ponderei: - Freddo, não precisa me contar nada...São coisas da sua vida...(Mas confesso que fiquei super curioso). Ele disse: - É sobre a minha filha Marcia. (Eu nem sabia que ele tinha uma filha). Freddo só me pediu uma coisa, que eu só escrevesse à respeito, depois que ele tivesse morrido. (É uma história comum, mas carrega muitos sentimentos, fortes). Freddo veio da Itália menino, junto com os pais, assim que chegaram ao Brasil, foram morar na Moóca, em São Paulo, onde os pais abriram um pastifício. Os negócios da família prosperaram, ele estudou, e se formou engenheiro industrial e veio trabalhar numa multinacional em Campinas. Casou-se com uma campineira, e viveram alguns anos de felicidade. Tiveram uma filha, cujo nome é (ou era), Marcia. Freddo cresceu na empresa, chegando a cargo de chefia, (até ali, me disse, a vida corria as mil maravilhas). O grande problema começou, me explicou ele, quando a empresa mandou que ele viajasse pelo país, acompanhando o lançamento das novas plantas industriais da firma. Nessa época, Marcia devia ter uns dezessete anos, menina bonita, (e que namorava um rapaz italiano, de boa família). Freddo me contou que fazia gosto, desse relacionamento. O menino era trabalhador, tinha um cargo de gerência, numa multinacional de auto peças italiana. Ele era apaixonado por Marcia, tinha até comprado uma moto scooter pra ela, que ela queria tanto. Freddo viajava a trabalho e voltava nos finais de semana. A vida corria boa & próspera, me contou ele. Família tranquila, casamento a vista, tudo ia nos conformes. Mas o inusitado sempre se apresenta, as coisas nunca são perfeitas. Um dia o menino diz pra ele: - Seu Freddo, eu gostaria de falar com o senhor, em particular... Eles se trancam na biblioteca, e o menino diz: - Seu Freddo, a Marcia está andando com más companhias, com meninas de programa... - (Acho até que ela está fazendo coisas erradas)...Freddo me contou, que a primeira reação dele, foi meter a porrada no moleque. Mas ponderou e disse: - Você pode provar o que está me dizendo? Isso é muito sério... O menino disse: - Eu coloquei um investigador particular, na cola dela, e as notícias não são nada boas, me perdoe, seu Freddo. Combinaram de ir num lugar, na segunda feira seguinte, era lá na rua José Paulino, no centro da cidade. Freddo me contou, que assim que chegaram no local, o coração dele sentiu um aperto, uma tristeza, mas eles foram em frente. Era um prédio de apartamentos, eles se identificaram como clientes e subiram. (Freddo me contava isso, e as lágrimas corriam pela face dele). Quando os dois entraram no prostíbulo, lá estava a filha dele, a Marcia, cercada por umas dez meninas, aguardando os clientes. Freddo me contou que por pouco não infartou, arrumou um "pampeiro" daqueles lá, disse que ia chamar a polícia e coisa e tal, que a menina era "de menor". - Disse pra ela: - Vem comigo pra casa. - Ela se negou a ir com ele... Freddo me disse que estava tão enlouquecido, que deixou ela lá mesmo. Ele se lembra que assim que saiu do prédio, sentou-se no meio fio e começou a chorar...Me contou que foi, sem dúvida, o pior dia da vida dele, descobrir que a filha estava se prostituindo. Me disse que andou pela cidade, sem destino, chorando...- O pior, ele me disse, o que dizer para a esposa, como explicar uma coisa dessas? Mas ele tomou coragem & contou. Dois dias depois, Marcia apareceu, pegou as coisas dela, e disse que ia embora. O casal implorou que ela não fosse, mas ela irredutível, tomou o rumo do "mundão de Deus". Freddo me contou, que todas as noites, ele e a esposa, iam ao quarto de Marcia, e choravam a perda da filha. Depois de alguns meses, Marcia deu notícias, havia alugado um quarto em Moema, e precisava de dinheiro, estava passando por necessidades. Freddo disse que mandou dinheiro pra ela, (todas as vezes que ela pediu, eles mandaram). Ela nunca mais retornou a casa dos pais. A saúde da esposa, foi se deteriorando a olhos vistos. - Freddo fazia de tudo, para alegrar a esposa, mas ela fenecia no dia a dia. Ele contou que depois dessas coisas todas, Marcia se casou com um cara europeu. Que Marcia ligava, umas duas vezes por ano, para a mãe. Ela, a esposa, ficou sabendo que era avó, mas o relacionamento entre as duas foi morrendo. Eu perguntei: - E você, como reagiu à essas coisas todas? Freddo me disse: - Eu perdoei tudo, mas o problema, é que a Marcia nunca se perdoou.. - Vai viver eternamente infeliz... - Taí Freddo, eu escrevi a sua história, agora me dê sossego