" Perdões / Minas Gerais "

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 Cinco & meia da manhã. O caminhoneiro me deixou na entrada da cidade. Ali perto do hotel Maia, e do posto de gasolina, na Fernão Dias. A cidade estava acordando, (aquele cheiro de Minas, entrando pelas minhas narinas). (Minas Gerais tem um cheirinho todo especial, só dela). Sempre que eu chegava em Perdões, eu sentia uma emoção forte. Me sentia seguro ali, terra dos meus antepassados. A emoção que eu sentia, vinha das minhas lembranças de criança, quando eu chegava com o tio Ari, vindo de trem, desde o Rio de Janeiro. Agora, chegando de carona, cruzando a Fernão Dias, desde Sampa, todas essas lembranças me visitavam. Enquanto pensava nessas coisas, eu ia à passos largos, subindo aquela ladeira, até a praça Dr. Zoroastro Alvarenga, onde meus tios moravam. Logo logo, eu estaria tomando o café da manhã com meus tios queridos. Contando as novidades do Rio, dizendo que mamãe e as tias estavam bem, essas coisas todas. No final da tarde, eu estaria com minha namorada, matando as saudades & ficando juntinho com ela. Depois do namoro, eu me sentava com o tio Ari na praça, e fumávamos uns cigarros e proseávamos. Era bom, estar ali, na segurança, com os meus parentes. Naquele lugar não havia ditadura, não havia medo & nem perseguição. A comida era deliciosa, feita no fogão de lenha, a prosa era boa e sincera. Em Perdões eu estudei, eu namorei & fui feliz. Quando chegava a hora de voltar, me dava um "banzo", uma tristeza escrava. (Um certo medo, de voltar à cidade grande). Ali eu pescava, eu empinava pipas, com o meu primo, eu pegava passarinhos, no alçapão, (mas depois nós soltávamos os bichinhos). "Óh, que saudades eu tenho da minha vida, da minha infância querida, dos tempos que não voltam mais"...Me lembro daquela passagem, quando fomos roubar moedas no cemitério, moedas antigas, de prata, do século dezoito. Eu, Julinho, Waltinho. Tia Lola ficou maluca, mandou que nós devolvêssemos as moedas, por que aquilo trazia azar, trazer coisas dos mortos para dentro de casa. É lógico que nós ficamos com o nosso "tesouro", guardamos tudo dentro de uma caixinha de charutos... Perdões, Minas Gerais, está na hora de eu fazer uma visita à você. 

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