Quando o governador ia almoçar na casa da tia Luli, era uma festa. Comida a rodo, bebidas, e tudo mais. Depois do almoço, eles jogavam bridge, (coisa de ricos). Eu só sabia jogar ronda, buraco, essas coisas. (Mas isso eu aprendi depois, mais velho). Minha tia, era uma leonina mão de vaca, mas eu gostava dela. Ela me lembrava um personagem de Balzac, (Eugénie Grandet). Mão de vaca, mas ótimo coração. - Quando eu sabia da ida do governador, eu sempre arrumava um jeito de ir lá. Eu ficava "entocado na cozinha", comendo, me fartando de todas as travessas que voltavam da mesa. (As empregadas eram minhas amigas, e diziam: - Manda bala, come mesmo, come essas merdas todas ). Ela ( tia Luli, odiava isso, por que gostava de entocar aquelas comidas, pra comer com a família dela, no resto da semana). - As vezes me chamava à mesa, e dizia pra visitas. Esse é o meu sobrinho "pau de arara". Eu, na minha ingenuidade, achava que aquilo era um puta elogio. - Quando descobri que pau de arara eram aquelas pessoas que vinham do norte, pra fazer a vida no Rio, fiquei meio assim, meio chateado. As empregadas não gostavam muito dela não, por que ela as trazia de Minas, (pra poder pagar um salário de merda, pra elas). Dizia que as serviçais do Rio, cobravam muito caro. Eu, o pau de arara, detonava com tudo que vinha da sala, era a minha vingança... O governador, era um general, phuddiddão. Havia sido nomeado interventor no Espírito Santo. Era governador "biônico", como se dizia à época. - Era ditadura brava, nesses tempos. - Eu saia de lá, com os bolsos atulhados de salgadinhos , e ia descansar no Largo da Glória... Eu era um menino malvado.