Minha querida tia Aliz. - Eu amei muito essa tia, e vou contar essa história pra vocês. Ela morreu nos meus braços. Deus me deu essa dádiva, de estar com ela, sozinhos, nós dois, em casa. - Eu a entreguei à Deus, pedi a Ele que a recebesse no Céu. É uma história que chega as raias do surrealismo. - Tia Aliz, morava com um senhor português, de nome Gonçalves. Eu morria de medo dele. Ele era baixinho, corcunda e usava uma bengala, pra se apoiar e se locomover. - (Acho que todas as crianças da família tinham medo dele). A tia era uma mulher muito bonita, alta, loura, de longos cabelos lisinhos. As vezes eu ia passar a tarde na casa dela. Ela preparava o nosso almoço, nós comíamos e ficávamos conversando. As vezes, tomávamos umas tacinhas de vinho do Porto, e a conversa fluía, bem sincera e descontraída. A tia me contava coisas de nossa família, dos meus avós. - Na realidade, ela me tornou um confidente dela. Naqueles momentos de solidão, ela tinha um menino sobrinho, também solitário, e ela me contava tudo. Eu sempre a amei muito, e a respeitei. Isso numa época em que respeito não era o meu forte.- Mas o grande amor da titia, era o Alfonse. - Alfonse era um tipo atlético. Ele era remador do Flamengo. Era um primo pobre, daquela família de jornalistas, dona de uma rede de televisão, e de um jornal muito famoso no Rio, e no Brasil. Ele morava na Praça São Salvador, naqueles prédios dos Bancários. Havia ali, um acordo tácito, de um triângulo amoroso. Era uma coisa muito moderna, pra época. Um sabia do outro. Mas era tabu se comentar a respeito. A família toda sabia, mas era "boca de siri". Um dia, entre um papo e outro, eu perguntei: - Titia, o Alfonse morreu de quê? E Ela me respondeu, - Filho se eu te contar, você não vai acreditar...Eu nunca contei isso pra ninguém. - Eu, moleque curioso, perguntei de novo... - Morreu de que, titia? - Ela me contou. - Sabe filho, o Alfonse era um homem muito "fogoso". Ele morreu nos meus braços...(???). - Nós havíamos almoçado, (uma feijoada), e fomos para o apartamento dele. - E ele queria por que queria fazer amor comigo. - Eu disse pra ele: - Alfonse, está muito calor. Vamos descansar um pouquinho, depois fazemos amor. - Mas ele queria, por que queria...E fomos fazer amor..- Ele teve um piripaque, e morreu nos meus braços...- Imagine o meu sofrimento, eu ali, com o homem que eu amava, morto nos meus braços... - Foi terrível - Eu liguei pra família dele, e avisei que ele tinha morrido. - Para as outras pessoas, eu disse que ele estava descansando e morreu...- Sempre guardei isso no meu coração, mas estou contando pra você agora, meu sobrinho querido. Titia Aliz, veio morar aqui em Campinas, com minha mãe. Ela já estava velhinha. Eu tinha vindo visitar a minha mãe aqui. Mamãe pediu que eu ficasse com ela, por que ela (minha mãe), precisava pagar umas contas no centro, e eu fiquei cuidando da titia. Fiz um suco de laranja, levei pra ela, dei no canudinho. Apoiei ela nos meus braços.. Ela fez um barulho, um som estranho e morreu...Eu fiquei ali, aconchegado com ela, um tempão... Orei e entreguei ela nas mãos de Deus...Foi a primeira vez que alguém morreu nos meus braços... Mas foi uma morte, serena, tranquila...(Eu nunca tive coragem de contar isso à ninguém)... Mas acho que a tia Aliz, não ficaria brava, agora, por que eu guardei esse segredo por muitos anos. - Descanse em Paz, minha tia querida. - Vou amá-la enquanto viver